Capítulo 12

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Como Ayua previu, a gravidez trouxe grande animação para o castelo, não que tivéssemos esquecido Julliet, já que o vazio ainda era nítido na expressão de Alec.
Com o fim da gestação chegando, tudo estava uma grande bagunça, não que me importasse muito, já que tudo o que podia fazer era escolher móveis e a cor de cada coisa. Pyter se dedicava cada vez mais para ser o melhor pai possível, Elijah não estava no castelo a pelo menos dois meses, já que meu marido o mandou cuidar das terras. Stefan e eu passávamos quase todo o tempo possível junto, não que fosse muito já que Pyter grudou em mim de forma irritante.
Como uma gravidez normal, meu ventre se expandia cada vez mais de forma que quem visse acreditasse que eu fosse explodir.
- Quer que eu passe mais creme em você?- Disse Pyter pela quarta vez naquela tarde.
- Não, obrigado.
- Como esta o bebê? -Ele passou a mão pela enorme barriga, com afeto e amor.
- Calmo.. Não se mexeu tanto hoje.
- Segundo a parteira, a lua muda hoje... Pode vir a qualquer momento, depois da mudança.
- Você já achou uma boa parteira?
- Sim, procurei por toda Hawthorne Lane, dizem que Meg é a melhor de todas, tendo sucesso em todos os partos que fez.
- Tanto faz... - bocejei tediosa. - Quero conhece-la.
- Quando?
- Agora. Se meu filho for nascer por ela, quero saber quem é.
- Vou providenciar isso imediatamente.
Não que não gostasse da companhia de Pyter, mas ultimamente ele me estressava com todo aquele zelo e carinho exessivo. Quando o vi saí do castelo, pela janela do quarto, me levantei o mais rápido possível para falar com Stefan.
A primavera estava em seu auge, deixando tudo numa paisagem bela, mesmo que não saísse tanto, é delicioso sentir a brisa batendo no rosto. Caminhava lentamente pelas árvores quando vi Stefan entre as árvores, com ar despreocupado e calmo.
- Dia bonito, não? - disse me aproximando.
- Oh... Olá, Katherine. Realmente o dia está magnífico, com essa brisa.
- Pyter se afastou para buscar a parteira, estou cansada. - suspirei baixinho.
- Parteira? Então a herdeira vai nascer, agora?
- Não, não... Mas a lua mudou, você sabe como seu irmão é.
- Ah, entendo... Gostaria de ir até um banco para conversar? Sei como isso deve pesar.
Sorri grata, mesmo pelo pouco tempo meus pés estavam doloridos, caminhamos lentamente até o riacho, conversando coisas aleatórias.
- Agora falta pouco tempo. Mesmo sendo uma superstição, grande parte dos bebes nascem na mudança de lua, por exemplo eu.
- Você nasceu na mudança de lua?
- Sim, pelo menos é o que mamãe falava.
Pyter raramente falava sobre os pais, principalmente de sua mãe. Toda vez que dizia algo, evitava e contornava o assunto.
- Não se espante, sou diferente de meus irmãos. Eu não temo falar sobre meus pais.
- Pyter nunca falou muito sobre... Também eu não fiquei tocando na ferida.
- É a cara dele... Bem, não que eu não aprecie sua companhia, mas não gostaria de ver meu irmão e você irritados, acho que está na hora de voltar.
Suspirei baixinho, Pyter nutria cada vez mais um ciúmes louco por mim.
- Está bem.
Caminhei ainda mais lenta do que o normal, querendo adiar ao máximo a conversa com meu marido.
- Katherine, onde você esteve?! Fiquei preocupado!
- Precisava de ar... Fui apenas caminhar.
- Com Stefan.
- Nos encontramos pelo acaso, meu irmão, não faça acusações sem fundações.
- Não foi a você que direcionei minhas dúvidas. Venha comigo, Katherine, a senhora lhe espera.
Dei ombros e o segui até uma pequena salinha que ficava ao leste do castelo, possuindo um grande lustre de cristal no teto, uma lareira grande e quatro poltronas grandes.
- Aqui está minha mulher, Meg.
- É um prazer lhe conhecer, minha filha.
A senhora sorria, sem dentes e assustadoramente. De forma alguma deixaria meu bebê nascer pelas mãos, daquela senhora assustadora.
