Capítulo 1

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  Mais uma vez, a ofuscante luz branco-azulada vinda do pátio externo da Cidadela sitiadacegou a família real, os cortesãos e Companheiros Fiéis reunidos no balcão, no centro dagrande torre central da fortaleza. Em menos de uma fração de segundo, rugiu o trovão. 

O Rei Krain gemeu desesperado. 

— Pela Dama Branca, desta vez não pode haver dúvida! O feiticeiro Orogastus realmenteprovocou relâmpagos no céu azul e este último arrasou o muro do pátio interno! 

Os soldados da infantaria de Labornok entraram, às centenas, pela imensa abertura na muralha,seguidos de perto pelos cavaleiros das montanhas, conduzidos pelo brutal General Hamil. Osatacantes arrasaram os defensores da Cidadela com a facilidade com que um furacão arrasa arelva do pântano. Alguns momentos depois, viu-se outro clarão mágico e cegante, e outro emais outro, abrindo novas brechas nas muralhas, pelas quais entravam as hordas inimigas. 

- É o fim — disse o rei. — Se aquela antiga muralha com seus bastiões múltiplos pode serdemolida pelos relâmpagos mágicos de Orogastus, então a grande torre central não oferecemais nenhuma segurança! 

Voltou-se para um dos Companheiros Fiéis: 

— Lorde Sotolain, traga minha armadura. Lorde Manoparo, eu o encarrego da segurança danossa querida rainha e das princesas. Leve-as para o mais profundo e seguro baluarte dafortaleza, onde com seus cavaleiros deve defendê-las até a última gota do seu sangue. Osoutros devem se preparar para enfrentar comigo o inimigo. 

A Rainha Kalanthe apenas concordou com um gesto, mas a Princesa Anigel e suas damas decompanhia começaram a chorar. A Princesa Haramis ficou imóvel como uma estátua demármore, e só os grandes olhos azuis e os brilhantes cabelos negros disfarçavam a brancurado seu rosto, do vestido e do manto que vestia. A Princesa Kadiya, com sua roupa verde decaça, de corte masculino, desembainhou a adaga e a brandiu. 

— Sire, querido pai! Deixe-me lutar e cair ao seu lado! Prefiro isso a me esconder com asmulheres lamurientas, enquanto os homens das planícies conquistam Ruwenda! 

A rainha e os nobres olharam para ela, chocados, e a Princesa Anigel e suas damas,espantadas, pararam de chorar e se lamentar. 

A Princesa Haramis limitou-se a sorrir com frieza. 

— Irmã, acho que está dando muito valor à sua capacidade para lutar. Estes não são os vermesordinários que fogem da sua lança de brinquedo numa caçada, mas sim os intrépidos homensarmados do Rei Voltrik, protegidos pelos encantamentos de um feiticeiro de negro coração. 

— Dizem os oddlings — respondeu Kadiya — que uma mulher da casa real de Ruwendaprovocará a queda de Labornok, matando seu cruel rei! 

— E você então se arvora em nossa salvadora? — disse Haramis com um riso amargo. E comas lágrimas inundando e fazendo brilhar os olhos que pareciam duas geleiras azuis, exclamou:— Deixe disso, sua tola! Poupe-nos essa boba atitude. Não vê como você faz nossa mãesofrer? 

A rainha empertigou-se orgulhosamente. Como Anigel, usava o traje tradicional da corteruwendiana para os dias comuns, de cetim sem ornamentos, com mangas e colete rendados. Ovestido da princesa era rosa-claro, mas naquela manhã a rainha ordenara às suas damas umvestido e um manto vermelhos como sangue. 

Kalanthe disse: 

— Meu coração está repleto de mágoa e temo por todos nós, mas conheço o meu dever.Kadiya, não acredite nas profecias dos oddlings. Nossos servos nyssomus fugiram daCidadela para a segurança do Pântano Labirinto, deixando-nos aqui para enfrentar o inimigo.Quanto às suas pretensões de guerreira... — Ela começou a tossir. Os objetos mágicoslançados pelos invasores haviam ateado fogo nos prédios de madeira do pátio interno e rolosde fumaça erguiam-se sobre as muralhas. 

O Trílio Negro - Trilio - Vol 1 - Julian MayOnde histórias criam vida. Descubra agora