Tantas coisas já haviam acontecido em tão pouco tempo e eu estava ali fraco e incapacitado de sequer caminhar até a cozinha para tomar um copo de água, sorte que aquela linda moça que eu ainda não sabia o nome, tinha deixado uma garrafa de água ao lado da minha cama.
Nunca gostei tanto de um simples copo com água em uma manhã, só de imaginar que eu poderia não estar ali, tomando aquele simples copo com água se não fosse a ajuda da senhora...como aquele espirito a havia chamado... French? Fryda? Francis!
Devia minha vida a ela, devia minha gratidão, mas como agradecer alguém de quem eu não sabia nada além do sobrenome?
. . .Depois de algumas horas ainda tonto e enjoado, pude analisar melhor aquela noite em que acontecera tudo, os meninos, aquele homem, a Senhorita Francis, aquela marca em que permanecera em meu braço... tudo ainda estava fresco em minha mente, mas uma coisa que não encaixava em minha mente era por que aquela estranha marca em meu pescoço começara a queimar cada vez mais forte, uma dor contínua, como se meu braço estivesse sendo queimado parte por parte a cada hora que se passava em meu relógio. Tentei de todas formas fazer com que aquela marca parasse de doer, mas nada funcionava, nem mesmo água ou pomada para queimadura, era inútil.
Resolvi deixar aquela dor de lado e me concentrar em minha missão. Enfaixei meu braço com um velho esparadrapo já com tom amarelado que tinha em minha casa.
Teria que começar de algum ponto, mas não sabia por onde, afinal, não havia como se comunicar com a Senhorita Francis e eu não estava nem um pouco a fim de chamar o "amiguinho" dela para que me desse uma aula de como cuidar da queimadura que ele havia deixado em meu braço direito, então decido ir ao lugar onde tudo acontecera, decidi voltar àquela praça onde faziam meus pensamentos virarem pesadelos sempre que eu fechava meus olhos.
Já se passavam das três horas, era mais uma tarde calma naquele pacato bairro onde eu vivia, o sol brilhava intensamente, o clima era agradável graças aos ventos da primavera que vinha espalhar os pólens das flores que ali tinham, rosas brancas e vermelhas, copos de leite, violetas, margaridas, centenas e centenas de flores que faziam da paisagem um lugar para se guardar de recordação para sempre!
Enquanto caminhara por aquele mar de flores pude pensar em quão sortudo eu era por morar a apenas duas quadras daquela linda praça... sortudo na parte do dia porque a noite eu iria pensar duas vezes em ir lá depois daquela noite.
Ao chegar ao ponto onde tudo acontecera, percebi que estava tudo calmo e normal...normal até demais!
Não havias marcas nos arbustos ou nem mesmo pegadas, a não ser as minhas, nem mesmo as da Senhorita Francis apareciam naquela grama baixa e macia onde dava para se ver os rastros de qualquer um que entrara ali, mas o mais estranho é que não havia pegada alguma ali, nem mesmo de alguma outra pessoa que pudesse caminhar ali nas manhãs como era de costume.
Fui de encontro ao arbusto de onde aquele monstro saíra para ver se havia alguma coisa ali, mas ao chegar lá, tudo estava normal também, mas como?
Sutileza com certeza não poderia ser seu sobrenome, mas nenhuma marca ou resquício estava ali, fiquei sem entender, estava frustrado, pois o único lugar em que eu poderia conseguir alguma resposta tinha sido mexido para que não houvessem provas ou pistas até que... a marca em meu braço começa a queimar de uma forma diferente, quase como que se estivesse tentando me mostrar algo.
Levantei meu braço para ver o por que dele estar queimando daquele jeito e então eu percebi que a marca, ela estava...brilhando!
Uma luz fluorescente reluzia da marca quando eu apontara meu braço no sentindo de uma trilha de terra que estava atrás dos arbustos, o que era aquilo?
Mudei meu braço de direção para ver se a marca continuava a brilhar, mas não funcionou, a marca estava querendo me levar a algum lugar, onde eu esperava que ali poderia encontrar alguma resposta que me ajudasse a entender o que estava acontecendo.
Comecei a seguir o caminho para onde a marca apontava com o seu brilho. Um caminho que não parecia ter fim, repleto de árvores que o rodeavam o estreito caminho de terra batida que aparentava não ter muitas visitas nos últimos anos.
A luz brilhava cada vez mais forte indicando que eu estava chegando perto de algo...mas o que? Caminhei até um ponto onde o caminho se encerrava, não havia mais para onde por conta de uma montanha muito alta que bloqueava o caminho, mas ali não era o fim do caminho, a marca continuava a brilhar intensamente mais forte do que antes mesmo com a montanha ali.
Fiquei procurando uma rota alternativa dentre as arvores que cercavam o caminho, mas não tinha um, pois a montanha era muito larga e não havia como dar a volta em torno dela, iria demorar tempo demais. A frustação me toma, olho com desdém para a montanha e me pergunto o porquê de a marca não parar de brilhar. Inconsolado apoio minhas mãos na montanha e abaixo minha cabeça até que, vejo a marca brilhar muito, a fazer meu braço queimar tanto que levanto minha cabeça de dor e ao olhar em direção a ele vejo um pequeno brilho vindo montanha igual ao que vem do meu braço, e ao retirar a mão, vejo uma marca brilhando aonde minha mão estava apoiada com a mesma marca de meu braço esculpida na rocha dura da montanha, eis então que o chão ao meu redor começa a tremer e eu vejo a partir da rocha da montanha abrir-se uma passagem escura indicando que ali haveria outro túnel.
A marca de meu braço apontava para o túnel indicando que minha resposta estaria ali dentro daquela passagem ou seria um caminho mais curto para encarar a morte de novo?
Não sabia o que poderia ter ali dentro, mas ficar ali fora não me daria nada do que eu queria, tomei coragem e resolvi entrar para ver onde ia parar.