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-E, basicamente, é uma porcaria, Michael.-Concluí o meu monólogo sobre como a minha vida estava, deixando apenas o barulho constante da máquina de batimento cardíaco preencher o espaço.

Olhei sei emoção para a parede branca do hospital, esperando uma resposta da parte do meu melhor amigo.

-O pior é a renda. Para ser honesta, nem quero ir de boleia até casa com o Ash porque ele vai de certeza mandar vir comigo.-Admiti, sentando-me de pernas cruzadas na cadeira e apoiando o braço na cama do hospital.-A não ser que ele finalmente desista de mim. Tal como a Jess, o Aiden, a Lindsey, até a Becca já não fala comigo. Ficou magoada por qualquer coisa que eu lhe disse. E como ela namora como Aiden, ele também só anda comigo raramente. Até me admira que o Casey ainda esteja por perto. A única pessoa que não me admira que esteja é o Luke. Ele só faz isso para me irritar. Dormiu lá em casa ontem e eu expulsei-o hoje de manhã. Eu sei que me disseste para me dar bem com ele, mas eu não consigo. Desculpa.

Ele permaneciam ali. Com os tubos à sua volta, o gesso, o seu ar cansado, pouca vida irradiava dele, os seus olhos fechados, escondendo a luz por detrás deles.

-Como é que eu não reparei, Mikey? Como é que eu não reparei que estavas mal?-Questionei com os olhos húmidos, pegando na sua mão gelada, pousada ao longo do seu corpo.-Eu sei que disseste que eu não poderia fazer nada mesmo que soubesse, mas eu sei que podia...eu podia te ter ajudado...

Nada. Nem um simples suspiro.

Limpei uma lágrima que caira na minha face e apressei-me a retirar o jogo que trouxera para o hospital da minha bolsa.

-Trouxe FIFA para jogarmos, mas depois lembrei-me que eles não têm aqui consola. E sim, eu sei que não poderias jogar mas, sejamos honestos, eu sou tão má que muito provavelmente tu ainda me ganharias.-Ri-me forçadamente enquanto expunha o videojogo.

Nada. Nem um pequeno movimento.

-Por isso, lembrei-me que podíamos ler o folheto de instruções, afinal nunca o lemos.-Reparei, abrindo a embalagem e retirando de lá o panfleto.

Aproximei-me da cama onde ele se encontrava e começámos a ler. Ou melhor, comecei a ler. Li aquilo como se, a qualquer momento, o Michael pudesse falar, fazer qualquer comentário preverso sobre algo que não lembra a ninguém, ou reclamar sobre como jogar é muito melhor do que ler aquilo tudo, ou dizer algo completamente aleatório. Mas não se ouviu nada para além do barulho constante da máquina de batimento cardíaco, nem durante os espaços em que eu fazia pausas para limpar as lágrimas que teimavam em aparecer, nem quando eu falava sobre aquele jogo ao melhor jogador que eu conheço.

-E acho que é isto. Concluí que eu sou ainda pior do que pensava.-Ri sem vontade, voltando a colocar tudo na caixa e pondo-a na minha bolsa.

Voltei a fitar o rapaz e mordi o lábio para conter o choro.

-Eu sei que venho aqui para te fazer companhia e para nos animarmos mutuamente mas eu nem sequer sei se estás mesmo a ouvir-me.-Reparei, entrelaçado os meus dedos com os dele, sem que ele apertasse a minha mão.-Provavelmente dirias que ler as instruções de um jogo não é uma animação e iríamos rir da situação. É tão difícil sem ti, Mikey.

De repente o meu telemóvel tocou e eu apressei-me a pegar nele, que se encontrava na mesinha ao lado da cama, reparando que tinha uma mensagem do Ashton a dizer que estava à porta do hospital e que e me vinha buscar. Coloquei-o na minha bolsa e voltei a fitar o Michael.

-E é tão difícil deixar-te aqui no hospital e ir para casa sem saber se te vou voltar a ver.-Falei com as lágrimas prontas a cair.-Como é que eu posso seguir em frente e viver a vida ao máximo como me pediste, se vivo nesta incerteza? Constantemente com o coração a sair-me do peito. Eu preciso que voltes, Clifford. Eu prometo que a vida melhora e que tudo ficará bem. Eu imploro ao Calum para te por numa clínica de reabilitação ou assim. Eu trato de tudo! Eu dou um murro a quem gozar com a tua orientação sexual e parto a cara aos preconceituosos, ou a quem usar gay como um insulto como o Luke fez. Mas, por favor, volta.

The 1st Street || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora