Capítulo 9

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A pequena embarcação nyssomu, enfeitada de flores, mais lenta agora, conduziu a frota até a ilha mais ao largo de Trevista. Na proa do primeiro barco, Lorde Osorkon erguia bem alto a bandeira vermelho-sangue de Labornok, e os cavaleiros e soldados a bordo dos outros treze barcos que transportavam as carroças de suprimento envergaram suas armaduras e mantos para entrar na cidade com toda a pompa.

— É uma pena que não vamos conhecer as ilhas do interior de Trevista desta vez — observou o mestre-mercador Edzar. — Há pontes espetaculares e a ruína maravilhosa de um observatório astronómico numa delas, com colunas curiosas que devem ter servido de suporte a antigos equipamentos. Entretanto, estou certo de que acharão interessante esta ilha externa, e afinal, não estamos aqui para ver a paisagem e sim para um contato inicial satisfatório com a Observadora Frolotu e seus associados.

— Essa Observadora é a governanta de Trevista, da qual você me falou? — perguntou o Príncipe Antar. Como seus homens, envergava a armadura com uma tiara no elmo azul alado.

— A Observadora não governa, meu príncipe, só fala por seu povo e serve como elemento de ligação entre os mestres-mercadores e os nyssomus. Mas ela é o que a cidade tem de mais parecido com um poder central — e ninguém pode enganá-la. Dizem que é capaz de ler as mentes das pessoas.

— Isso é verdade? — perguntou Orogastus, aproximando-se do grupo no convés de proa, acompanhado por suas duas Vozes. O mestre pigarreou, nervoso.

— Eu não posso afirmar, meu senhor. Verifiquei por experiência própria que ela demonstra um conhecimento incomum da intenção das pessoas — se o senhor compreende o que quero dizer.

— Está dizendo — observou o Príncipe Antar, adiantando-se ao feiticeiro que ia falar — que essa Observadora sabe quando a pessoa está mentindo ou dizendo a verdade.

— Quase com exatidão. E.. bem. isso pode dificultar nossas negociações. Especialmente no que se refere à procura das princesas. Precisamos usar de muito tato.

— Para o diabo com seu tato! — explodiu o General Hamil. — Se os oddlings se recusarem a nos ajudar na busca, nós os obrigaremos, fazendo alguns reféns. Talvez essa Observadora tenha o prazer de provar a hospitalidade de Lorde Osorkon!

O ajudante de Hamil, com sua assustadora armadura negra, riu maldosamente.

— Seria um privilégio para mim. Edzar deu de ombros.

— Se aprisionarmos a Observadora Frolotu, os nyssomus simplesmente escolherão outra. E provavelmente toda a tribo desaparecerá, como a névoa ao meio-dia, terminando nosso comércio com eles. Como já tentei explicar, meu general, nossas opções de comércio com essas estranhas criaturas são muito limitadas.

Hamil voltou-se para o feiticeiro.

— Então, deve usar sua mágica para obrigá-los.

— Veremos — respondeu Orogastus, suavemente.

— Uma vez que eu comando esta expedição — disse o Príncipe Antar —, deve ficar bem claro que serei o único a negociar com essa Observadora. A invasão de Ruwenda por Labornok foi executada especialmente para corrigir as antigas diferenças no comércio com os oddlings e para garantir um suprimento regular de matérias essenciais como minério e madeira. Falo em nome do rei meu pai quando digo que nada deve prejudicar esse comércio. Nem o desejo do grande ministro por aparelhos antigos — e, especialmente, nem a obsessão do nosso general por aquelas três jovens infelizes. Todos devem obedecer a estas ordens!

— Certamente, meu príncipe — disse Orogastus, com um sorriso.

Os olhos de Hamil iam, do Príncipe Antar, cujos vinte cavaleiros armados haviam discretamente se aproximado do seu chefe, para o feiticeiro ladeado por suas Vozes enigmáticas. Finalmente, ele disse:

O Trílio Negro - Trilio - Vol 1 - Julian MayOnde histórias criam vida. Descubra agora