Delirium ||H.S|| ✔

32 ✌

Após acabar de lavar a loiça suja limpei as mãos molhadas e direcionei-me para a sala de estar, eram nove da noite e estava um frio de rachar dentro de casa. Não posso ligar a lareira pois esta é automática e eu não sei como se mexe no comando, sendo assim peguei num cobertor cinzento e deitei-me no sofá esticando o cobertor peludo e quente sobre o meu corpo. Acendi a televisão pondo num canal ao calhas. Já fazia umas belas duas horas desde que Harry saiu para ir á tal reunião importante, depois de ter expulsado Brenda, esta não se atreveu a voltar a insistir ao vir tocar várias vezes á campainha ou sequer dando pontapés na porta.

Este dia tinha-me deixado completamente estoirada e cansada, sentia-me vulnerável e triste. Odeio sentir-me assim, pareço uma rapariga que corre atrás do seu amor não correspondido e eu não sou assim, nem nunca o serei. Odeio sentir-me fraca e é o que estou a ser agora, se a minha mãe estivesse aqui insultaria-me com os maiores nomes possíveis por estar a deprimir em lágrimas mas a minha pergunta é: Porque estou eu neste estado?

Excuso-me acreditar que seja por causa de Harry, tem de haver algo mais, mas, o quê? Ou então eu estou-me a iludir e talvez não seja por nada.

Quando estava prestes a deixar que o sono me levasse ouvi a porta de casa abrir e fechar no minuto seguinte, não tive nem a coragem de me mexer para ver quem era. A preguiça era demais. Ouvi os passos a ecoar, já que a casa estava silenciosa e o único barulho que se ouvia era as personagens da televisão falando sobre um assunto que era desconhecido por mim pois eu não estava atenta ao que diziam ou sequer o que estava acontecer. Reparei que o ser que me fizera chorar horas atrás pôs-se á minha frente tapando a minha visão para a televisão, não tive a coragem de levantar a cabeça para encará-lo, porque apesar da preguiça ser muita eu não conseguia olhá-lo obrigando-me assim, a ter que encarar as suas pernas magras cobridas por um tecido fininho preto, nem sei como este homem não chega a ter frio mas isso também não é comigo.

"Estás-me a tapar a visão, sai por favor." a minha voz saiu duma maneira rouca por estar cheia de sono. Apercebi-me que ele retirou o seu casaco comprido e preto que ia até meio das pernas e mandou-o para cima das minhas pernas. Ergui a sobrancelha, poderia ser mais arrumado.

"Tu nem estás a prestar atenção." argumentou duma forma bruta e fria. Algo me diz que a sua reunião não correu como esperava, mas isso, mais uma vez não me diz respeito. Revirei os olhos pela sua atitude e levantei-me com o cobertor enrolado no meu corpo, passei por ele caminhando-me para fora da divisão mas Harry travou-me.

"Onde vais?" perguntou.

"Ham, domir?" afirmei numa forma de pergunta. Assim que reparei que este não me responderia mais tornei a voltar andar mas outra vez a sua voz parou-me.

"Onde está a Brenda?" Um arrepio percorreu a minha espinha acima, eu não lhe posso dizer que a expulsei da sua própria casa. Quer dizer, eu não a expulsei, simplesmente só a mandei ir dar uma voltinha. Com certeza que amanhã ela já estará aqui para me infernizar a vida.

"B-bem, ela disse que ia sair e que voltaria tarde." disse tentando não ficar muito nervosa mas falhei redondamente. Eu não sei nada dela, nem sei se volta mas isso já não é comigo, não vou voltar atrás pela consciência dos meus actos, ela mereceu e nem sei porque é que ainda continua nesta casa.

Saí oficialmente da sala e subi as escadas para o andar de cima. Assim que entrei no meu quarto atirei o cobertor quente que me cobria para o chão e entrei dentro da cama enrolando-me nos lençóis. Não pensava em mais nada a não ser em adormecer e esquecer que este dia existiu.

**

Acordei com a campainha a tocar varias vezes seguidas, olhei para o meu lado do relógio na parede reparando nas dez horas. Hoje era sábado e felizmente ou infelizmente não punharia os pés naquela escola. Depois de muitas insistências a campainha da mansão de Harry parou de tocar, creio que desistira ou o próprio dono foi lá atender.