- Obrigado por ter vindo, mas creio que seus trabalhos não serão necessários. Pode leva-la de volta, Pyter.
Me virei e saí caminhando sem me importar em me explicar para ninguém. Estava cansada de viver de falsidade, precisava falar com alguém que me entendesse, e já sabia exatamente quem seria.
- Posso entrar?
- Claro, você sempre é bem vinda aqui.
Sorri e fui me sentar na poltrona ao lado da cama, passando um pouco a mão na barriga.
- Pode saber quando o bebe vai nascer?
- Não, sinto muito. Mas sei que em breve ele vai vir.
- Ele?
Ayua deu ombros e sorriu brevemente, colocando a mão em minha barriga, fechando a cara logo em seguida.
- Não sei. Já escolheram nomes?
- Pyter está crédulo que será um menino, escolheu o nome Henry.
- E você?
- Não me importo muito. Para mim tanto faz.
Ela suspirou e abaixou a cabeça.
- Você não ama essa criança?
- Não. Eu gosto muito dela, mas não é amor.
- Você tem que ter cuidado, não anda saindo por aí?
- Só as vezes com Stefan.
- Se você sabe quem souber....
Cruzei as pernas despreocupada, de qualquer forma, Pyter não deixaria ninguém me fazer mal.
Continuei a conversar coisas sem importancia com Ayua por uma boa hora, partindo depois para a sala, ler um pouco.
- Olá, Katherine.
- Olá, Mira.
- Você está imensa, esse bebê deve chegar logo.
- A lua mudou. Você sabe como são as coisas.
- Sim, sim. - ela olhou as longas unhas e sorriu desafiadoramente. - Não sente a falta de Julliet? Esse castelo fica silencioso sem ela.
- É maldade o que você faz, sabia?
Mira levantou e veio até minha poltrona me encarando nos olhos com raiva.
- Por mim, isso só foi bom. A única coisa que me deixou desapontada, foi a tristeza de meu irmão. E se fosse sua morte também, me deixaria ainda mais feliz.
Senti lágrimas brotarem em meus olhos, e encarei com ódio a silhueta que se afastava. Se tivesse algum modo de acabar com Mira, pode ter certeza de que eu faria isso. Deixei minha mente vagar em formas de mata-lá e acabei caindo em um sono profundo.
- Katherine? - Abri os olhos e vi meu marido sorrindo para mim. - Não gostaria de ir para a cama?
- Não precisa, Pyter. - me espreguicei devagar. - Já estava na hora de acordar.
- Está com fome?
- Não, obrigado.
- O que foi aquilo, com a parteira?
- Não deixarei nosso bebê nascer por ela. Era assustadora.
- Mas disseram que era a melhor.
- Não me importa. Eu quero outra pessoa.
- Está bem. - ele suspirou. - Talvez precise me ausentar essa noite.
- Por que?
- Terras. Talvez ter mandado Elijah para longe não tenha sido uma boa ideia.
Claro que não foi, a falta que ele me faz e maior do que você possa imaginar!
- Mande-o voltar, não seria bom você sair essa hora.
- Tem razão... Vou escrever uma carta, mandarei alguém ir entregar.
Forcei um sorriso, deixando passar alguns momentos da saída de Pyter, para levantar e ir tomar um banho calmante, esfregando com calma cada cm de pele. Deixei meu corpo descer até só sobrar o nariz para fora da banheira, sentindo cada músculo se soltar. Amanhã seria um dia cheio, Pyter e eu faríamos a festa para a criança, dando boas vindas, mamãe, Cateline e talvez até papai viessem. Senti uma agitação crescer ao lembrar que Elijah voltaria amanha também.
- Calma, bebê. - disse passando a mão em meu ventre acariciando o bebê. - Eu não vou matar você.
Trocando carícias com meu ventre, imaginei como seria o rostinho daquela pessoinha que em habita, por fim acabei perdendo a noção de tempo, e a água estava completamente fria.
- Amanhã será um longo dia.
Não me importei em colocar algo de dormir, simplesmente deitei na cama e me cobri até a cabeça, deixando minha mente se apagar e logo cair na inconsciência.
Os primeiros raios de sol, irromperam o quarto e me tiraram de meu sono. Pyter não estava ao meu lado, não que eu me importasse muito.
