POV Angel
Sinto que estou acordada, minha consciência está voltando, porém, não me sinto forte o suficiente para abrir os olhos. Nunca senti tanta dor no meu corpo quanto estou sentindo hoje, porém, maior que isso está a dor da alma. Não é justo ELE me machucar tanto, ou é?
Não tenho experiência em relacionamentos, e nem acho que Harry e eu estamos num relacionamento, seja lá o que isso signifique, mas, acho que não é normal alguém machucar tanto o outro sem motivo algum. Eu só quero ir pra casa, onde eu podia me esconder no banheiro e ficar lá até que meu pai fosse embora.
Harry era a única parte boa da minha vida, do meu dia, da minha realidade. Agora, vejo que me iludi, me apaixonei pela ideia que eu tinha na minha mente de como Harry era, e não, de fato, como ele realmente é. Eu achava que eu era a doente da relação, porém, percebi que sou uma das mais normais, se comparar com as atitudes tomadas pelo rapaz. Quem o olha de fora, jamais imagina a quantidade de maldade que ele é capaz de cometer.
Ok, eu não sei escrever, apenas desenhar, coisa que não faço a alguns dias e que, para mim, já parecem anos... além de não gostar de interagir com as pessoas e preferir o meu mundo, porém, eu não faço mal a ninguém, não maltrato ninguém e não sequestro ninguém. Eu apenas quero voltar ao passado e fingir que nenhuma destas coisas horríveis e sem sentido aconteceram.
Abro meus olhos e encontro tudo escuro. Estou deitada em cima de um colchão. O cheiro aqui é estranho, o ar é úmido e embolorado, quase como se eu estivesse em algum lugar fechado a muito tempo. A única luz que entra é por uma fresta no teto, que mais parece ser uma porta dupla. Franzo a testa ao perceber que me encontro em um porão.
Minha roupa está rasgada, minhas pernas sujas de sangue e os machucados pela corda estão amarelados. O desespero bate como uma onde em mim ao perceber que Harry muito provavelmente foi embora e me largou pra morrer aqui. Sento-me no colchão e olho em volta, observando o local mais detalhadamente. As paredes estão pretas de infiltração, e, nesse escuro não consigo distinguir se são de madeira ou concreto. Baratas andam por todos os lugares onde passo o olho e começo a tremer só de imaginar morrer com elas pelo meu corpo. Há madeiras velhas jogadas por alguns lugares e um cadáver de animal espreita do canto mais longe de mim.
O colchão onde estou deitada está velho e sujo, com um cheiro estranhamente ruim saindo dele. Não há nenhum lugar onde eu consiga beber água ou onde eu consiga comida. O ar além de úmido, também é escasso. Não há uma escada ou qualquer tipo de coisa que me ajude a subir até a porta. O lugar é horripilante e faz com que eu sinta vontade de morrer.
Eu preferia continuar naquela rotina cansativa com meu pai do que presa num lugar horroroso pelo amor da minha vida. O que diria ou pensaria minha mãe se me visse agora? Será que eu nasci justamente pra isso, ser presa e abusada como um animal indefeso? Deus não pode ser tão cruel comigo.
O tempo passa e eu estou ficando cada vez mais desesperada, cada vez mais agoniada, eu preciso sair daqui de qualquer jeito, minha boca está seca e meu estomago implora por um pouco de alimento. Levanto-me do colchão e começo a andar de um lado pro outro afim de não ficar mais parada. Minhas mãos vão até a minha cabeça e eu puxo meus cabelos com força, como se aliviasse um pouco a tensão que invade meu corpo com mais força a cada segundo.
Não há mais uma única luz entrando por lado nenhum, o que me faz pensar que talvez seja noite. De repente, um barulho chama minha atenção e a porta no teto se abre. Um saco é jogado de lá de cima e uma garrafa d'água. Tento ver quem jogou as coisas pra dentro, se foi Harry ou algum amigo dele, porém, tudo fica escuro e fechado novamente. Ando com passos vagarosos até o saco de papel e abro-o, apenas encontrando um pedaço de pão seco. pego a garrafa ao lado e nela tem água, porém, assim que abro a garrafa percebo que ela provavelmente está suja, uma vez que seu cheiro é horrível.
Sento-me no chão, sentindo coisas andarem na minha perna, porém, sem me importar, começo a mastigar o pão como se fosse o alimento mais gostoso do mundo. Os farelos grudam na minha boca devido a secura do alimento e a falta de saliva em minha boca, já que não bebo água a um bom tempo.Finalmente acabo por beber o conteúdo da garrafinha. A água tem um gosto horrível, porém, no desespero, não me importo com isso e tomo todo conteúdo de uma vez. Após acalmar meu estomago com as poucas coisas consumidas, começo a procurar uma saída.
Talvez morrer seja uma boa solução, assim acaba de uma vez com todos os abusos que venho sofrendo desde... sempre. Eu apenas não aguento mais, não consigo mais viver assim. Com as mãos a frente do meu corpo, ando pelo quarto todo a procura de algo que possa acabar com a minha vida, algo que me ajude a finalmente sumir desse mundo e não ter mais que aguentar qualquer tipo de sofrimento.
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Crush
Misteri / ThrillerAngel uma menina inocente, abusada pelo pai e pelo irmão após a morte da mãe. Harry é um garoto doente, sádico e com sérios problemas de raiva. Ao sequestrar sua vizinha com a desculpa de salva-la, encontra um desafeto passado querendo vingança. ...