Capítulo 39 - Ayra

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Ultimamente minha vida anda bem agitada, não que ela tenha criado pernas e saido por ai a procura de agitação, não é nada disso, o fato é que eu ando aprontando mais do que deveria, o que pra mim é ótimo já pra opinião alheia... digamos que nem tanto.

Já é a terceira vez que me encontro ali, sentada, silenciada, desfrutando o tédio enquanto pessoas decidem minha vida, isso sem falar na compahia que diga-se de passagem não poderia ser pior. A sala é grande cercada por prateleiras de livros que devem ser mais velhos que eu, a típica estante de exemplares do século XVIII, livros tão empoeirados que chegam a exalar o cheiro de coisa velha. O teto de gesso é bem trabalhado com uma luminária de ferro para causar impacto, o que não da muito certo, já que o ventilador de teto que a acompanha é um transtorno, imagina uma coisa velha caindo aos pedaços girando em cima de você, agora imagine um barulho irritante quebrando o silêncio, só quem já conviveu ou teve alguma experiência parecida é capaz de compreender, não que eu seja uma anormal -pra deixar bem claro, eu não sou- mas eu acredito que não sou a única a pensar na simples hipotese de um ventilador velho de teto desabar sobre minha cabeça e decepá-la levando junto a de quem estiver por perto.

A mesa antiga de madeira ocupava o centro da sala com um amotoado de folhas e documentos, uma caxinha com lápis, borrachas, canetas, tesouras, e outros objetos devidamente organizados por cor, havia tambem um calendário e algumas pastas amarelas e azuis empilhadas em um canto. A sala era cercada por cortinas que não permitiam que a luz ocupasse o lugar por completo e alguns porta retratos estavam dispostos em uma prateleira ao fundo.

Tic..tac..tic..tac, o relógio antigo se juntava ao barulho do ventilador o que já estava me irritando, nem preciso dizer que estava batendo minhas mãos nas pernas com mais frequência do que o normal, isso sempre acontecia quando eu estava nervosa. Me levantei e fui mecher em alguns livros nas prateleiras.

_Isso está mais para um museu do que para uma escola, só tem coisa velha -Bethany murmurou

_Pensei que preferisse o termo retrô, ou vintage -comentei retirando um livro de 1980

_Não estou falando com você! -sua voz era irritada, irritante, ou os dois

_Na verdade você está -comecei a rir

_Não, não estou!

_Sim esta, falar é quando sua voz emite um som que pode ser ouvido, o que é o seu caso no momento -me virei para encará-la

Bethany estava uma fera, mas por incrivel que pareça eu não estava feliz, não se eu me ferrase com isso.

_Dane-se! -ela se virou para o outro lado

Eu já estava cansada de esperar quando o diretor entrou.

_Mas olha só quem está aqui, -o diretor Rods estava como sempre formal com seu terninho e gravata borboleta, o pouco cabelo puxado para trás e óculos bem redondos, parecia um vovô do bem, que lhe dá dinheiro e comida mas como dizem, as aparências enganam- não sei porque não estou surpreso, talvez seja porque é a sua terceira vez por aqui, não é Ayra Blom!

Me virei para encara-lo abrindo um sorriso bem falso.

_Rods querido, está mais bonito do que o habitual, e não pense que eu não reparei na sua nova gravata, essa cor lhe cai muito bem -me aproximei dele passando um de meus braços por seu ombro

_Que bom que reparou, eu realmente combino com verde musgo -ele ajeitou a pequena gravata borboleta

_Que puxação de saco pra cima do Rods -Bethany me imitou ao pronunciar seu nome

_Pra você querida Bethany, é Mr. Diretor Rods, entendido? -ele se sentou na cadeira de couro com rodinhas

_Desculpe Mr. Diretor Rods, -ela esboçou um sorriso sem graça

Um Simples Amigo, Um Grande AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora