Capítulo 10 - Como assim, filha?

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   Ninguém se levantou para impedir o que eu fiz. Nem mesmo a ignorante da professora. Todos estavam conscientes de que Maria merecia isso, e muito mais. Ela já deve ter infernizado muito a vida de cada pessoa que estava lá. Acho que eles não esperavam que alguém fizesse isso, e que esse alguém fosse eu! Afinal, nem eu esperava por isso.

   -Sua... - ela cuspiu um pouco de sangue - vadiazinha.

   Que dó dela, pensei. Mal sabe que piorou ainda mais com a situação.

   Dessa vez, dei um tapa muito forte na cara dela e ela caiu no chão, rindo.

   -Vamos ver como você vai ficar agora -falei baixinho e chutei ela de novo, a fazendo desmaiar - Melhor assim.

   Com isso, saí da sala por conta própria, enquanto todos batiam palmas para mim. Isso é algo que todos queriam fazer, só que nenhum teve a coragem suficiente.

   -Amor - chamou o Ashton, que me seguiu-, você sabe que você tá muito ferrada, não é?

   -Sei - bufei -, mas foi melhor fazer isso agora do que ficar aguentando desaforo dessa putinha. Quero ver ela mexer comigo de novo...- estava tão nervosa que só percebi que tinha falado português quando ele me olhou com cara de quem estava ouvindo alguém falar chinês. Suspirei e deixei pra lá. Eu não acredito que fiz isso. Eu não devia... Aquela não era eu, era algo ruim tomando conta dentro de mim... Estou arrependida... Ele deu de ombros e eu agradeci mentalmente por ter um namorado tão compreensivo, que, mesmo agora, está do meu lado.

   Chegando na secretária, a moça nos disse para esperar o diretor dentro de sua sala e que ele (que se parecia MUITO comigo, como ela disse) já estava a caminho da sua sala, voltando de uma reunião que deveria ser muito importante, deduzi.

   Já dentro da sala, dei um beijo no Ashton. Amava o beijo dele: sem pressa, aproveitando cada momento em que sua boca se encontrava com a minha. Também amava a mordida que ele dava no final, dando um gostinho de quero mais. Parecia que não havia stress quando estava com ele. Os problemas, simplesmente, sumiam.

   Ficamos assim até eu ouvir a porta se abrindo... E se fechando.

   -Nossa, moçinha... Que estrago você fez... - quando virei para ver o diretor da qual se parecia tanto comigo, não acreditei no que vi. E acho que ele também não. Não é possivel sermos tão parecidos. Ele é um coroa bonito, com os mesmos traços que eu. Porém, a palavra seguinte dele abalou meu psicológico. Me fez sentir amor, ódio, solidão, tristeza, saudade, felicidade e emoção. Isso tudo junto - Filha!...

   Voltei aos meus 2 anos de idade. Lembro que caí e bati a testa na quina da escada. Levei 3 pontos e chorei horrores. Lembro do meu pai... tentando me impedir de chorar, fazendo o possível.

   -Grazy! Grazy! - ele me chamava e colocava aos mãos na testa, como se estivesse tentando lembrar de algo - Eu esqueci meu nome - ele dizia como se fosse a coisa mais séria e verdadeira do mundo - Qual é Grazy? Qual é o meu nome? - E, no meio de risadas e lágrimas, eu respondia:

   -Jacinto Pinto

   Eu era tão inocente. Simplesmente ria pois achava seu nome engraçado e... Único.

   Onde estou? Na sala do diretor. De olhos fechados, rindo e chorando ao mesmo tempo. Sentia uma mão em meu rosto, limpando minha lágrimas: Ashton. Ouvia Jacinto chorando horrores.

   Se eu abrir os olhos, sinto que não vou lembrar de outras coisas do passado. Não abri.

   Eu tinha 3 anos. Minha mãe e eu chorávamos. Vi meu pai beijando a minha mãe e, logo, se dirigiu a mim.

   -Qualquer coisa -disse fungando -, é só você se lembrar do meu nome - eu sorri

   -Pra onde você vai, papai? - perguntei. Ele olhou pra mamãe e depois pra mim.

  -Pra um lugar onde meu nome não vai ser estranho - ele beijou minha testa e depois se dirigiu ao táxi.

  -Tchau papai! - gritei chorando e correndo atrás do táxi, como se algo importante de mim estivesse lá. Esse algo não podia ir embora, não podia... Ele era uma parte de mim, e ele me deixou.

   -Papai - deixei escapar. Quero me lembrar mais. Eu preciso lembrar mais. Isso não vai acontecer de novo.

   Suspiro e me entrego a derrota. Não consigo, de jeito nenhum, me lembrar mais nada.

   -PAI! - murmurei, abrindo os olhos e me encontro em uma poça de lágrimas.

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