O "sim" já havia sido dito e não houve uma pessoa que não se emocionou. Até eu que não gosto de casamentos me emocionei.
A festa está linda, a decoração é vermelha e branca, as mesas estão dispostas por todo o salão, as pessoas se acomodam e os garçons já estão começando a servir as bebidas.
Depois de pousar para tantas fotos e chorar horrores na cerimônia, decido ir retocar a maquiagem, eu pego minha bolsa, reparo que o banheiro está lotado, então sigo até a parte externa do salão que tem um canteiro de flores com um muro bem baixo quase da altura de um degrau, onde posso aproveitar e fumar um cigarro, ou dois.
Com um cigarro e um espelho em uma mão e o batom vermelho na outra pintando os meus lábios, eu escuto o som de click de uma câmera sobre mim. Quando levanto os meus olhos um dos fotógrafos do casamento está segurando a câmera na altura dos olhos, tirando fotos de mim.
- Você não deveria estar fotografando a noiva? - Eu insinuo, voltando os meus olhos para o espelho, dou um trago no meu cigarro.
- É que, na verdade, essa era pra ser minha pausa pro cigarro, mas alguém roubou o meu fumódromo improvisado. - Ele responde tão gentilmente. O tom de sua voz faz eu levantar a cabeça e quando me levanto quase engasgo com a fumaça do cigarro. Ele baixa a câmera e me dá um sorriso torto. Ele é bem alto, sua pele é branca, os olhos são cor de mel, cabelo preto bem penteado formando um leve topete na frente, ele tem barba e bigode muito bem feitos, o que estranhamente combina com ele, de sua cintura pende uma calça preta social e uma camisa branca também social com as mangas dobradas.
- Esse lugar é enorme, você precisa mesmo fumar aqui? - Minhas palavras quase não saem, estou chocada com toda a beleza dele. Mas faço um esforço para parecer mais grossa do que o normal.
- Me desculpe, eu só não resisti à paisagem. Uma taça de vinho no chão, um cigarro na mão, um batom vermelho, um par de cintas-liga e uma mulher bonita, me pareceram um ótimo conjunto para um retrato.
Eu ajusto meu vestido na falha tentativa de esconder as cintas-liga e dou outro trago no cigarro.
- Obrigado, mas, minha irmã não vai gostar de ver essa foto no álbum de casamento dela, então por favor apague. - Minhas palavras são secas. Ele acha que vai conseguir alguma coisa comigo só por me elogiar, mas eu não sou esse tipo de mulher que ele está acostumado.
- Ela não é para o álbum, mas pensando bem, seria uma boa foto de casamento, uma irmã que deu o seu máximo para que o casamento de sua única irmã fosse perfeito, resolveu fazer uma pausa para o cigarro na tentativa de se acalmar depois de tanto trabalho e, por que não aproveitar e retocar o batom. Afinal são esses detalhes que fazem uma festa de casamento ser o que é - Uaal, que porra foi essa? Confesso que estou impressionada, mas não posso deixar ele perceber isso, está na cara que ele diz isso pra todas irem pra cama com ele.
- Sério? Isso sempre funciona com as mulheres? Toda essa merda de detalhes.
- Eu nunca disse isso pra ninguém, mas será que vai funcionar? - Ele tem uma expressão confusa em seu rosto, como se não estivesse esperando aquela resposta, é claro que ele não espera, a maioria das mulheres se derreteriam por ele, mas eu não sou a maioria das mulheres eu conheço bem o tipo dele.
- Talvez funcione com as outras, não comigo, eu não sou esse tipo que você está acostumado - Eu recolho minhas coisas, me levanto e caminho na direção dele para a entrada do salão.
- E que tipo de mulher você é? - Ele segura o meu braço e diz no meu ouvido quando eu passo por ele. Eu fico paralisada, caramba, o toque dele tem uma reação estranha no meu corpo, como um choque, eu nunca senti isso na minha vida.
