Capítulo 12

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POV Angel

Meu corpo tremia tanto que ficava difícil gritar ou sentir qualquer coisa que não fosse frio. A tempestade estava horrível, a água batia com tanta força em meu rosto que o ato de abrir os olhos tornava-se uma coisa complicada. O frio gelava meus ossos e tudo o que eu conseguia pensar era onde foi que errei e de onde surgiu tanto pecado pra pagar, pois, nada na minha vida era bom, nem Harry, aquele garoto que animou meus dias difíceis em casa e que agora os tornava insuportáveis.

Eu perdi a noção do tempo e não sei se fazem minutos ou horas que estou aqui, não sei dizer se é dia ou noite, apenas sei que meu corpo não vai aguentar muito mais sofrimento. Eu não aguento mais ficar em pé, não aguento mais ficar na mesma posição, meu corpo dói, as cãibras chegam e tudo o que consigo fazer é chorar desesperadamente e rezar para que isso acabe.

Desisto de lutar contra meu cansaço, fazendo com que meu corpo caia sobre mim mesma e a corda me segure firme contra a árvore. Sinto meus braços e minha barriga sendo cortados pela corda, e, a água caindo em cima só torna a dor pior. Fecho meus olhos e absorvo cada grama de sofrimento, me acostumando, pois, ao que parece, é só isso que irei receber até que minha vida tenha fim, até que eu morra em algum momento ou melhor, que eu mesma acabe com ela.

Apesar de todos os meus problemas, nunca fui uma pessoa negativa ou que pensasse no pior, nunca pensei em tirar minha vida ou fazer mal a mim mesma, achava que ter meu pai e meu irmão fazendo isso comigo já eram suficientes, e, pior ainda, achava que Harry era a única coisa boa que aconteceu em minha vida, mas, afinal, eu estava enganada.

Apesar de todas as coisas ruins que ele faz comigo, seu toque me deixa bamba e me faz pertencer a ele, sem muito esforço ou sem muitos motivos, é algo irracional e totalmente físico, quase como se meu corpo gostasse mais de seu toque do que de seu próprio bem estar. A única coisa que me lembro antes de apagar totalmente, é de Harry vindo em minha direção, depois, tudo escurece e o alivio percorre meu corpo.

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Abro meus olhos e salto da cama como se estivesse deitada em brasas, movimento esse que me arrependo assim que sinto meu corpo doer por inteiro, como se tivesse sido atropelada por um caminhão. Estou deitada em uma cama que não me recordo, em um quarto completamente estranho pra mim e o pânico me invade, tão conhecido como um velho amigo.

Olho para meu corpo e percebo que visto apenas uma camiseta enorme e começo a procurar em minha mente em que momento minhas roupas foram trocadas, procura essa obviamente sem sucesso. Meus braços me fazem querer chorar ao ver cortes queimados em carne viva, como se tivessem esfregado neles algo que os corroesse e os deixassem com uma aparência assustadora.

Minhas pernas, barriga e seios possuíam esses mesmos cortes, lembrando-me do terror que vivi noite passada, presa em um tronco de árvore enquanto uma tempestade terrível caia sobre mim e Harry ria, assistindo meu desespero como se fosse algum filme de comédia. Tento levantar-me e também não tenho sucesso, pois, assim que forço minhas pernas no chão, tremores violentos me fazem cair. Não consigo respirar pelo nariz e cada célula do meu corpo arde, como que protestando pelos meus movimentos.

A porta se abre e um Harry bem disposto e sorridente entra por ela trazendo uma bandeja de comida. Meu estômago ronca acusando minha fome, mas, eu me recuso a comer. Eu o odeio e odeio qualquer coisa que ele faça, pois, ele está assim feliz por me ver sofrer, ele é mais doente que eu. Não merece todo amor que dediquei a ele secretamente durante anos, aliás, Harry não merece nada de bom de ninguém.

Conforme ele se aproxima, luto contra dor e a tremedeira que sinto e me arrasto pelo chão, tentando me afastar dele. Seu semblante muda de feliz para carrancudo, quase como se uma criança mal educada estivesse aprontando novamente. Ele provavelmente me acha retardada pelo meu problema, mas, mal sabe ele que o sofrimento muda as pessoas e talvez me ajude a ficar menos doente, menos doente que ele.

Vejo-o deixar a bandeja na mesa de cabeceira e vir em minha direção, porém, já encostada na parede e sem força nenhuma no corpo, não vejo como me defender de qualquer toque que venha dele. Em silêncio e com uma expressão que transmitia impaciência e confusão, Sinto seu toque em minha pele e meu corpo todo se arrepia, traindo minha mente que grita para que eu fique longe dele. Sinto vontade de chorar por ser tão idiota a ponto de me sentir assim pelo toque de quem tanto quer me torturar.

- Se resistir, fica pior - Harry me diz suavemente, suave até demais. Prefiro continuar em silêncio, ele não vale a minha voz.

Ele pega meu corpo com muito cuidado e coloca em cima da cama novamente, aproxima seu rosto do meu calmamente e nossos lábios se tocam, num selinho casto. Fico com ódio de mim mesma por não virar a cara, não me afastar, não tomar nenhuma atitude para preservar o meu corpo, fugir das torturas que sei que esse belo rosto angelical me olhando planeja pra mim.

Suas mãos passam em cima dos meus ferimentos delicadamente, como se estivesse arrependido do que fez, seu rosto transmite nojo e ele parece perturbado ao ver meus membros em carne viva. Meu corpo é assaltado por um tremor incontrolável e o medo dele voltar a me machucar de qualquer maneira me faz perder o ar. Fecho os olhos pra não ver seu teatro e não cair nesse fingimento de remorso.

- Não tenha medo de mim, não quero te fazer mal Angel, eu apenas... eu não sei - ele diz e sua voz carrega incerteza.

Não me atrevo a abrir os olhos pois sei que sou covarde, sei que não vou resistir, sei que vou acreditar nele e acabar caindo do penhasco de novo, penhasco esse que contornei durante anos amando alguém que na primeira oportunidade que teve me jogou dele, e isso, além de horrível em vários níveis, é desesperador.

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Postei rápido viram? Vou tentar postar mais 1 essa semana, comentem muito!

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