Tomei um banho sem muita demora, não podia perder tempo, precisava terminar de organizar a recepção. Coloquei um belo vestido longo, com mangas curtas, verde e branco, com detalhes em preto, soltando o cabelo com uma fita branca e para completar tudo um colar com esmeraldas que Pyter havia me dado.
- Você está incrivelmente linda, meu amor.
- Obrigado, querido. Você também está incrível.
Pyter vestia um belo sobretudo azul escuro com detalhes em branco e preto e calças de veludo pretas, com botas marrons de montaria, talvez estivesse montando com Stefan mais cedo.
- Alguém já chegou?
- Algumas pessoas que eu chamei, mas nenhum sinal de sua mãe.
- Elas devem estar chegando, mamãe não tolerava atrasos.
- Ah, Katherine, você está tão bela. - ele passou os dedos magros e grandes por minha bochecha, acariciando. - Se não fosse essa barriga, faria amor com você agora mesmo.
Dei uma risada baixa, para disfarçar o quão desconfortável fiquei com o comentário.
- Os convidados devem estar chegando, vamos?
Sem esperar mais, me esvai por seus bracos e caminhei o mais rápido possível até o andar de baixo.
- Katherine! Que saudades, minha irmã!
- Cateline, quanto tempo!
Me joguei em seus braços o mais forte possível que aquela enorme barriga permitia.
- Que barrigão! Você está incrivelmente bela!
- Obrigado, minha irmã, você também não mudou nada.
- Meu sobrinho vai ser um bebê saudável, grande e lindo, como o pai.
Dependendo de qual fosse o pai, se bem que os dois eram extremamente bonitos.
- Sim, sim. Onde está mamãe?
- Foi ver algumas coisas com Elijah.
- Elijah está aqui?!
- Você não sabia? Ele chegou junto conosco..
- Que ótimo! Pyter havia o mandando para longe, estava com saudades.
- Kate, você é casada! Não pode ter saudades de ninguém, além de seu marido.
- Cateline, os tempos mudaram! Deixe-me.
Ela suspirou enquanto eu saía em direção ao portão de entrada e procurava por Elijah.
- Me procurando?
- Elijah?! Que saudades!
Abracei-o com toda a forca que eu tinha, mesmo com aquela enorme barriga dificultando o abraço.
- O bebê real, parece estar bem agitado.
- Sabe que esse filho pode ser seu também.
Ele deu ombros enquanto caminhavam os para dentro novamente.
- Encontrei sua mãe, ela não parecia estar de bom humor.
- Ela nunca está. - suspirei exausta. - Não queria dar essa festa, os tempos mudaram. Pyter insistiu tanto.
- Ele está incrivelmente feliz com esse bebê.
- Eu sei. Não para um minuto de perguntar sobre ele.
- Elijah, quanto tempo.
Cateline estava com cara de poucos amigos, usando um tom mais seco que o de mamãe.
- É bom te ver também, Cateline.
- Venha, Kate. Mamãe aguarda na sala.
Suspirei, olhei para Elijah pedindo ajuda, mas ele desviou o olhar e sorriu de forma que derretia meu coração.
- Depois nos falamos, Kate.
Resmunguei baixo e fui contragosto até a sala falar com mamãe.
- É muito bom, ver a senhora, depois de tanto tempo.
- Você está enorme. Esse bebê irá nascer muito em breve.
- É o que dizem, a lu mudou...
- Besteira. A criança nasce quando ela quer.
- Está bem, mamãe. Quer comer algo? Logo o almoço será servido.
- Não, obrigado. - ela levantou e foi caminhando até a saída. - Vou dar uma volta pelos jardins. Cateline, não precisa me seguir como um cão.
- Está bem, mamãe.
- Que humor. - disse irritada, sentando no sofá.
- Ela diz isso agora, mas na viagem estava preocupada com você.
- Sério? Mamãe? Ah, por favor.
- Dava para ver, acredite se quiser.
Dei ombros, Cateline viajava muito.
- Vou ver se outras pessoas vão vir, pode ficar a vontade.
- Obrigado.
Fui até o quarto de Ayua, precisava conversar com ela sobre o bebê, talvez assim conseguisse relaxar.
- Ayua, posso entrar?
- Pode.
