8. Draw me

895 46 18
                                    

Meus olhos observavam atentamente o ponteiro grande do relógio. Só mais sete minutos e eu poderia ir embora.

Nick mexia no meu cabelo, deixando bem claro para a professora de literatura que ele não dava a mínima para o que ela dizia. Eu podia imaginar as tranças malucas que ele já havia feito. Revezando entre passar os dedos pelo meu couro cabeludo e enrolar algumas mechas. Desse jeito era bem difícil me manter acordada.

Ela tagarelava algo sobre... Shakespeare? Eu não tinha certeza. Parei de prestar atenção quando ela entrou na sala e disse para abrirmos os livros.

Eu viajava entre ela e o relógio. Sempre a encarando mas nunca a ouvindo.

A cicatriz branca em sua testa me lembrou a de Nick. Que, basicamente, eu fui a culpada por ela existir. Uns três dias atrás entramos no parque do centro de Seattle perto das cinco da tarde, quando ele era fechado. Acabamos ficando presos lá. Ele me ajudou a escalar a cerca e acabou se machucando em um pedaço solto de arame. O corte não foi muito profundo, mas rasgou o casaco, a camisa e sua pele. Sangrou de uma maneira tão absurda que eu não sabia se tinha um ataque de pânico ou se o ajudava a estancar. No fim das contas ele foi ao hospital para dar pontos no ferimento e eu para dar um jeito na minha pressão que estava inimaginavelmente baixa.

Senti um cutucão no ombro e estendi a mão, ainda olhando pra frente, fingindo prestar atenção no que a professora dizia. Nick colocou um papelzinho meticulosamente dobrado na minha mão e eu a fechei, trazendo de encontro ao meu colo.

O que ele queria agora? Contar uma piadinha pra me fazer rir e ser posta para fora da sala?

"Minha casa depois da aula?"

Não era nem necessária uma identificação. A caligrafia perfeita, quase desenhada, já denunciava seu dono.

Dei uma olhadinha pra trás e sorri pra ele.

Sim. Sim. Óbvio. Com certeza! Era o que eu responderia se pudesse falar algo.

Guardei o papel no meu estojo e o fechei. Só mais uns segundinhos e...

O sinal bateu e todos se levantaram, ignorando o que a professora dizia sobre a tarefa de casa. Coitada, mas ela é realmente chata, devagar e velha e faz com que todos queiram comer minhocas ao invés de estar em suas aulas. Aposto que se colocassem alguém em uma sala com ela falando sem parar e a única maneira de sair fosse encontrando a cura para o câncer, a doença já não seria mais um problema para a sociedade. Se me trancassem numa sala com ela eu acho que comeria até meu próprio braço.

Quase toda a turma já havia saído da sala enquanto eu guardava minha coisas.

– Vamos? – Nick disse como fazia todos os dias.

– Ah, é que... – eu fechava minha bolsa enquanto Tom veio ao meu encontro.

– Vamos? – ele disse.

– Sim. Claro – me levantei e ajeitei a alça sobre meu ombro – Nick, eu vou pra casa do Tom. A gente vai... fazer a lição. E tomar suco. E – falei meio nervosa – ouvir... umas músicas?

Tom balançou a cabeça enquanto Nicholas nos encarou por uns segundos.

Ele podia ser meu melhor amigo mas eu sempre me sentia desconfortável com ele em relação a outros garotos.

– Tudo bem – ele deu um sorrisinho – Outro dia a gente assiste aquela série.

– Claro que sim! Com certeza – disse fingindo animação – Depois a gente se fala.

Only Mine - Nick RobinsonOnde histórias criam vida. Descubra agora