Os esquecidos

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Três pessoas cercavam a vitrine de uma loja de eletrônicos onde TVs exibiam em sincronia uma edição especial do jornal matutino, outros curiosos também se juntam a pequena multidão mas muitos deles ignoram o jornal e vão embora, outros preferem sacar seus celulares e acessar seus Facebooks onde poderiam acompanhar melhor a situação, após um dia no necrotério o corpo do General passeava pelas ruas da cidade sendo escoltado por policiais e militares em geral, além de é claro alguns poucos curiosos que se entusiasmaram com a narração dos jornais, ninguém se lembra daquele homem mas todos se tornam fãs de seus feitos depois que a cortina se fecha, se há algo para se lamentar é a hipocrisia do povo que saúda o caído, idolatra o inútil e rejeita o herói.

O comboio seguia apela avenida em direção ao cemitério da Nossa Senhora das Lamentações onde são enterrados personalidades de grande importância para a sociedade, em outras palavras lá se encontram enterrados muitos famosos, artistas e um ou dois ex-presidentes.

Hoje mais pessoas importantes se juraram ao local, não para serem enterradas mas para idolatrar um defunto, os homens usavam camisas sociais, gravatas e um ou dois ternos, já as mulheres usavam vestidos simples e discretos pois não era uma ocasião para extravagâncias, eles ainda mantinham o mínimo de respeito mesmo que aquele homem não lhes fosse mais útil.

Na porta do cemitério milhares de repórteres se aglomeravam nos cordões de isolamento e pressionavam o "corredor" por onde passava o comboio. Em meio a tudo aquilo um homem se destacava da multidão, próximo à cova e rodeado de olhares desconfiados Daniel e sua secretária encaravam a terra escura molhada pela fina garoa que os recebia.

- Cancele meus compromissos de hoje, e manda no Twitter que eu não vou sair. - disse Daniel em voz baixa para a sua secretária.

- Tem certeza senhor?

- Total!

- Muito bem... Eu vou voltar para o carro, o 3G não está pegando bem!

- Antes... Pode me responder uma coisa?

- Sim, se o senhor prometer não me demitir. - a garota deu uma leve risada mas se calou ao ver que seu chefe continuava com o olhar serio. - Me desculpe senhor.

- Sabe quando todo mundo olha pra você com desprezo, quando você se sente acuado por qualquer coisa, quando você não quer encarar as pessoas nos olhos... Como isso se chama?

- Culpa senhor, se chama culpa... Ou  vergonha, o senhor nunca sentiu isso?

- Não... Obrigado ajudou muito, tire a noite de folga.

A garota se foi com um leve sorriso no rosto, Daniel tirou de seu bolso uma pequena medalha, feita por ele mesmo sob encomenda a medalha carregava um desenho da bandeira nacional perfeitamente talhada e enfeitada a ouro, ele a apertou forte e contemplou o caixão sendo colocado na cova, enquanto todos velavam o corpo ali fechado o vigilante apenas observava inerte, ele apenas esperou até que então só sobrassem um ou dois conhecidos e o coveiro. Colocou a medalha em seu peito e bateu continência como última homenagem, tomou de grande fôlego e proferiu sua última prosa com o morto.

- Descanse em paz General, espero que você não seja esquecido e que a morte de homens bons como você não se torne apenas motivo para vergonha... Mas também motivo de mudaça e de quem sabe um futuro melhor.

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⏰ Última atualização: Jul 10, 2016 ⏰

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