Saindo da casa, correram em direção à floresta. O ar gélido da madrugada cortava os pulmões de Elizabeth, fazendo-a tremer mesmo que estivesse em movimento constante. Pouco depois, já sentia seu corpo exausto e a respiração dificultosa. Lucas olhou-a sem entender.
- Ela passou por um caminho de Suavis algumas horas atrás - Theo disse em meio a um sorriso para seu amigo, respondendo seu olhar questionador. - Por isso está ainda um pouco sem forças.
Lucas riu e lançou um olhar malicioso para ela.
- Estamos sendo atacados e você quer ficar dopada, hein?
- Aparentemente, não dopada o suficiente para furar meu ombro - completou Theo, olhando para a manga de sua camiseta ainda toda ensanguentada.
- Eu já falei que sinto muito - Beth protestou em meio sua respiração ofegante.
- Não - disse ele. - Você resmungou alguma coisa, mas parecia um pato engasgado com hipotermia, e por isso eu não entendi nada.
Lucas explodiu em uma gargalhada.
- Calem a boca - Augusto falou ao se aproximar da garota e pousar a mão sobre seu braço. - Você está bem?
- Sim, obrigada.
- Ainda bem que temos Augusto, o cavalheiro, para checar se Elizabeth está bem - disse Theo com o usual meio sorriso arrogante em seus lábios, enquanto voltava a caminhar.
Todos o seguiram.
- O que pretendemos fazer quando chegarmos ao castelo? - Augusto falou, ignorando o comentário de seu amigo.
- A humana tem que dormir e sonhar com a espada, e então, quem sabe, nós possamos encontra-la, entrega-la para a Corte e terminar com essa guerra estúpida - falou Theo.
Beth sentiu raiva do tom de voz que ele usara para falar dela. O tom que ele sempre usava. No entanto, resolveu não dizer nada, porque sabia que não valeria a pena discutir com uma pessoa que não se importava com ninguém além de si mesma.
A caminhada foi longa; deve ter levado cerca de duas horas, talvez um pouco mais. O cavalo com o qual vieram teve de ser deixado para trás, visto que agora já deveria ter sido tomado pelos outros Guardiões.
O silêncio era preenchido pela respiração ofegante dela e de Vicente, porque seus amigos pareciam nem ao menos estar se movendo. Nenhum som era emanado de seus movimentos, diferente dos demais Guardiões os quais havia ela encontrado, que eram tão ruidosos quanto ela mesma.
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Estava quase amanhecendo quando chegaram ao castelo. Para a tristeza de Beth, era evidente que uma batalha havia acontecido ali. O extenso muro de pedra estava coberto com sangue em várias partes e o gramado tinha inúmeros buracos, com pedaços de tecido e metal espalhados. Alguns dos guerreiros abatidos ainda não haviam sido retirados pelos serviçais, e em meio à escuridão da madrugada, a cena conseguia ser bastante perturbadora.
Beth foi até seu quarto e tomou um banho, sentindo-se agradecida por poder ter água quente e encanada escorrendo por sua pele, que tinha mais arranhões e cortes do que ela podia contar. Seus pés doíam por causa da caminhada, assim como suas costas e pernas, mas sentia-se aliviada por finalmente estar de volta ao castelo, onde poderia - talvez - ter uma noite de sono tranquila.
Ao sair do banheiro caminhou até a janela de seu quarto, fechando as pesadas e longas cortinas. De alguma maneira, parecia que se ela não pudesse ver o que acontecia do lado de fora, estaria segura ali dentro. O pior de tudo era que realmente tinha motivos para ter medo. Toda a situação não era uma história fictícia criada pela mente de uma criança - por mais que parecesse. Era real e estava bem em frente de seus olhos: Crianças, adolescentes e adultos batalhando com instrumentos pontiagudos e cortantes uns contra os outros, sentindo prazer ao derramar sangue.
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Confidente das Estrelas
FantasyElizabeth estava certa de que teria o ano mais tranquilo de sua vida quando se mudou para um colégio interno, no estado do Rio de Janeiro, acompanhada de sua irmã, Lana, e de seu melhor amigo, Vicente. Mas então ela conheceu os outros moradores da c...