Sexta-Feira, 4 de março de 1791

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Este é o primeiro dia que consigo escrever. Não acredito que faz mais de três semanas que escrevi em meu diário pela última vez, mais de três semanas desde aquela noite horrível quando saí durante a noite pelas ruas de Southampton, mais de três semanas desde que achei que Jane fosse morrer. Não estava tão doente quanto ela, mas me sentia muito fraca para escrever em meu diário e sempre havia alguém no quarto, ou a sra. Austen, ou senão a irmã de Jane, Cassandra, ou, durante os últimos dias, quando tiveram certeza de que não podiam pegar minha febre, meu irmão, Edward-John e sua esposa, Augusta.

E havia a própria Jane.

Sem estar doente, sem murmurar devido à febre alta.

Apenas sentada ao lado de minha cama rindo enquanto lia um romance.

E acho que isso me fez começar a melhorar.

Edward-John e Augusta vieram me visitar esta manhã. Tentei falar com eles, mas me sentia fraca demais para falar muito. Tinha esperanças de que me deixassem em paz, mas Augusta voltou à tarde. Jane estava lendo e eu estava quase adormecida quando ouvimos seus passos na escada. Soube imediatamente que era ela, pois a sra. Austen usa sandálias de tiras e todos os garotos usam botas. Os sapatos de Augusta fazem um clique de forma elegante e metódica, bem parecidos com ela.

Pude ouvi-la conversando com a sra. Austen sobre seu novo vestido quando estavam paradas na frente da porta do meu quarto.

-O que acha do meu vestido, querida senhora? - perguntava à sra. Austen.

-Bonito, creio eu, mas não sei se está enfeitado demais. Tenho profunda aversão por muitos enfeites...

-Concordo com a senhora - disse Jane ao meu lado quando a porta abriu e as duas entraram. Ela estava séria e fez um pouco de esforço para baixar seu tom de voz. - Não há nada pior do que um vestido com muitos enfeites... todas aquelas rendas e babados - é muito vulgar...

E sua expressão era toda inocente enquanto avaliava os babados do vestido enfeitados com rendas de Augusta os quais esvoaçaram à sua frente.

Puxei rapidamente o cobertor para esconder minha boca e vi sra. Austen lançar um olhar severo a Jane, que deu um sorriso maldoso. Augusta, no entanto, não lhe deu ouvidos. Continuava falando pelos cotovelos com minha tia, e estava entusiasmada.

-Disse ao meu caro sposo - é assim que chamo meu querido Edward-John. É italiano para querido esposo - falou gentilmente, olhando para Jane que concordou com seriedade. - Disse a ele, esta manhã mesmo - Jenny pode confirmar, não é mesmo Jenny? - "Diga-me, querido" - perguntei - "meu vestido está enfeitado demais?" - Ele me respondeu... Meu Deus, tenho vergonha de contar o que ele respondeu...

-Como se sente essa tarde Jenny? - interrompeu a sra. Austen que parecia estar cansada de Augusta e seus vestidos.

-Bem melhor, obrigada senhora.

-É claro que ela está bem; fique deitada em silêncio, Jenny, enquanto conversamos. - Augusta, como sempre, falava sem parar e senti minha cabeça começando a doer quando tentei prestar atenção. Jane fora se sentar perto da janela e estava ocupada rabiscando em uma folha de papel enquanto Augusta continuou falando do quanto é popular em Bristol e o que as pessoas diziam para ela e sobre ela. Após uns dez minutos disso, senti meus olhos começando a fechar. Augusta pareceu não perceber e continuou falando. Um minuto depois, ouvi os passos leves de Jane atravessando o quarto.

-Ela está muito fraca, mamãe - a ouvi dizer com um tom sério na voz. - Acho que precisa descansar agora, não é mesmo? - Não meu atrevi a olhar para Jane caso ela me fizesse rir.

-É melhor irmos - A sra. Austen afastou a cadeira e levantou-se tão rápido que notei que estava ansiosa para sair desde os últimos dez minutos. Não estava interessada nas histórias de Augusta sobre sua vida social em Bristol.

Depois que partiram, perguntei a Jane se ela estivera escrevendo uma história e ela respondeu que estava pensando em começar um romance no qual Augusta seria a esposa de um reverendo com uma opinião positiva de si mesma, mas as pessoas de sua cidade teriam uma imensa antipatia por ela. Pelo jeito estava anotando alguns dos relatos de Augusta para poder usá-los quando começasse o livro.

- Aqui, prenda em seu diário para mim e assim não perderá. - Jane me entregou uma folha de papel. Eu li e ri. Augusta não havia exatamente dito coisas tão extravagantes como aquelas, mas com certeza faziam parte do seu estilo.

Meu velho querido admirador - é uma pessoa titulada, sabe - e tem uma grande consideração por mim - até mesmo deixa os outros homens no porto depois do jantar e vem ficar comigo - queria que você ouvisse todos os seus discursos galantes - Deus, não devo contar-lhe o que ele disse - mas posso garantir que meu marido ficaria com ciúme - no entanto, o que uma mulher pode fazer? Não é culpa minha se ele me admira-.

Colei a folha cuidadosamente em meu diário. Depois, quando Jane já havia descido para tomar chá, encostei-me no travesseiro e comecei a pensar em Augusta. Por que eu não conseguia rir dela como Jane fazia?

Tenho menos medo de Augusta do que costumava ter antes de ir para a escola e ficar amiga de Jane, mas ainda tenho a sensação horrível que ela pode me prejudicar de forma grave. É difícil explicar isso, mas no fundo, acho que me odeia e gostaria que eu não fizesse parte da família de seu marido. O problema é que minha mãe deixou Edward-John responsável por mim quando morreu e Augusta está sempre sussurrando para suas amigas sobre a terrível imposição que isso foi para um jovem. Sinto-me muito desconfortável, mas não há nada que eu possa fazer. Também não acredito que irei me casar, pois tenho uma fortuna muito pequena - somente cinquenta libras ao ano. De qualquer forma, não acho que seria muito atraente para os homens. Lembro-me de ouvir Augusta dizer a uma de suas amigas que Edward-John me mandaria para um internato para que eu fosse educada para ser professora, e quando a amiga sugeriu que eu me casasse, ela deu uma de suas risadas esquinas e comentou - engraçado como ainda me lembro das palavras:

-Meu Deus! Com aquela estatura baixa e nariz de assistente de cozinha! Quem nesse mundo se casaria com ela?

Quando penso no capitão Williams e no quanto ele foi gentil com a irmã...

Eu fui a melhor amiga de Jane AustenOnde histórias criam vida. Descubra agora