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Virei-me várias vezes na cama mas não consegui adormecer. Ainda estive para aí uma hora parada na mesma posição, a pensar em coisas felizes e a prestar atenção ao meu respirar, mas nada resultou.

Levantei-me então, calçando as pantufas que estavam ao lado da minha cama, vesti o robe que até então estivera pousado na cadeira e peguei nas chaves da minha moradia. Saí do meu quarto e fui em direção à saída da minha casa, com o ressonar da Colleen a preencher o espaço.

Fechei a porta atrás de mim, mal pus um pé fora do apartamento e observei a porta do meu vizinho da frente. Fiquei a olhar para lá durante uns bons segundos, a pensar em nada em particular. Apenas a observá-la, nem sei bem porquê. Devia ser do cansaço que sentia.

De seguida aproximei-me do elevador e chamei o mesmo, para que este me levasse ao andar do terraço. Abri a porta que dava para o mesmo assim que cheguei lá a cima e o ar quente de Sydney atingiu-me, assim como as memórias, essas não tão suaves como aquela brisa.

Só então reparei no rapaz sentado encostado ao pequeno muro que era a extremidade do prédio. O cabelo loiro despenteado a cair-lhe sobre a testa, enquanto ele olhava para o céu. Ele nem reparou que eu estava ali e eu ponderei a hipótese de apenas dar meia volta e voltar para casa, mas acabei por me aproximar do meu vizinho e sentar-me ao seu lado.

-Insónia?-Questionou sem tirar os olhos das estrelas.

-É assim tão óbvio?-Perguntei irónica, dobrando os joelhos e pousando a minha cabeça nos mesmos e olhando para a ponta das minhas pantufas.

-Eu compreendo, é uma porcaria.-Ele comentou sem me olhar nos olhos.

Eu não disse nada e ele também não, ficámos os dois a olhar em frente, durante um bom bocado, talvez a pensar, ou talvez a ganhar coragem para falar, ou apenas sem forças para dizer o que quer que fosse, até ele perguntar:

-Foste ao hospital no dia 29?

-Porque é que iria?-Questionei, olhando para ele confusa.

-Porque fez oito meses que o Michael...-Ele não completou a frase, não era preciso, e finalmente olhou-me nos olhos.

A única diferença entre a cor dos seus olhos naquele momento e num dos piores momentos da minha vida que fora o dia 29 de maio era a luz que a iluminava. De resto, aquela cor ainda me atormentava.

-Não quero ir lá nos dias 29.-Expliquei e ele franziu o sobrolho.-Dispenso andar a celebrar o dia em que ele saltou.

-Não seria propriamente celebrar, er...-Ele ia continuar mas eu interrompi-o.

-Além disso, dispenso lembrar-me de quanto tempo passou.-Continuei.-Mas obrigada por me lembrares que passaram oito meses, seis dias desde que aquilo aconteceu.

-Eu sinto muito.-O rapaz disse e eu assenti.

Ele voltou a olhar para o céu e engoliu em seco. Desviei o olhar dele para a porta que dava para o interior do prédio.

-LUKE!-Exclamei num desabafo desesperado mal abri a porta de saída para o telhado, com uma série de lágrimas a cairem-me no rosto, lágrimas que nem reparara que estavam lá.

Só então vi o rapaz de olhos azuis, debruçado sobre a extremidade do prédio. Ele virou-se para mim, inundado em lágrimas, os olhos mais vermelhos do que alguma vez vira.

-Não faças isso.-Pedi, tentando acalmar-me e dizendo-me mentalmente que ia ficar tudo bem.-Por mim, não faças isso.

Ele engoliu em seco enquanto eu me aproximava dele e, para meu conforto, sentou-se no chão, encostando-se ao pequeno muro que lá tinha.

The 1st Street || Luke HemmingsOnde histórias criam vida. Descubra agora