1812
- Venci Kate!
- Eu corro mais rápido do que você, boboca!
- Eu venci!
- Eu deixei você ganhar!
- Não deixou não, eu sou mais rápido que você.
- Então vamos novamente!
Quantas vezes aquela lembrança não se repassava em minha mente nas últimas vinte e quatro horas?
- Não torne tudo mais difícil, Kate. Você sabe como mamãe vai ficar se ver que você está chorando.
Limpei as lágrimas rapidamente para que não retornasse a ouvir as reclamações de mamãe.
- Venha, deixe eu arrumar seu cabelo e passar um pouco mais de pó.
- Obrigado.
Cateline se concentrou em meus fios rebeldes para que continuassem domados.
- As vezes queria ser uma camponesa.
- Não diga bobagens! Se mamãe escuta você falando algo assim... Você tem sorte sabia? Devia ser grata!
Suspirei cansada, aquela conversa não levaria a lugar algum, mesmo antes de nascer meu destino já estava traçado. Um tratado de paz entre dois lugares longes o suficiente para uma viagem, mas perto o suficiente para guerras. Talvez se eu fosse como minha irmã, tivesse sorte, mas para meu azar éramos o completo oposto.
Cateline, sendo três anos mais velha que eu, é parecida com mamãe. O mesmo cabelo loiro trigo ondulado e médio, os mesmos olhos azuis e o mesmo corpo escultural, aquele de causar inveja, e que poucas sortudas possuíam, coisa que não pertencia a mim.
Eu, a filha mais nova puxei a aparência de papai. Os mesmos cabelos castanhos rebeldes que somente com muita paciência e até um pouco de força eram domados. Os olhos um castanho escuro, que dependendo do dia podiam ser confundidos com pretos. A pele diferente de Cateline, era pálida, dependendo das luzes até mesmo translúcida. Meu corpo não era chamativo e nem mesmo bonito, as poucas curvas que possuía, fazia questão de esconder com os vestidos mais largos.
Mas algo que compensava é que como meu pai eu também sou inteligente, não tinha um livro em todo casarão que não lerá pelo menos duas vezes, e aprendia com rapidez qualquer coisa .
- Pronto. Agora está bem melhor, você não se sente feliz agora?
Feliz? Felicidade era exatamente o que não sentia desde três dias atrás, quando soube que teria que me afastar de Elijah, a notícia ainda doía e era de certa forma... Inaceitável.
- Claro.
- Meninas, estamos perto. Só mais duas horas.
- Ótimo! Mal posso esperar!
- Sem euforia Cateline, o marido é para sua irmã.
- Estou animada mesmo assim!
- Katherine? Espero que melhore essa cara por sí só. Não vai gostar se eu tiver que resolver isso, certo?
- Está bem, mamãe.
Charlotte, é uma mulher fria. O pouco carinho que tinha era mais direcionado a Cateline, do que a seu marido e sua outra filha. Sem paciência ou compreensão com quase ninguém, mas sabia fingir muito bem ser uma pessoa querida. Sinceramente... Ela me assusta, não se esforçando, como minha irmã, para me fazer sentir bem.
Assim que mamãe saiu, desabei na poltrona, isso era tanto... Irei me casar em menos de um mês, com alguém que nunca vi na vida, abandonei a pessoa que mais confiava e estava em um destino incerto.
- Kate, tente ser compreensiva. Tenho certeza que seu marido será uma ótima pessoa!
- Ela nem se importa com o fato de talvez nunca mais me ver ...
- Não é para tanto... Bom... Ainda podemos nos ver nas festas!
Forcei um sorriso e abracei minha irmã, talvez aguentei tanta coisa por poder me apoiar nela também, não o suficiente, mas era melhor que nada.
- Como você imagina seu marido?
- Não imagino.
- Ora! Deixe de pessimismo, Kate! Como ele é da realeza, tenho certeza que tem olhos claros!
- Eu não tenho olhos claros.
- Você puxou o papai. Ouvi dizer que eles moram em um castelo enorme.
- Castelo? Por favor, Cateline. Não vá dizer que acredita em tais bobagens.
Ela deu ombros e começou a escovar os cabelos novamente.
