Dia 5 - Quinta-feira 2 de Janeiro de 2020

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Sol se pondo. Céu alaranjado, em meios as nuvens de diversos tipos. Não estou fardado! Estou em meu bairro. Na porta de minha casa. Minha filhinha está vindo correndo em meus braços, voltando da escola. Eu estou de volta da guerra, é a primeira vez que ela está me vendo em anos. Do meu lado estão meu filho, Alberto, e minha mulher, Lucie. A felicidade invade minha alma... Tiros? Sim, são disparos! Sangue na minha frente, minha filhinha ao chão. Poça rubra envolve minha garotinha. Meu filho arrasta eu e a mãe dele pra dentro. E quando ele volta pra fechar a porta, outro tiro. Minha mulher se ajoelha perto ao corpo e chora. Grita! Grito sufocado pela nota de uma metralhadora. Eu não sei mais o que fazer, fico imóvel no meio da sala. E a porta se abre, era Knozzi quem atirara. e quando ele atira em mim, sinto o impacto, mas não sinto dor. É Sofia entrando em minha frente e caindo sobre mim, de costas para Knozzi com um sorriso no rosto. E quando estamos no chão ela me diz:
- Agora somos do mesmo time Knox, o de orfãos! Também estamos indo pro grupo de vitimas da guerra. Você já sabe a dor que eu senti. Não seja outro Knozzi para alguma familia, pare essa guerra...
Um tiro nas costas dela atinge o coração. Olhos sem vida. Boca cuspindo sangue em minha face. Outro tiro, agora na minha testa. escuridão...