Fui delicadamente até seu lado e me sentei como de costume.
- Está tendo uma festa lá embaixo, não é muito animada, talvez só um almoço, mas não gostaria de ir até lá?
- Não, obrigado. Veio aqui, falar sobre o bebê?
- Estou preocupada. Quando exatamente ele vai nascer?
- Quando for seu tempo, já disse que em breve ele vai vir.
- Sim, sim. - bocejei com tédio. - É que isso pesa bastante.
- Ouça bem, esse bebê vai ter que ser protegido. Cuide dele, muito bem.
- Ele é meu filho, vou cuidar dele. Além do mais Pyter é tão protetor que jamais deixaria algo acontecer ao bebê.
- Guarde bem essas palavras.
- Preciso ir, se Pyter não me achar lá, e capaz de fazer um estardalhaço.
- Boa sorte, Katherine.
Sorri grata, encostando delicadamente a porta ao sair.
- Katherine, onde esteve?
Pyter me surpreendeu assim que coloquei os pés no andar de baixo.
- Estava andando. Alguém mais chegou?
- O salão está cheio.
- Já estou indo.
Como Pyter disse, realmente havia bastante pessoas. Algumas que conhecia apenas de vista, outras que jamais havia visto, mas todos saudando o novo bebê a caminho.
- Parabéns pelo filho. - Dizia uma senhora, muito bem vestida. - Que venha com saúde.
- Muito obrigado, senhora Peshitta. - dizia Pyter me abraçando. - Tenho certeza que vira bem saudável.
Após duas horas, meus pés latejavam de dor, por estar de pé tanto tempo. Meu rosto doía por ter que forçar tanto o sorriso.
- Pyter, preciso sentar, meus pés doem.
- Tudo bem, o almoço logo será servido. Pode ir para a sala, as pessoas iram saudar lá.
Resmunguei baixinho em russo, para ninguém mais entender. Sentei-me colocando os pés o mais alto possível.
- Kate, quer que eu peça a algum criado MU escalda pé?
- Não, obrigado. Só precisava sentar.
- Sabe... Mamãe e eu ficamos sabendo sobre a morte no castelo, papai também soube e por pouco não veio até aqui levar você de volta.
- .... Foi realmente uma.... Tragédia.
Falar sobre Julliet ainda doía no fundo de minha alma, a culpa corrompia meu coração.
- Terrível, mas não sabemos direito do que morreu.
- Assassinato.
- Que horrível! Meu Deus, imagina que dor a de Alec, esse é o nome do marido, não é?
- Sim, ele ainda está arrasado, não vá tagarelar sobre isso.
- Não se preocupe, minha boca é um túmulo.
Claro que sim, um túmulo bem aberto.
- Papai vai vir?
- Não, mas mandou um presente por mamãe. Assim que acha-la, peça.
- Vou procurar, até depois.
Ela deu ombros e continou a foliar as páginas do jornal despreocupada.
Encontrei mamãe, andando pelo jardim, entre as rosas. Observei por alguns segundos suas feições, estavam suaves e mais relaxas, o que tornava seu rosto sereno e calmo.
- Pode se aproximar, Katherine. Eu não mordo.
Suspirei, talvez fosse apenas o rosto que fosse sereno, já estava acostumada a saber que seu coração era de pedra.
- Estava preocupada, você havia sumido.
- Sei bem me cuidar.
- Está bem. Cateline disse que papai mandou um presente.
- Não foi só seu pai.
- Obrigado, é o importante.
- Já tem nome?
- Pyter quer que seja Henryk caso seja homem, se for mulher... Julliet.
- A mulher que fôra assassinada.
- Era minha amiga, mamãe. Não fale assim.
Ela deu ombros e continuou a caminhada.
- Não de filhas a seu marido, seria uma maldição. Você precisa lhe dar fortes herdeiros, para sucessão do trono.
- Mamãe, os tempos mudaram, Pyter não se importa do bebê ser uma mulher.
- Não! Seria terrível o bebê ser menina, tire essa ideia tola de dar o nome de uma morta a um bebê.
Senti lágrimas brotarem, por seu tom ríspido, rodei os calcanhares e tomei o caminho de volta do castelo.
- Katherine, volte aqui.
- O que foi?
- Chame sua irmã. Vou embora, agora.
- Ótimo.

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