Aquele que não está mais entre nós

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As luzes azuis e vermelhas oscilavam nas paredes da casa que há poucos minutos havia sido cenário de uma barbárie, o sangue se espalhava no chão que ficava cada vez mais sujo por causa dos policiais distraídos que pisavam nas poças, um detetive entrou no local, usava um casaco marrom e pesado e olhava incomodado para três policiais que se reuniam em volta da mesa estilhaçada e conversavam sobre futebol.

-Saiam daqui seus bastardos! Estão contaminando a cena do crime- disse ele bufando raivoso

-Calma, se acalmem por favor- disse outro detetive ao lado do corpo- Por favor senhores, ele está certo e eu preciso que vocês saiam daí!Joe venha aqui por favor

-Quanta incompetência!

-É eu sei, mas não podemos reclamar... Homem com cerca de 60 anos, caucasiano, agredido até a morte, causa da morte ainda desconhecida mas provavelmente foi causada por um traumatismo craniano.

-Eu acho que foi por causa do sangramento, mas em fim, temos alguma pista?

-Eu estava vendo a ficha preliminar e não havia encontrado nada de mais- Ambos saíram do Jardim de inverno e se dirigiram até o fundo da sala onde havia um armário- Até que eu vi isso- as luzes se acenderam e revelaram dentro do armário um manequim com uma farda militar, a sua volta nas paredes do armário várias medalhas, pequenos retratos, troféus e outros prêmios estavam apoiados por pequenas estantes

-Ele era policial?

-Não.

- Militar, general?

-Não, era um herói, General Vonbraw- o detetive tirou uma foto de sua pasta uma foto onde a vítima com alguns anos a menos fazia uma pose canastrona que por maus olhos poderia ser interpretada como nazista

-Dos anos de chumbo?

-Sim, ele mesmo

-Olaff, estamos ferrados! Imagine quantos milhões de suspeitos nós temos agora?!

-Se você vê assim... - disse Olaff balançando a cabeça desconfiado- Eu acredito que assim sabemos exatamente a quem procurar.

-Que som é esse?

- É a televisão.

-Sério?! Eu não acredito que eles ligaram a TV!

-Não não, ela já estava ligada! Sabe, eu acho que os generais que estavam no poder na época podem ser um bom começo, mas eles estão todos ou velhos ou mortos sendo assim seriam incapazes de fazer isso com as próprias mãos- Olaff olhou para seu colega e viu que ele estava hipnotizado pelo telejornal- Você está bem?

-Oi... Sim, me desculpe... Sabe, eu acho que ele tem alguma coisa haver com isso

-Ele quem?

-Ele, o Patriota!

Na tela, imagens de desordem e de confusão dividiam espaço com a imagem de um homem mascarado, usava uma camisa branca sem estampa e uma bandana de caveira para cobrir o rosto, em suas costas havia o que parecia ser um rifle de caça, e abaixo a legenda dizia: "confusão em protesto pode ter sido causada por meliante conhecido".

-Impossível!

-Como pode ter tanta certeza?

-Por que estas imagens são ao vivo.

Do outro lado da cidade, perto da praia, uma multidão agia de forma desordenada e confusa, bandeiras e cartazes com frases de efeito e de protesto se misturavam a pessoas que tentando fugir tropeçavam uns nos outros e acabavam sendo pisoteadas por terceiros. Em meio aquilo tudo um revólver girava no chão, pronto para atirar mas completamente carregado, ao seu lado um corpo que não havia sido vítima da desordem mas sim de um tiro direto no peito, mais ao longe, sentado em um muro, contemplado aquela cena de desastre e desespero, o Patriota, ou pelo menos é assim que o chamam, em suas costas um rifle de caça ainda solta uma leve fumaça e em suas mãos apenas por precaução havia uma pistola carregada, ao longe ouve-se os tiros e os estouros das bombas de efeito moral, calmo mas rápido o homem desceu do muro pousando suavemente sobre o gramado do condomínio, jogou sua arma sobre uma Bandeira Nacional que estava esticada na grama, enrolou a Bandeira cobrindo sua arma e depois quando tinha um rolo de tecido colocou sua pistola em uma das extremidades do tubo, carregando o pano em seus braços saiu a Passos rápidos e o mais escondido o possível para que não fosse notado pelos moradores do prédio, pulou o muro tomando cuidado para não levar um choque na cerca elétrica e já do lado de fora saiu andando com passos rápidos e levando em seu ombro a Bandeira, a rua estava vazia pois não haviam acessos possíveis para as outras pessoas que que estavam presas no protesto, por isso o Patriota estava mergulhado em seus pensamentos e distraído não percebeu que estava sendo seguido.

- Parado!- disse uma voz imponente, o Patriota se virou devagar mas sem se render

-Como?

-Eu disse parado!- era um policial, armado apenas com uma pistola e com uma capacete de proteção contra projéteis- Parado, você está sendo preso, espero não ter que usar a força

O Patriota fez um sinal de descaso com a mão e continuou seguindo em frente

- Eu disse parado- o policial não estremecia a voz

-Realmente você prestou atenção no treinamento... Não tirou, manteu a calma e seguiu o protocolo, é um bom soldado mas eu não quero ser preso hoje!

-Foi você que disparou não foi?

-Sim- o Patriota bufou- Eu atirei, e faria de novo se fosse necessário.

- Podia ter acertado alguém!

-Um deles tinha uma arma, aposto que haviam outras escondidas por lá.

-Teríamos dado conta disso.

-Sério mesmo? Mesmo se tivessem levado um tiro direto de um deles?

O político engoliu seco e tentou formular um argumento, mas não conseguiu.

- Agora é a sua vez, o que você está fazendo aqui?

-Contrariando ordens, agora para a parede.

O homem sacou de seu bolso as algemas e ainda com a arma em punho tentou dominar o Patriota, mas antes que ele pudesse se aproximar mais o vigilante apontou a Bandeira para o policial e sem dizer mais nada disparou, o som do tiro ecoou pelo ar e se misturou aos gritos dos protestantes, o policial caiu de joelhos por causa do impacto do tiro em seu colete, ele procurou por um ferimento e vendo que ele era inexistente apontou a arma para o meliante que rapidamente se distanciava, mas ele hesitou, seu punho tremeu e lhe faltou ar, além do mais o Patriota tinha um rifle e de todo não estava errado.

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