Acordo. Não estou mais acorrentado. Muito menos na antiga cela, agora estou em uma mais limpa, clara e relaxante. Estou na cama da cela, com a calça da farda e de camisa branca. Novamente assustado, mais uma vez Sofia me aparece! O que será que ela quer que eu faça para cumprir esse desejo? Como posso eu, parar com a guerra? É uma duvida que eu ainda tenho, e que vou levar por muitos dias meus...
Barulho de chaves. Porta da cela se abre. Quem entra é meu filho, Augusto Knox. Ele entra comoletamente fardado, dando ao guarda do lado de fora a ordem de fechamento da porta. Então ele tira a boina e vai em direção à uma caixinha na parede. Pega uma chave, abre a caixinha e inverte dois interruptores. Depois fecha a caixinha e se vira pra mim.
- Bom dia Pai!
- Bom dia Cabo Knox!
- Esqueça formalidades pai, o quartel está surdo enquanto eu estiver aqui. - e assim eu já sabia que ele havia desligado o sistema de escuta da cela.
- Tudo bem com você Augusto?
- Sim, pai. Mas você não está! O que aconteceu desde a última vez que nos vimos? - se levantou - Porque se for verdade tudo que te acusam, você esqueceu o porquê estamos aqui!
- Bem, resumindo tudo: Meu batalhão foi atacado sem chance de defesa e só eu sobrevivi. Depois eu consegui traçar um rumo em direção a essa base, porém tive contratempos. Fui atingido por um raio e fiquei inconsciente até o dia seguinte. Foi aí que eu acordei numa casa desconhecida, de uma garotinha de 15 anos. - meu olhar se tornou triste - Se chamava Sofia, era a criadora do ideal aclamado pelos Espartanos. Porém ela não queria causar uma guerra. Ela queria encerra-la. Queria dar um basta as mortes. Mas Knozzi chegou! - a raiva tomou posse de meu rosto - E a estuprou e matou.... - soquei a mesa.
- Você conversou mesmo com uma Espartana?
- Sim.
- Então é verdade? A tal da aliança?
- Ah, claro. Me aliei a uma criança de 15 anos que agora está morta! Sim, sou retardado agora!
- Desculpa, pai. Eu falei assim, porque há um tempo de segurança pro sistema realmente se desligar.
- Tudo que eu quero agora é sua ajuda!
- Diga, pai.
- Eu preciso parar essa guerra! Preciso da sua ajuda pra isso.
- Se estiver a meu alcance eu farei com certeza...
- Preciso também do seu tio-avô!
- Claro pai, mandarei-o para cá durante a tarde.
- Antes de ir, me conte um pouco sobre a situação do exército e da guerra.
- Claro. - disse sorrindo - Bem, primeiramente, seu batalhão não foi o único a ser atacado. Vinte batalhões foram totalmente dizimados só no estado de São Paulo, com um único sobrevivente. E isso foi parte de um ataque combinado no mundo todo, nos fragilizando mais ainda. O Brasil resiste com duas bases, uma aqui em São Paulo e uma em Brasília. O Canadá perdeu a guerra, junto à Inglaterra, França, China e Australia. Somos agora cinco "países" fragmentados que cogitam um pedido de paz, para manter a integridade. Apenas dois países defendem que a guerra prossiga...
- Brasil e Itália!
- Exato, ambos com exércitos controlados pelo mesmo general...
- Eduardo Knozzi!
- Você está bom nisso! - disse para descontrair - Resumindo é isso. O mundo está virando uma anarquia, e se São Paulo não abrir mão da guerra e se preservar, o mundo inteiro será um caos, e vai voltar a se dividir.
- Entendi! Filho, faça o favor de chamar seu tio-avô aqui o mais rapido o possível. Falo com você o plano, após o julgamento.
- Sim, estou indo! - e se levantou - Mas saiba que eu vi a filmagem de ontem, sei uma parte do seu plano. Você tem dois motivos!
- Sim!
Assim ele coloca a boina, reativa o sistema de escuta e sai da cela. Ainda bem que eu tinha meu filho ao meu lado. Afinal, estavamos na guerra para proteger a mãe dele, minha esposa..Ela morava em São Paulo, porém mandei ela para um esconderijo, onde ela poderia viver normalmente. Essa certeza se dá pelo fato dos Espartanos só atacarem os fardados. Mas eu realmente estou protegendo ela, ao estar numa guerra já perdida, que só trará mais mortes e territórios vazios ou destruidos? Será que não estou destruindo tudo que ela tinha nessa cidade linda? Como irei salva-la agora, ou mesmo voltar a viver como antes, ao lado dela em São Paulo? Ela até voltará para São Paulo e sua vida comum, mas para mim só resta deixar a ela esse diário...
A porta da cela se abre novamente. Meu tio entra, mancando, e desliga o sistema de escuta. Logo em seguida fecha a porta e vem lentamrnte em direção à cama e se senta. Passado certo tempo de silêncio, ele me cumprimenta:
- Boa tarde, sobrinho!
- Olá, tio! Tudo bem com o senhor?
- Sim, Alberto, melhor que você!
- Hahahaha. Você não é o primeiro a me dizer isto!
- Eu vou ser direto, qual seu plano?
Rapidamente lhe contei meus planos para que ele pudesse opnar, porém esse diário não pode receber esses planos, pois Knozzi pode vir a le-lo. Ao terminar de contar a ideia, lhe perguntei:
- Qual sua opnião?
- Se você quer a minha opnião, faça o que você deseja! Se é o que você acha certo...
- Hum...
- Mas se você quer saber o que seu pai acharia... - então ele se levantou, e começou a andar em direção a porta - Ele lhe diria uma única frase: "Eu não dediquei minha vida ao exército para matar, e sim para salvar!"
Sendo assim ele religou o sistema de escuta, abriu a porta e se foi. Porém, antes de sair falou:
- Seu julgamento será amanhã!
Só consegui pensar na frase que meu pai diria, durante todo o dia, inclusive nas refeições. E na hora de dormir, após ver o rosto já sem vida daquelas noventa e nove pessoas que eu matei, eu decidi: Meu plano seria executado...

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Muito obrigado à todos que leram e a todos que me incentivam, em especial a Karina e a Victoria! Muito Obrigado as mais de cem pessoas que já estão lendo, espero que tenham gostado! Tento postar o mais rápido que posso os capitulos, mas como podem ver: Estou começando a "entrar de corpo e alma" no livro, o que faz com que os capitulos se tornem maiores e até mais legais eu diria! Concordam comigo?

Diário de guerra de Albert KnoxOnde histórias criam vida. Descubra agora