Capítulo 36 - Conseguimos?

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   No banho, cuido de minhas asas com todo o cuidado do mundo, alimentada pela esperança de que logo eu sairia de lá para poder voar. Ao terminar, Nat me ajudou a vestir um vestido azul curto e larguinho, cuidou dos meus cabelos e me calçou uma rasteirinha. Quando sai do closet, James estava sentado em minha cama, me esperando. Nat ficou em pé na frente do closet,  para caso eu precisasse dela.

   -Você está linda, querida. - James me elogia e eu dou um leve sorriso.

   -Ah! Obrigada. 

   Então, ele levantou da cama para vir até mim, sorrindo malicioso, Eu não quero que ele me toque e nem sinta esse desejo por mim.


   Enquanto eu pensava nisso, com certa repugnância aparente, algo estranho acontece de uma forma estranha. O teto se quebra por inteiro, do nada. E ficamos envolvidos por muita poeira e destroços, sem conseguir enxergar nada.




   Em meio a poeria, consegui ver uma parte do quarto da qual o teto acima não estava quebrado, nem rachado, e corri até lá as cegas. Já James não teve tanta sorte. Ele estava deitado sobre a cama, com um pedaço do teto em cima de seu corpo, o impedindo de sair.

   -James. - murmuro preocupada. Por mais que ele tenha me feito muito mal -bota mal nisso!-, por mais que ele tenha me feito passar por muita raiva e sofrimento, ele não é igual aos outros monstros que vivem aqui, é o que mais chega perto de se parecer com um ser humano comum. Ele é diferente e, nele, eu encontrei um amigo. 

   Uma luz muito forte invadiu o quarto. Marcelo, Rafael e Ashton desceram pelo buraco que eles provavelmente abriram no teto. Como sempre, eles estavam lindos, só que agora de um jeito diferente. Eles transmitiam coragem e determinação, algo lindo de se ver e inexplicável para descrever. Rafael tinha em mãos uma espada que, com toda a certeza, era muito poderosa. Ela fazia com que o compartimento todo brilhasse, sua lâmina era bem fina e se assemelhava a um espelho. 

   Libertei minhas asas e procurei Nat. Estava disposta a tirar ela dali. Conheço ela a pouquíssimo tempo, mas algo me diz que ela não devia estar aqui. Tenho certeza de que ela é inocente. A achei agachada e com medo em um canto do quarto que estava ileso.

   -Vem. Eu vou te levar daqui. - eu disse e estendi minha mão para ela. Ela me olhou sem acreditar no que estava acontecendo.

   -S-sério? - ela disse gaguejando.

   -Claro que sim. Vem. Você está livre novamente. - então, peguei sua mão e, voando, a levei para Marcelo. - Você poderia segurar ela? Ela está fraca e com medo, e eu não quero que ela fica nesse lugar. - ele confirmou, sem hesitar.

   Então, fui até o Ashton e o abracei.

   -Nós conseguimos dessa vez, amor. - ele disse. - Graças a Deus. - deixei uma lágrima rolar pelo meu rosto. Finalmente algo em minha vida deu certo.

   -Ashton. - chamou Marcelo. - Precisamos ir.

   Com isso, fomos voando em direção a saída, mas aí eu me lembrei: E o James? E onde está o Rafael? O que ele vai fazer com aquela espada?

   Essa foi a pior decisão que eu já tomei em toda a minha vida: o simples ato de olhar para trás. Eu gritei, empurrei, chorei, berrei, fiz de tudo, mas de nada adiantou. Nunca irei esquecer Rafael cortando fora a cabeça de meu querido amigo e jogando-a longe.

   Eu nunca vi alguém querido morrer. Eu nunca fiquei de luto por alguém tão próximo. Isso dói, realmente. A morte nunca vai ser algo bom. Ainda mais no caso do James. Quem nos dirá se ele se arrependeu de seus pecados, de todo o seu coração? Quem nos dirá que ele se redimiu e  virou outra pessoa? Ninguém poderá nos falar isso. Mas eu vou esperar para tirar essa dúvida até o fim dos meus dias, meu querido amigo.

   Ainda chorando e gritando, me viro para dar a última olhada para seu rosto. Ele tinha aquele sorriso malicioso nos lábios, com cara de que, mesmo morto, ia aprontar alguma coisa. E também, descia uma lágrima de seus olhos, como se ele pedisse desculpa pelo o que fez e pelo o que ele vai ter que fazer. 

   Ashton me leva de lá no colo e, na nossa viagem para casa, eu chego a conclusão de que um demônio não pode morrer tão facilmente.

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