O dia estava lindo. Céu azul, vento frio e a caneca de café em suas mãos fazia tudo parecer quase perfeito. O inverno sempre fora sua estação preferida, afinal de contas, era sempre mais gostoso comer, dormir e trabalhar no nessa época. Seus olhos se voltaram para o grande caderno a sua frente, era ali que escrevia e desenhava os personagens de sua história infantil. Já havia se passado dois anos desde que o primeiro livro foi publicado, a história do menino Pedro e seu fiel cachorro Pitoco havia cativado o mundo das crianças. Uma vez por semana ela fazia trabalho voluntário no hospital Vaz Monteiro na ala infantil e ali, conseguia um material enorme pra suas histórias. Eles podiam estar doentes, mas a imaginação dos pequenos era imensa. Um rostinho risonho com olhos verdes brilhantes lhe veio a mente, sentia uma falta enorme daquele moleque. Dar o nome dele ao personagem principal do seu livro lhe pareceu certo. A lembrança de outros olhos verdes lhe inundou a mente, mas não podia pensar nele, lutara com unhas e dentes pra se livrar da depressão que a abatera depois do término, se mudara para Lavras, no interior de Minas Gerais, para fugir e lamber suas feridas. Ali, encontrara refugio com antigos amigos de sua tia, ajudara-os a reerguer o pequeno restaurante e sentia-se muito bem. O sucesso de seu livro havia sido uma gostosa surpresa e por incrível que pareça, lhe garantia uma renda bem substancial, ao ponto dela conseguir financiar uma casa ampla e confortável. Apesar de muitas pessoas a acharem antiga demais, esse era um dos pontos que ela mais gostava na casa, por lembra-la das antigas e grandes mansões vitorianas. Ela era bem menor, claro. Tinha um quintal enorme em que Rossi, seu grande e fiel pastor alemão, fazia bom uso e uma pequena casa nos fundos onde um casal de amigos morava. A vida estava sendo boa.
- Rebeca, sei que seu turno já acabou, mas poderia dar uma mãozinha pra gente? -perguntou Rute, uma das garçonetes -O salão está mais lotado que o normal.
- É por causa do congresso de advogados que está acontecendo. - ela respondeu, ajeitando o uniforme que nem havia tirado. O restaurante era pequeno, porém, bem aconchegante. Quando chegara à cidade se prontificara a ajudar no que fosse necessário e com o tempo dera várias ideias. Hoje, era servido café da manhã, almoço e um lanche da tarde bem variado, desde gordices até comidas bem naturais, ou seja, era um ambiente com vários tipos de pessoas de diferentes gostos.
Ela andou de mesa em mesa, anotando pedidos, cumprimentando clientes assíduos e servindo pedidos. Havia acabado de entregar duas saladas de frutas para viagem, quando dois homens altos entraram e se sentaram em uma das mesas perto da janela. Eram pai e filho, ambos irradiando a autoridade que parecia acompanhar os membros da família Callazans, ela os encarou por alguns segundos e foi atender outras mesas, podia sentir os olhares, mas pouco se importava com isso, uma página havia sido virada.
- Aqueles homens querem falar com você - falou Celso, o dono do restaurante - Está se sentindo bem? Parece-me tão pálida.
- Aquelas pessoas fazem parte do meu passado, não quero conversar com eles.
- Às vezes é melhor encarar o que deixou pra trás. - ele colocou uma garrafatérmica de café no balcão - E aqui eles não lhe farão mal, eu nunca permitiria. - o suspiro foi audível e ele ficou observando enquanto ela parava ao lado da mesa.
-Bom dia, o dono me informou que querem falar comigo.
- Bom dia Rebeca, como tem passado? - Sr.Rodolfo perguntou e a viu levantar a sobrancelha de uma forma bem própria dela - Os anos lhe fizeram bem.
- Mais um pouco de café, senhores?
- Vai fingir que não nos conhece? - indagou Sr. Rodolfo ao ser servido.
- Não estou fingindo que não conheço vocês, mas não costumo trazer minha vida pessoal para o trabalho. - ela suspirou e balançou a cabeça - Isso não é coincidência, vocês nunca viriam a essa cidade sem um motivo válido, o que querem aqui?
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Reencontrando o amor
عاطفية- Já é tarde demais! E eu já vou indo, caso contrário eu posso começar a chorar. Adeus - ela saiu, se despediu da secretária e logo chamou o elevador. Esfregava as mãos tentando aquecê-las em sinal de ansiedade. O elevador chegou vazio e ela entrou...