Diário de Guerra de Albert Knox Dia 4 - Quarta-feira 1° de Janeiro de 2020

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Escuridão. Silêncio. De joelhos. Sem conseguir me mover. De repente uma luz se acende em direção a minha face, apagando logo em seguida. Leve ruido ao fundo, como um apito, aumentando gradativamente. Um som de tiro. Dois sons de tiro. Um grito de criança. O choro de uma mãe. Uma metralhadora termina a sinfonia. O silêncio reina novamente. De repente uma luz atrás de mim surge, iluminando uma parede manchada de sangue, formando a frase em vermelho:

" Não mate mais inocentes. Não permita o fim de mais vidas puras. Termine a guerra!"

Pouco depois a luz se apagou, e uma luz vermelha se acendeu em direção ao canto inferior da parede, onde o sangue assinava:

" - Sofia Amundsen"

Lágrimas me escorrem pelos olhos. Acordo!

Percebo que realmente estou de joelhos, incapaz de me mover devido as correntes presas a minhas coxas e pulsos, me travando nessa posição. A lágrima escorre pelo meu olho, deixando em meu rosto seu caminho umido.
"Termine a guerra!". Foi isso que Sofia me disse em meus sonhos. Era a maior vontade dela ainda em vida, encerrar esse caos. Mas como eu poderia realizar esse sonho de uma adolescente? Como terminar esse grande conflito sozinho? Minha única ideia seria...
As correntes se desprendem de mim. Caio devido ao cansaço e as minhas condições físicas. As grades a minha frente se abrem. Passos vem em minha direção, até que eu possa ver a silhueta de um homem fardado.
- Sargento Albert Knox, o senhor foi detido pelas tropas brasileiras da Unificação, impedido temporariamente de exercer seus deveres como cidadão da nossa pátria, pois está sendo acusado pelos crimes de: traição ao Brasil; traição à União Americana; traição à Ordem Mundial; desacato a um superior; negligência em relação ao ataque sofrido por seu batalhão; e aliança pessoal à movimentos anarquistas! O Senhor tem alguma declaração?
- Sim, Cabo Knox, eu tenho uma declaração. - disse, ciente de que tudo que eu falasse seria gravado para ser usado no julgamento - Vou me declarar em relação aos crimes pelos quais estou sendo acusado. Primeiramente, em relação aos três niveis de crime de traição: Eu realmente passei um dia inteiro na casa de uma Espartana, da líder deles, pois ela me salvou e tava cuidando de minhas feridas, após eu ter sido atingido por um raio. Sobre desacato, eu nescessito saber detalhes sobre a acusação. Sobre a tal negligência, não direi nada além de que fomos atacados de surpresa, e eu continuei vivo por ter desmaiado, motivo que os levou a crer que eu havia morrido. Já sobre a aliança pessoal, eu acredito que conversar com alguém que me salvou de morrer sozinho na floresta não seja se aliar, mas sim ao menos retribuir o favor. Até porque ela era uma criança de quinze anos que criou o movimento por um acaso e queria o fim da guerra.
- O senhor encerrou sua declaração?
- Não, quero dizer mais uma coisa! Eu acuso o General Eduardo Knozzi de estrupar e matar brutalmente, sem direito à defesa ou julgamento, uma garota de quinze anos que, apesar da marca dos Espartanos, se apresentava incapaz de ferir alguém.
- Somente isso?
- Sim! Muito obrigado por vir me dar esse recado, Cabo Augusto Knox.
- É meu dever, Sargento Albert Knox.
E assim ele se retirou da penumbra, sem me mostrar por um segundo sua face, e foi embora. Meu filho, me notificando meus supostos crimes. Isso deve ser novamente obra do Eduardo. Nesse momento eu era puro ódio. Aquele maldito além de matar uma criança indefesa, ainda me culpa por crimes irreais. Mas na minha mente planejava como revidar. Planejava o contra-golpe. Eu iria provar pelos crimes dele....
A grade se abriu em um ato violento, causando um som alto de metal batendo. Passos voaram em minha direção. Fiquei de joelhos novamente. Uma farda surgiu com o nome G. Knozzi escrito, e um chute na cara é o meu "bom dia" daquele maldito general de merda. Logo depois ele me levanta pelos cabelos.
- Eu matei uma criança indefesa Knox?
- Sim!
- Tem certeza? Se eu fosse você pensava muito bem antes de abrir a boca.
- Eu tenho toda a certeza do mundo!
- Ah, filho da puta! - mais um chute, agora na barriga. Me levanta pelo cabelo novamente. - Diz mais uma vez isso que você verá a morte, e possivelmente sua amiguinha rebelde.
- Eu falo o que eu quiser, você não pode de maneira alguma me matar aqui. Eu seria encontrado quando fosse convocado pro julgamento. Iriam checar a lista de entrada e saída de visitantes, e perceber que foi sua a culpa. E através da minha morte, deduziriam que você me matou para me calar sobre seus crimes. E você estaria preso pelo resto da vida. Ah é, antes que eu me esqueça: o nome dela era Sofia, seu filho da puta.
- Não posso te matar, mas posso te machucar muito. E foda-se o nome dela, ela está no inferno agora. - ele puxa meu rosto pra perto dele - Agora, presta atenção: Eu vou te matar Knox, e a história não vai se lembrar de você tentando salvar ou vingar Sofia, e sim de mim, assasino da criadora desse movimento e de um traidorzinho de merda.
Cuspo na cara dele.
- Desgraçado! - grita ele, antes de me socar forte no rosto.
E assim começou o espancamento. Ele me bateu até eu desfalecer. Na cara. Na barriga. Na virilia. Chutes. Socos. Pancadas com um cabo de metal. E por fim, antes de minha vista ficar escura e eu perder a voz, ele me deu uma coronhada assim que eu gritei:
- Os anjos morrem nas mãos de demônios! E só os humanos podem pará-los...

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