Quinta Parte_Paris: Marius

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Barão Marius de Pontmercy


Oito ou nove anos depois dos acontecimentos que acabamos de narrar, um rapaz


muito pobre vivia na antiga casa de cômodos onde moraram Jean Valjean e Cosette.


Chamava-se Marius. Quem era, afinal?


Seu avô era o senhor Gillenormand, homem vigoroso já na casa dos noventa anos. Falava alto, enxergava bem, comia por três, roncava alto. Gostava de uma briga.


Vivia com uma filha solteirona, com mais de cinqüenta anos, a quem ele tratava


como se fosse uma criança. Descompunha os criados. Gastara boa parte de sua fortuna e


aplicara o restante em renda fixa. Ou seja: contava com uma boa renda, mas não deixaria


fortuna. Rica, na família, era justamente sua filha, que herdara a herança por parte de mãe.


Politicamente, Gillenormand tinha opiniões ardorosas. Adorava a Casa Real de Bourbon


(5), reconduzida ao trono depois da queda de Napoleão. Tinha horror da República e da


Revolução Francesa, ocorrida em 1789. Justamente por isso, considerava uma vergonha o


casamento de uma outra filha, já falecida. Seu marido fora herói dos exércitos


napoleônicos. Por isso fora nomeado coronel, recebendo também o título de barão.


Embora, com a restauração da casa real de Bourbon, o título não fosse mais reconhecido,


a não ser pelos admiradores de Napoleão.


Dessa filha nascera um menino, Marius, neto de Gillenormand. O avô idolatrava a


criança. Mas obrigara o pai, coronel de Napoleão, a jamais ver o filho. Era essa a sua


condição para educar o menino. O antigo coronel vivia modestamente em uma pequena


aldeia. Cultivava flores. A cada dois meses, ia a Paris e se escondia na igreja para ver o


filho de longe. O sacristão da igreja em Paris e o padre da aldeia eram seus únicos amigos.


Sabiam de sua história e lamentavam o sacrifício do coronel. O menino cresceu, tornou-se


rapaz, sem nunca ter notícias do pai. Quando este morreu, em 1872, Marius recebeu suas


últimas palavras em uma carta testamento. Deixava-lhe o título de barão. E pedia que


sempre fizesse o bem ao sargento Thénardier, que salvara sua vida na batalha de


Waterloo. (Embora, na verdade, Thénardier tivesse tentado assaltá-lo quando estava


inconsciente. Mas isso nem o coronel nem ninguém nunca souberam.)


Marius estudava Direito. Como sempre vivera afastado do pai, não sofreu muito


com sua morte. Julgava-se abandonado. Certo domingo, porém, quando rezava na igreja,


um sacristão aproximou-se e pediu-lhe para mudar de lugar. Mais tarde, quando terminou


a missa, o velho explicou:


- Desculpe-me pelo incômodo. Durante dez anos, observei, neste lugar, um


pobre pai olhando o filho que passava sem poder dirigir-lhe a palavra. O sogro, um homem

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