- A temperatura começou a cair, notou? Devemos estar perto!
Dei ombros e deitei para acalmar mais meu estômago.Algum tempo depois, o que me pareceu uma eternidade, mamãe entrou e anunciou que já estávamos a menos de dez minutos de meu destino. Senti um bolo no estômago e uma péssima dor na lateral da cabeça.
Hawthorne Lane, é um belo lugar, com ruas em pedras batidas, as casas num estilo colonial alemão, com inúmeras pessoas se movimentando, semelhante à um formigueiro.
À medida que íamos mais para o sul, mais a paisagem se modificava, e vastas cordilheiras de tomavam formas. Mamãe entrou na cabine, sem muita emoção anunciou que teríamos de continuar de charretes.
Segui minha irmã em completo silêncio enquanto subíamos e continuava à aproveitar a vista.
Quanto mais perto estava, mais a temperatura caía, mas não o suficiente para sentirem necessidade de colocar um casaco, o clima era temperado ao final do outono. Logo o inverno chegaria e como seria a vida de casada? O bolo em meu estômago se revoltou ainda mais.
Paramos em frente a um grande arco de pedra, como estava do lado oposto, não pude ver nada além disso. Ao descer percebi que um homem estava a nossa espera.O homem tinha por volta seus vinte e poucos anos, com uma beleza deslumbrante. Olhos azuis e o cabelo loiro escuro, a pele era um marfim bonito. Esse era meu marido?
- Espero que tenham feito uma boa viagem. - ele se virou para mim e estendeu a mão para um aperto amigável. - Sou Alec Campbell. Você deve ser Katherine Volkers.
Arfei em surpresa, e percebi que esperavam minha resposta. Me limitei a sorrir e após um olhar reprovador de minha mãe entramos no enorme castelo.
A sala é espaçosa, o piso era de carvalho escuro, havia três grandes sofás no local, e duas enormes poltronas perto da lareira. Uma mesa de descanso entre os dois sofás, candelabros, na parede, havia retratos e pinturas distintas, e por fim um piano um pouco afastado.
O lugar além de amplo era claro, as janelas grandes mostravam a vista do vilarejo abaixo e podia entrar sol. Ao redor da janelas, grossas cortinas de renda, que deveriam ser enfeites.
Cateline me olhou sorrindo enquanto nos sentamos no sofá.
- Pyter não irá demorar muito. Nós soubemos de madrugada de sua chegada. Como logo o frio chegará pensamos em fazer a cerimônia logo. Os ensaios começam amanhã e o casamento será em duas semanas. - disse Alec calmamente.
Senti meu coração pular pela boca, então meu casamento seria em duas semanas? Qual seria a chance de poder trazer ele para cá? O tempo estava contra mim.
- Isso é ótimo! Fico satisfeita em saber de tal fato, mas sem querer fazer alguma desfeita, terei que partir hoje mesmo. Deixarei minhas filhas e terei que voltar para cuidar de assuntos pessoais.
- Oh... Bem, será um prazer acolher a futura mulher de meu irmão e sua irmã em nossa casa. Estaremos de braços abertos para a sua volta.
Olhei para Cateline e encontrei um pouco de conforto em seus olhos. A promessa que fizemos a papai. Uma cuidaria da outra e sabia que mesmo longe se sofrêssemos qualquer agressão, casada ou não, iriamos ser imediatamente protegida.
- Alec? Querido, Pyter foi falar com o padre. Não se lembra?
- Oh! Que descuido o meu, isso é verdade. Queiram me desculpar.
A mulher parou diante nós e abriu um largo sorriso. Ela é tão bonita e com roupas tão lindas que me senti envergonhada.
-Ah que indelicadeza a minha, sou Julliet. Serei sua cunhada em breve. Muito prazer.
Sorri em resposta, estava com vergonha, mas isso não foi desculpa para minha mãe que me fuzilou com o olhar.
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RomanceSomos os únicos seres que somos capazes de compreender nossas necessidades através de sentimentos. Interpretamos a perda, a dor, a morte, a loucura e o amor. A humanidade é uma perda quando se trata de amar. Quando a trata de amor, há suas condiçõe...