Sobre o Capuz

Santos Patriotas

O som estridente da chaleira corta o silêncio do ambiente, as luzes instaladas no pequeno Jardim de inverno atravessam a vidraça e iluminam o perfil do velho que prepara calmamente um chá, ele pega uma xícara Rosa e a apoia sobre o balcão da cozinha ao estilo americano, ao fundo a luz da televisão cria um ambiente agradável e aconchegante, o homem pega uma bandeja de madeira e sobre ela apoia o chá e alguns biscoitos de mel, levou-os até a mesinha de vidro no centro da sala de estar e se sentou com os pés esticados sobre o vidro.

Mergulhado nos protestos do apresentador do telejornal e nas propagandas fúteis ele se satisfazia rindo com ironia do mundo que o cercava, em dado momento o velhote pegou sua xícara e leu os dizeres " De sua neta predileta para meu avô favorito", lembrou-se de sua única neta e da última vez que ele a viu, deu um sorriso amistoso e voltou a encarar a televisão.

De repente uma batida seca e forte atingiu a porta arrombando-a, o senhor se levantou assustado e encarou a porta de longe, a luz do luar revelava detalhes de uma silhueta estranha, um homem todo de Preto, usando uma máscara de esqui e armado com seus punhos adentrou a sala vagarosamente, o idoso respirou fundo, cerrou os punhos e pensou em uma frase edificante para se fortalecer, mas sua mente já não pensava como antigamente, então ele simplesmente relaxou o corpo, olhou para a mesa de centrou, travou o olhar na pesada bandeja de madeira, então pegou a peça derrubando a xícara e os biscoitos pela sala e jogou-a na cabeça do invasor, mas o estranho era ágil e com um golpe rápido jogou a bandeja longe, depois deu soco na rosto do velho e completou com um soco ainda mais forte em seu pescoço.

O homem sangrou imediatamente, mas ainda podia lutar, em vão deu socos no ar tentando acertar o rosto do meliante que com destreza se desviava, o invasor pegou o braço do velho e lhe deu um soco no baço e depois outro nas costelas, seus ossos estalaram e o senhor deu um grito de dor, mas logo foi interrompido por um soco no estômago e mais um em seu rosto, o agressor deu vários socos alternados na barriga do velho e encerrou com um gancho derrubando-o sobre a mesa de vidro que se fez em pedaços minúsculos que penetravam na carne da vítima, o idoso sangrava muito e mau se mexia, mas ele não desistia, abriu os olhos vagarosamente e tentou respirar sobre a sombra da figura sinistra, mas se afogava no próprio sangue, ele olhou para o presente de sua neta e contemplou o tempo que lhe restava.

O estranho o pegou pelo colarinho e o carregou como se fosse uma criança, depois jogou o idoso com força para longe fazendo com que ele batesse o rosto no balcão de mármore, o velho não reagiu, apenas esperou seu fim, seu sangue escorria no chão de tal forma que já era possível ver seu reflexo no líquido vermelho, o velho sentia dor e ficava hipnotizado pelo seu reflexo deformado, mas seus pensamentos foram interrompidos por mais um soco do invasor que o pegou pelos cabelos e colocou sua cabeça em cima do mármore e deu um golpe com muita força pressionando a cabeça da vítima contra o balcão, um forte estalo ecou pela sala e o seu corpo soltou um espasmo imediato, o homem foi ao chão e seu corpo aos poucos começou a desfalecer.

O agressor parou, olhou para a vidraça do Jardim de inverno e pensou por alguns instantes, o homem pegou mais uma vez no colarinho do velho que agora já não se mexia mais, deu alguns passos carregando-o com dificuldade, então o levantou a altura da cabeça e o jogou na vidraça que se fez em milhões de pedaços que penetraram nas costas do senhor, o sangue de sua cabeça inundou o chão de mármore branco, as plantas exóticas contemplavam o cenário de violência como se quisessem participar daquela sequência, o velho abriu com muito esforço seus olhos mas logo os fechou, tudo havia acabado, sua dor, seus sofrimento, sua esperança, suas lembranças.

O invasor se virou, andou em direção a porta sem olhar para trás e foi embora para nunca mais voltar.