Ao sair da montanha vi que o dia já estava anoitecendo, calmamente os pássaros iam voando por cima de minha cabeça em direção a seus ninhos. Havia passado tão de pressa o dia que eu nem notara, provavelmente aquele túnel era bem maior do que parecia ser.A noite finalmente chegara enquanto eu caminhava apressado até a minha casa. Olhei para o céu estrelado imaginando como deveria estar a Senhorita Francis, imaginara como ela estava se virando sozinha, em uma noite fria como esta, onde o vento ecoava pelos meus ouvidos enquanto corria, o bom é que pelo menos a noite estava limpa, com o céu todo estrelado e brilhante, capaz de deixar qualquer um sem fôlego.
Enquanto caminhava na rua, consegui sentir alguém me observando de longe desde o momento em que eu saíra da montanha. Me observava sempre pelas sombras evitando qualquer que seja um ponto de luz que aparecesse no caminho.
Apressei meu passo, só poderia ser outra entidade me procurando, pensei comigo, principalmente depois do fato de eu ter entrado na casa do seu senhor e ter pego algumas informações que eu não poderia saber.
Não importava o ritmo em que eu estava, aquela coisa continuava a me seguir, e para ajudar, a rua por onde eu caminhava estava deserta, mas não era novidade, ali a noite, era muito estranho para se caminhar sozinho.
Passo a passo eu me aproximava de minha casa até que consigo vê-la no final da rua, finalmente, pensei comigo mesmo até que todos os postes que iluminavam a rua se apagarão exceto um... o que eu estava embaixo.
Olho para os lados imaginando aquilo ser uma brincadeira, mas infelizmente não era, não havia ninguém na rua a não ser uma criança.
- Hey, você sabe o que aconteceu? - Perguntei a criança -.
Ele apenas me encarou, me encarou, me encarou, e não disse nada.
Não conseguia ver o rosto dele nem muito se ele estava de alguém por perto. A escuridão ao meu redor era muito forte, não conseguia ver nada, nem mesmo a rua mais eu conseguia ver, somente conseguia ver aquele menino me observando sem parar.
- O que foi? - Gritei para o menino - O que você quer?
Então o silêncio do menino se rompe e escuto uma risada.
- O senhor sempre é engraçado - Disse ele rindo -, já pensou em trabalhar para um circo ou algo do tipo?
Aquilo foi estranho, como um menino que eu nunca vira na vida diz aquilo sobre mim?
-Quem é você? - Perguntei a ela de forma rígida -.
- Ora, nem se passou tanto tempo e você já se esqueceu de mim?
Esquecera de quem? Nunca havia visto aquela criança em minha vida!
- Terei que ir aí para você se lembrar de mim? Não faz mal, sempre é bom matar as saudades, especialmente de um cara como eu!
O menino que estava a uma certa distância de mim, começara a se aproximar de mim.
A luz que refletia em mim agora também refletia naquele menino, não podia ser, era um dos meninos que estava atrás da Senhorita Francis.
- O que você quer? Vá embora! Ela não está aqui!
- Eu sei. Sei exatamente onde ela está!
-Como?
Pensei comigo mesmo naquele momento, eles pegaram ela, até que escuto a última resposta que esperaria naquela noite
- Porque... ela é minha irmã!
Aquela resposta tinha me deixado sem palavras, não sabia como, mas eu conseguia sentir a preocupação e o medo na voz do menino, sua face toda deformada igual a das demais crianças, mas este estava com a cara um pouco mais "bonita" se comparado com os demais, mas o que mais espantava era sua cara de quem não queria estar fazendo parte daquilo.
- Sim, estou lutando contra minha própria irmã - falou ele com sua voz trêmula-.
- Qual seu nome?
- Eliot... Eliot Francis, nascido em doze de julho de mil novecentos e vinte e dois. - Disse ele em tom confiante-.
Não era possível, aquela criança tinha noventa e dois anos de idade mas com um corpo de criança.
Não conseguia acreditar, mas naquele momento eu me lembrei que naquela noite em que fomos atacados, a Senhorita Francis pedira desculpas ao irmão dela, que até então eu achava que tinha sido morto pelos caçadores, mas não, ele estava ali, bem na minha frente me encarando novamente esperando eu tomar alguma atitude.
- Mas... como? Por que?
- Não há tempo para isso mortal, minha irmã corre perigo! Ela está correndo cega pela escuridão atrás de Kenny.
- Quem é Kenny, e como faço para encontrá-la?
- Ela está indo para Yelloville neste momento, lá irá acontecer a reunião de todas as entidades para que possam captura-la e usar o sangue dela para poder finalizar o ritual. - Disse ele assustado como eu nunca pensara que um dia ele fosse ficar daquele jeito -.
- Como eles vão conseguir capturá-la? - Perguntei a ele -, sua irmã é forte, não será pega tão facilmente.
- Sim será. Eles vão usar a única coisa nesse que a enfraquece.
- Ora, mas o que?
- Eu! Eu sou a armadilha para ela. Eles irão me usar como isca para ele ir até o local de encontro das entidades onde ela ficará totalmente indefesa.
Não sabia o que falar ou dizer nem o que fazer, estava sem reação. Um integrante da entidade do mal estava ali me pedindo para salvar a própria irmã.
- O que eu faço? Como a encontro?
- Tenho que ir mortal, eles sentiram minha falta no grupo, estão me procurando. Siga a escuridão que é lá onde as respostas que você procura estarão, junto com a minha irmã, por favor, salve a Elie!
- Não, espere, eu preciso saber mais!
- Não se preocupe mortal, você terá suas respostas em breve!
E lá se foi ele, sumindo com o vento conforme as luzes da rua se ascendiam, então, tudo voltara ao normal, e eu não via mais nenhuma criança na rua.
Voltei correndo para casa tentando entender o porquê do irmão da Elie Francis ter me procurado. Eu era apenas um mortal, e quase não tinha chances de lutar contra aquelas forças, mas tinha em minhas mãos a chance de salvar uma protetora e até quem sabe o mundo.
Aquela imagem em que vira na caverna cada vez mais se parecia mais com o futuro de que eu tanto temia, mas estava em minhas mãos o poder de mudar o futuro. Yelloville seria o lugar onde tudo iria acontecer, era para lá que eu deveria ir.
Arrumei minhas malas sem escolher muito o que deveria ou não vestir, somente peguei as primeiras roupas que estavam em meu guarda roupa revirado pela minha desarrumação rotineira, então ao olhar em direção a cama vejo algo brilhando com o reflexo da luz.
Era um colar antigo onde sua ponta tinha uma forma de coração. Peguei-o para ver de quem poderia ser já que eu não possuía muitas joias ou era do tipo de cara que tivesse muitos amigos.
Ao abri-lo eu vi duas fotos dentro. Uma eu reconheci na hora, era a foto de Elie Francis sorrindo, parecia feliz com a pessoa estava ao seu lado, mas algo não estava certo, aquelas roupas que ela usava parecia ser muito antigo principalmente do menino que estava sorrindo ao seu lado que se parecia muito com.... aquele menino que eu acabara de ver, então toda aquela história era verdade, ele não estava mentindo.
Olhei atrás do pingente onde estava escrito:
" Para a melhor irmã do mundo, com amor Harry! 21/06/1921"
Como aquele colar havia aparecido ali? Não havia tempo mais para perguntas, coloquei o colar em minha mala e sai rumo à estação para poder pegar o trem e ir para Yelloville.