Capítulo I

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O dia estava maravilhoso, o céu estava azul sem uma única nuvem, o que era raro em São Paulo, e ainda sobrava um vento friozinho bem típico de junho. Com uma caneca de café nas mãos, ele admirava a paisagem da sacada de seu quarto. Estava acordado desde as quatro da manha por que a preocupação constante com a doença de seu filho estava lhe roubando as horas de sono, todos os parentes mais próximos haviam feito exames para verificar se eram compatíveis para doação de medula, mas infelizmente ninguém fora. Hoje, Marcos, seu primo e médico, iria levar o resultado dos últimos exames feitos em alguns primos distantes, mas que se colocaram a disposição para ajudar. Era a segunda vez na vida que passava por essa incerteza, já que sua amada esposa havia sucumbido ao câncer há seis anos. Ele iria ter força pelos dois para vencerem essa doença, pois Pedro tinha apenas nove anos e um grande futuro pela frente.

Sua família era uma das mais ricas de São Paulo, ele e seus dois irmãos pertenciam à nata da sociedade. Como não tivera irmãs, seu pai sempre que podia mimava as noras, pois, segundo o que ele sempre dizia: sua severidade era apenas para os homens da família. Diferente de sua mãe, que sempre fora cética e reservada. E que, no momento está empenhada em lhe empurrar a filha aristocrática de uma de suas amigas.

Como um grande empresário da indústria têxtil, ele controlava uma grande corporação e lidava com pessoas do mundo inteiro. Os empregados o respeitavam, pois ele cobrava quando necessário e elogiava quando faziam um bom trabalho, mas ninguém costumava provocar a fúria de Guilherme Callazans.

Imediatamente, uma frase lhe veio à mente "com esses cabelos vermelhos, é natural você ser sempre tão passional, meu caro". Céus! Há tempos não pensava nela, era uma das poucas mulheres que riam dele. Fazia piada de sua arrogância e não tinha medo de lhe dizer o quequeria. Ele era um homem de 1,90 de altura, ruivo, intensos olhos verdes, corpo defino. Ela era o completo oposto dele: não chegava aos 1,70 de altura, uma profusão de cachos naquela cor linda de chocolate e olhos castanhos meigos. Ele sorriu, mesmo sem querer, ao se lembrar dela dizendo "Não sou cor de chocolate, sou negra!". O amor veio com a convivência depois da morte de sua esposa, e ele, que sempre fora perseguido pelas mulheres mesmo estando casado, teve que aprender como conquistar uma mulher, ainda mais uma que o via como o viúvo da amiga. Mas pagou caro por isso, já que ela o traíra, e não magoara apenas a ele, pois seu filho se apegara a ela e ainda a mencionava com frequência, mas ambos estavam seguindo em frente.

Consultou o relógio que já marcava 11h00min da manha, já estava pronto para mais um almoço de domingo na casa de seus pais, onde seu filho estava, pois ele tivera que fazer uma viagem inesperada de trabalho. A campainha tocou enquanto ele pegava as chaves do carro, achou estranho, pois ninguém da portaria do condomínio o informou sobre nada. Ao abrir a porta, seus olhos não acreditaram em quem estava em sua porta. Júlio, o homem com quem Rebeca o traíra.

- Sim, eu sei que sou uma das ultimas pessoas que gostaria de ver, mas o que tenho para lhe falar não pode esperar mais.

- Não temos nada a dizer, mas meus punhos podem falar por mim.

- Olha, eu admito que nunca nos demos bem, mesmo antes de tudo, mas pretendo concertar meu erro.

- Não houve erro, eu vi vocês dois juntos.

- Ela não o traiu, eu a forcei... – mal as palavras saíram de sua boca e um punho grande lhe acertou.

- Agora você vai entrar, me contar isso e depois vou quebrar sua cara - ele deixou Júlio, que era um pouco mais baixo que ele, passar – Quero saber de tudo. Como você"forçou" Rebeca a me trair?

- Poucas pessoas sabiam, mas minha empresa estava passando por uma crise naquela época. Nunca consegui entender como essa pessoa ficou sabendo, mas um dia ela me ligou e combinamos de nos encontrar em meu escritório. Foi-me oferecido um contrato com um cliente em potencial e que, com uma boa ajuda financeira, poderia reerguer meus negócios. – ele olhou para Guilherme que parecia a ponto de explodir – Mas para isso acontecer eu teria que lhe fazer um favor, que seria encenar que nós tínhamos um caso. Em outro momento eu nunca me rebaixaria àquilo, mas estava desesperado demais. Então, fui avisado que vocês se encontrariam naquela noite. Praticamente tive que forçar minha entrada no apartamento, já que ela sabia de nossas desavenças. – ele passou as mãos no rosto – Disse que havia entrado em contato com você e que precisávamos conversar em terreno neutro, por isso tinha sugerido o seu apartamento. Ela me deu passagem pra entrar e foi trocar de roupa,pois havia saído do banho para atender a porta achando que era você, foi o tempo que precisei para fazer um café e colocar algumas gotas de. Quando ela voltou, eu disse que tinha invadido sua cozinha,pois precisava de um bom café antes da conversa que estava por vir, e ofereci a ela uma caneca. Percebi logo que estava fazendo efeito, pois os movimentos dela ficaram mais lentos e ela me disse que se sentia tonta. Foi quando me aproveitei e você nos pegou no sofá com ela quase sem roupas. – Júlio levantou as mãos quando percebeu que Guilherme partiria pra cima dele novamente – Eu não fiz nada com ela, juro era apenas pra que você pensasse que sim. Levo esse peso na consciência por três anos e pra mim já basta.

- Por que eu acreditaria em você? – cuspiu Guilherme - Nada do que você me diz faz sentido. Quem afinal de contas planejaria minha separação de Rebeca?

- Olha, eu vim aqui apenas expor a verdade. - se levanta e tira uma pequena fita, típica de câmeras de vídeo, e a colocou na mesa de centro – Aqui está a prova de que tudo o que eu disse é verdade, estou indo embora do Brasil e não queria ir sem reparar meu erro. – dizendo isso ele se encaminhou para a porta.

- Antes que se vá, quero ouvir da sua boca quem foi que armou para mim. - ele viu Júlio respirar fundo, e a revelação iria abalar tudo aquilo que ele acreditava, não estava preparado para aquilo.

- Sua mãe.


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