A Cilada

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Jondrette colocou o casaco e o chapéu.


- Vou chamar uns amigos para me ajudar.


Saiu. Seus passos ecoavam pela escada.


Marius decidiu frustrar seus planos, claramente criminosos. Foi até o posto de


polícia mais próximo.


Expôs tudo o que presenciara ao inspetor do dia. Por uma extraordinária coincidência, não era outro senão Javert. Este entregou duas pistolas ao rapaz. Pediu que


observasse o cômodo do vizinho de maneira que não fosse visto. Deveriam pensar que


não estava em casa. Quando a quadrilha estivesse em ação, Marius avisaria com um tiro,


para todos serem pegos em flagrante.


Marius fingiu sair e voltou para cima da cômoda. O quarto de Jondrette estava


diferente. Com o dinheiro recebido, comprara carvão. Dentro da lareira, colocara um


grande fogareiro cheio de brasas. Sobre ele, aquecia um formão. Perto da porta, viu


algumas ferramentas e cordas. Jondrette olhou em torno.


- Precisamos de mais duas cadeiras. Vá pegar no cômodo do vizinho.


Todos sabiam que Marius nunca trancava a porta. O rapaz teve um calafrio. Mas o


quarto estava escuro. A mulher entrou, pegou as cadeiras e saiu sem vê-lo. Continuou


olhando. Jondrette pegou uma faca e experimentou o corte.


Marius engatilhou a pistola.


O sino tocou seis horas. Minutos depois, o velho senhor voltou. Tinha uma


aparência serena.


- Fique à vontade, meu benfeitor - disse Jondrette.


O velho colocou um maço de dinheiro sobre a mesa.


- É para o aluguel e outras despesas urgentes.


Enquanto ele falava, a mulher saiu e disse para a carruagem de aluguel ir embora.


Marius apertava a coronha da pistola, já engatilhada. A polícia estava por perto,


pronta para a emboscada. Não havia o que temer.


- E sua filha, que estava machucada? - perguntou o velho.


- Foi para o hospital fazer um curativo, com a irmã - mentiu Jondrette.


- Sua mulher não estava doente?


- Piorou muito. Mas tem uma resistência de ferro! É corajosa!


A mulher agradeceu o cumprimento.


- Sempre amável comigo, Jondrette.


- Jondrette? Não se chama Fabantou? - estranhou o velho.


- É meu pseudônimo, pois sou artista! - inventou Jondrette.


Em seguida, ofereceu aquilo que considerava seu único tesouro. Um quadro


representando um homem carregando outro nas costas. Por sinal, muito mal pintado.


Mais parecia uma tabuleta de estalagem.


Enquanto falava, outro personagem entrou no cômodo. Tinha braços tatuados. O


rosto sujo de fuligem, como quem quer se disfarçar. O velho senhor virou-se, surpreso:
- Quem é?

Os MiseráveisOnde histórias criam vida. Descubra agora