Capítulo 11

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POV Harry

Angel já estava dormindo a horas, a frase escrita em sua coxa estava roxa e em alto relevo, quase como se uma inflamação estivesse a chegar. Eu sei como Angel se sente, sei o que as pessoas sentem quando sofrem.

Parece que você nunca é suficiente, nunca nada está bom e, a cada tentativa, aparece um novo fracasso pra te atormentar. Angel não era um fracasso, ela me fazia sentir melhor quando tudo estava uma merda.

Não posso deixar de relembrar sua expressão de dor ao sentir a caneta queimando sua pele. O que senti foi um prazer quase sexual, como se, cada lágrima que a pequena garota soltasse fosse um beijo na minha boca. Agora que penso nisso, minha vontade é de abraça-la e pedir desculpa, mas, não posso fazer isso. Sendo honesto comigo mesmo, seria uma grande hipocrisia pedir desculpa por algo que vou fazer de novo.

Sinto meu celular vibrar e vejo que é minha mãe ligando, então, por um impulso bem planejado por dias, desligo-o. Pego o aparelho e me levanto, dando impulso e jogando o mesmo no mar. Não quero voltar pra casa, não quero ter que dividir Angel com nenhuma outra pessoa. Enquanto ela dorme, começo a juntar tudo e guardar no carro. Peguei comida para muito tempo, tirei tudo que minha mãe juntou anos e anos numa poupança pra minha faculdade antes da viagem e inventei essa desculpa de mostrar pra ela o mar. A única coisa não planejada é encontrar um lugar para ficar.

Depois de tudo guardado, faltando apenas angel e a barraca, decido levar a garota no colo pro carro. Com cuidado, ajeito seu corpo nos bancos de trás do carro e fecho a porta. Desmonto a barraca e a guardo também. Entro no carro e sigo viagem, sem rumo e sem saber onde ir. Só quero fugir da realidade, ser livre de toda aquela vida perfeita que tanto me incomoda, e, principalmente, daquele pai doente que Angel tem. Parece até ironia EU chamar o pai dela de doente. Depois de passar horas no volante, passando por apenas mato e árvores, uma cabana surge no meio da estrada. Feita de madeira, a cabana rapidamente ganha minha aprovação. O gramado é bem verde, a madeira marrom desgastada dá um de terror ao ambiente. E o bom é que, não faz muito tempo que passei por uma cidade.

Paro o carro e Angel senta-se no banco de trás, com ar de sono, o cabelo todo desgrenhado e o biquíni um pouco torto. Pelo espelho retrovisor, vejo-a olhar em volta e semicerrar os olhos, procurando entender onde se encontra. Saio do carro e vou em direção a cabana, onde depois de um leve empurrão, a porta se abre. Dentro do lugar o pó e as teias de aranha. Haviam móveis, mas, todos estavam cobertos com lençóis brancos, haviam folhas velhas por todo o lado, exigindo uma limpeza do lugar. Andei pela cabana fazendo um inventário mental dos cômodos do lugar, contando 1 quarto, sala, cozinha e um banheiro. Tudo sujo e empoeirado, mas, penso eu, com uma boa limpeza, tudo se resolve. As lâmpadas estavam todas faltando, o que não me deixava saber se havia ou não eletricidade.


- Onde estamos? - ouço uma voz fina falar atrás de mim e encontro Angel olhando tudo a sua volta. 

- Em nossa nova casa.

Decido voltar a cidade para comprar produtos de limpeza, deixando a garota sozinha na cabana enquanto busco tudo. Ela vai se acostumar. Depois de cerca de 30 minutos, o que eram apenas árvores e mato transforma-se numa pequena cidade. Ando mais alguns minutos procurando algum mercadinho e, surpreendentemente encontro um grande mercado. Estaciono o carro e entro no local. Tudo é muito branco e bem iluminado, o que me faz ficar desconfortável, como se alguém estivesse me perseguindo, como se soubessem de minha fuga e sequestro indireto.

Pego o carrinho e ando pelo mercado, pegando todos os produtos. O silêncio é impressionante no lugar, fazendo com que os únicos sons ouvidos sejam os meus passos, as rodinhas do carrinho contra o chão e o zumbido das lâmpadas. Depois de tudo pego e algumas lâmpadas e velas compradas, decido voltar pra casa. Passo as compras pelo caixa, uma senhora bem velhinha que me atende e parece estar nervosa passa tudo muito rápido, quase como se soubesse que eu estava fugindo. Estou ficando paranoico, afinal, ela não poderia saber não é?

Finalmente, jogo as compras no banco do passageiro e pego a estrada em direção a cabana. Sei que o que estou fazendo é errado, afinal, estou sequestrando uma garota, que por acaso tem problemas mentais, para tortura-la. Isso é doentio até pra mim, mas, meus instintos comandam meu corpo e nada, absolutamente nada do que minha mente manda é suficientemente forte para me parar. Ao final da viagem, chego e encontro Angel sentada na grama do quintal, olhando para o nada parecendo concentrada. Assim que me vê, levanta-se e vem em minha direção para me ajudar a retirar os produtos e começar a limpar.


-

Depois de horas, a casa está limpa e habitável, estamos alimentados e Angel parece estar cansada. Ao que parece, uma tempestade horrível se aproxima, pois, parece que anoiteceu e na verdade são seis da tarde. O vento faz um barulho assustador de assovio e minha mente cria uma visão que meu corpo estremece só de imaginar.

Pego Angel pela mão e a levo para o quintal. Ela parece com medo da chuva, quase como um animalzinho pressentindo o perigo. Pego uma corda dentro do carro e levo Angel para perto de uma árvore. Um trovão muito alto faz tudo estremecer ao redor e Angel solta um gritinho assustado. Fico feliz que ela já esteja no mesmo clima que eu, assim, tudo se torna melhor.

Amarro a corda na árvore com um nó muito forte, dificilmente alguém conseguirá desfaze-lo. Antes que Angel entenda o que está acontecendo, amarro seu pulso em uma ponta solta da cordas e, quase como que combinado, a chuva começa a cair. Viro as costas para entrar na cabana e me proteger da chuva e ouço Angel choramingar. Não me dou ao trabalho de olhar pra trás para saber que ela está finalmente entendendo o que eu quero.

Os gritos que ela solta são o suficiente para ficar feliz. Alguém vai sofrer hoje, e, o melhor de tudo, esse alguém não será eu.


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