4. Today

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A única coisa em que eu conseguia pensar era correr o mais rápido possível. Antes que ele me encontrasse.

Nevava bastante, afinal, é véspera de Natal! Nunca houve uma noite do dia 24 de dezembro sequer que não nevou em Seattle desde que começaram a acompanhar o clima e essas coisas.

Devia estar uns mil graus abaixo de zero e mesmo assim eu estava ofegante e sentia meu corpo se aquecendo, quase suando.

Estou tentando fugir faz uns dez minutos, correndo sem parar, desviando de postes e hidrantes - que surgiram magicamente do nada só pra me atrapalhar - e entrando em becos e ruas estreitas. Toda vez que sinto que consegui despistá-lo, ele aparece correndo alguns metros atrás de mim.

Meus pés afundavam na camada espessa de neve e ficava cada vez mais difícil respirar, meu coração batendo forte no peito. Olhei para trás e não vi ninguém em meu encalço. Decidi que era hora de me esconder. Avistei um beco escuro e bem estreito, onde mal cabia uma pessoa. Corri até lá e demorei quase um minuto inteiro para recuperar o fôlego.

Durante quase cinco minutos tudo o que ouvi foi o som do vento soprando forte o suficiente para balançar meus cabelos. Ajeitei minha touca e coloquei a cabeça para fora do beco, espiando a rua ao redor. Quando voltei para a posição anterior uma mão cobriu minha boca me impedindo de gritar de susto quando o vi.

- Bu. – sussurrou e tirou a mão de mim.

- Que droga! Como você conseguiu? – tentei cruzar os braços demonstrando desapontamento mas o beco era muito estreito, nossos corpos estavam colados.

- Eu tenho meus truques – riu – E  tem vários desvios e ruas que encurtam o caminho. É fácil.

- Perdão se eu não sou um mapa ambulante.

- Eu posso te ensinar, caso queira. – colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e acariciou minha bochecha, chegando o rosto perigosamente perto do meu.

- Oh meu Deus! – exclamei e pousei minhas mãos enluvadas em seus ombros.

- Qual o problema? – indagou confuso.

- Nick! Estamos atrasados para a ceia! – olhei para o pulso e fingi olhar as horas (sendo que eu nem tenho um relógio), já saindo e tomando o caminho de casa.

- Ah, é verdade. – disse desapontado.

- Quem sabe no próximo Natal nós possamos... eu possa... aprender mais sobre as ruas daqui.

- Esperarei ansiosamente pelo próximo Natal. – ele respondeu mas eu não tenho tanta certeza qual era o real motivo de "esperar ansiosamente pelo próximo Natal".

É hoje. Mas. Que. Droga. Eu não sei o que pensar ou o que dizer. Sinto meus neurônios entrando em curto circuito de tanto pensar.

A coisa toda virou uma bola de neve. A faculdade, o trabalho, meu irmão petulante, minha mãe melosa e me enchendo mais o saco do que de costume, meu pai guardando o controle da TV na geladeira e ele. Não podia ser pior. Não consigo me concentrar na hora das aulas, não consigo mais estudar em casa. As provas estão chegando e junto com isso já prevejo as notas baixas. Eu ando tão desligada que ontem derrubei todos os livros de uma estante na biblioteca porque simplesmente não a vi.

E além de várias outras coisas que aconteceram envolvendo tudo que citei anteriormente, a pior de todas: é hoje. E não, hoje eu não tenho uma proposta pra gente se embolar e perder a linha a noite toda (isso não foi engraçado).

Only Mine - Nick RobinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora