Visão

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Não me preocupei em querer entrar na mansão, afinal tenho certeza que "o massacre dos sangue-sugas" seria muito "horror survivor" e não gosto nem um pouco desse negócio. Então aproveitei mais um tempinho no jardim.

Depois de explorar o jardim, deitei na beira de uma fonte de pedra quadrada que ficava ao fundo do jardim. Fiquei observando as estrelas, a noite estava linda. Depois de muito observar, fechei meus olhos.

Então aconteceu algo muito estranho, começou imperceptível, o ar estava denso, quente, era difícil respirar. Eu sentia calor, mas logo o calor foi substituído por uma ardor insuportável. Conjunto de clarões dançavam diante de meus olhos fechados.

Eu os abri e lá estava, a mansão sendo engolida pelo fogo. Ouvi muitos gritos bestiais que vinham de dentro daquela mansão, levei um segundo para descobrir que não era a mansão de Bernard, esta mansão tinha um estilo gótico que se mesclava com a arquitetura celta-norueguesa. Era rústica, intimidadora e demonstrava que o dono apreciava o poder imponente.

Num piscar de olhos eu já estava dentro da mansão me sufocando com a fumaça negra que enxia meus pulmões. Havia silhuetas ao meu redor se retorcendo no chão ao meio das chamas. Eu não aguentava mais ouvir seus gritos de sofrimento, eu estava tonta, a fumaça impossibilitava minha respiração...

"Elli!"

Meu nome, alguém chamava meu nome... Mas era distante, muito distante...

"Elli eu sei que pode me ouvir!"

A voz estava bem mais perto dessa vez.

"ACORDA!"

Abri meus olhos e encontrei Bernard me segurando pelos ombros, ele estava com uma expressão preocupada no rosto, seu cenho estava franzido.

- Você está bem? – Ele perguntou sério.

Olhei ao redor alarmada. Nada de fogo. Nada de mansão gótica. Só eu, Bernard, o jardim, sua mansão e a noite silenciosa.

- Mas... Mas estava tudo pegando fogo! – Eu disse as lágrimas enchendo meus olhos.

- Foi só um sonho ruim. – Ele disse sem saber direito como me confortar.

Então minha cabeça explodiu em uma dor cortante e latejante. Era como se mil agulhas a perfurassem.

- AAAHHH!!!

- Elli! Elli! – Bernard me sacudia sem saber o que fazer, ele parou ao me ver chorar.

Minhas lágrimas vieram do nada. Eu me sentia exausta, sozinha, vulnerável, vazia. Efeito colateral da visão que eu acabara de ter. Minha consciência havia sido sugada de volta da visão quando Bernard me chamou. Cada vez que eu usava meus dons mesmo que fosse involuntariamente, eu me sentia mais fraca mentalmente.

Nesse momento não me importei que Bernard estava ali comigo. O abracei no intuito de afugentar a solidão que me preenchia.

Bernard não teve reação alguma quando o abracei, ele não correspondeu, na verdade hesitou em surpresa pelo o que fiz. E então ele cedeu e me envolveu com seus braços, me segurou firme contra seu peito, falando que tudo ficaria bem. Era tão bom aquele abraço, mostrava que eu não estava só. Um abraço amigável, eu acho.

Ele levantou-se da beira da fonte, onde eu havia deitado antes, ainda me segurando e começou a me carregar para dentro da mansão.

Não me senti desconfortável com ele me carregando, Bernard era forte, grande e protetor. Me sentia segura com ele nesse instante, talvez eu já estivesse maluca o suficiente.

Devo admitir que seu perfume era bem notável por causa de nossa proximidade, meu rosto quase encostava em seu pescoço. Eu podia perceber minha respiração entrando em contato com o seu pescoço, e a pele de Bernard se arrepiando a cada toque do ar que saia de meus pulmões.

Eu podia sentir a tensão dele ao encostar em mim, nunca passara pela minha cabeça que Bernard poderia sentir-se tão atraído por uma humana.

Ele me carregava por um dos corredores quando avistei Jamie virando em uma esquina. Jamie parou no meio do passo e olhou para nós dois com uma cara de interrogação. Então veio em nossa direção.

- Aconteceu alguma coisa com ela Bernard? – Ele perguntou com seu tom malicioso.

- Nada de mais, apenas coisas de humanos. – Bernard disse indiferente a ele, mal o olhando, sem parar de caminhar.

- Se foi algum acidente, sabe que cursei medicina, não é? E de todos, eu sou quem faz o melhor curativo... – Jamie dizia presunçoso, mas pude notar o ar de segundas intenções nele.

- Ela não está ferida por tanto não precisa de "seus" curativos. – A voz de Bernard era quase sem paciência, como se ele quisesse dar um murro na cara de Jamie.

Jamie olhava para Bernard surpreso e desconfortável.

- Bem, esta certo então... Melhoras Elli seja lá no que você tiver. – Disse Jamie totalmente desconcertado, olhando para Bernard como se ele fosse louco, então deu meia volta e se foi embora.

Percebi que Bernard havia prendido a respiração enquanto falava com Jamie e agora havia soltado o ar junto com um suspiro.

- Porque você estava brabo com ele? – Perguntei.

Bernard pareceu ter sido pego de surpresa pela minha pergunta antes de responder:

- Porque na verdade, Jamie é muito mais irritante do que você imagina. – Então ele ficou sério e não disse mais nada.

Ele me levava para meu quarto, quando chegamos ele me colocou deitada na cama.

- Quer alguma coisa? – Bernard perguntou.

- Não obrigada, só quero descansar. – Falei forçando meus olhos a ficarem abertos.

- Ok. – Eu via o esforço dele para não dizer algo que estragasse nossa paz.

- Sabe, você tinha razão. – Falei fechando meus olhos.

- Eu? – Ele perguntou achando graça.

- Sim, você me convenceu, não te odeio mais. – Falei semi-cerrando os olhos. – Talvez um pouco.

Ele soltou um riso leve.

- Sério? Milagre. – Eu podia ver sua cara presunçosa.

- Não seja idiota. – Resmunguei.

- Certo, agora vá descansar, você precisa. – Ele disse por fim.

Eu adormeci quase de imediato, mas antes de ser totalmente sobrepujada pelo subconsciente, algo chamou minha atenção. Senti um afagar de mão leve sobre a maça de meu rosto.

Será que havia sido o Bernard? Ou eu estava tão cansada que imaginei isso?

Blood and Moon - A PredestinadaOnde histórias criam vida. Descubra agora