- O tipo de mulher que você deve se manter longe. - Eu não posso baixar a guarda, não agora que a minha vida está perfeita, por mais tentador que ele seja, eu não consigo. Me afasto dele e me perco no meio da multidão sem olhar pra trás.
De repente sinto uma mão puxando o meu ombro pra trás.
- Evie onde você se meteu? Vem, só falta você, todas as damas estão na mesa do bolo para a foto. -Líli grita no meu ouvido por causa da música alto. Ótimo, mais fotos, eu não aguento mais dar sorrisos falsos, minhas bochechas já estão doloridas. Ela me arrasta no meio dos convidados que conversam entre sí.
Eu não consigo pensar em mais nada além daquele maldito fotógrafo, ele é tão sexy e...
- Evie? Evie? - Eu olho para minha irmã que grita freneticamente meu nome e todos olham para mim.
- Onde você está com a cabeça? Venha, você é minha irmã tem que ficar do meu lado.
- Ah... É, claro.
Mas quando eu olho para cima, é aquele fotógrafo filho da puta que vai nos fotografar. Ele está olhando fixamente para mim, como um falcão mantém os olhos em sua vítima, eu serei sua próxima vítima? Eu acho que não.
- Sorriam para a foto meninas - Ele ordena docemente sem tirar os seus olhos de mim, e eu tenho a leve sensação de que ele bate uma foto só minha primeiro e depois captura todas nós.
A festa acabou, Líli e Alonzo já partiram para a lua de mel, só restam eu, o pessoal do buffet e os fotógrafos. Eu estou levando os presentes para o meu carro, para levar ao novo apartamento da Líli pela manhã, enquanto os outros recolhem os equipamentos e limpam o salão. Estou exausta, meus pés estão inchados e doem, finalmente os presentes acabam e resolvo fazer uma pausa e fumar, paro na mesa onde minha bolsa está e procuro pelo meu cigarro, que estranho eu tinha certeza que estava aqui. Ah não, droga eu devo ter esquecido lá fora.
- É isso que você está procurando? - Paro de revirar minha bolsa e olho pra cima reconhecendo aquela maldita voz aveludada. - Você deixou lá fora no chão, quando se levantou para me dar um fora. - Ele coloca o maço de Marlboro Gold em cima da mesa, e vira as costas sem me deixar dizer nada.
- Ei, eu vou fumar agora, quer se juntar a mim? - Droga, que porra eu tô fazendo?
- Oh... Er... Eu adoraria. - Primeiro ele me olha confuso como se não esperasse por aquilo, mas depois abre um sorriso encantador.
- Trabalha a muito tempo com fotografia? - Pergunto quando nos sentamos no canteiro de flores, eu não faço idéia do que dizer, isso foi a única coisa que consegui formular.
- Seis anos. Não é muito tempo mas, adquiri bastante experiência nesse tempo. Você pode me emprestar seu isqueiro, esqueci o meu lá dentro. - Dou meu isqueiro pra ele, nossas mãos se tocam e aquela sensação surge de novo, aquele choque faz com que nossos olhares se encontre, dou um trago no cigarro para desviar o olhar, ele muda de assunto.
- A dor precisa ser sentida - Ele lê no meu isqueiro.- O que quer dizer?
- A dor faz com que fiquemos fortes, como se criasse um escudo para as coisas que nos machuca, a dor é parte do processo de crescimento do que somos, então é importante que seja sentida.
- Você acha que a dor faz com que você seja imune aos sentimentos? Isso é loucura, você não pode evitar os sentimentos, as emoções, essas coisas são espontâneas.
- Imune não, alerta sim. Sei que não posso evitar, mas posso tentar me afastar de certas emoções, para não me machucar.
- Isso não funciona na prática, você sabe disso, e se você se apaixonar? Como vai ser afastar?
- Você acredita nessas coisas? Acha que o amor existe? O amor é só uma fantasia que faz as pessoas serem trouxas, nada mais.
- Isso não é verdade, você sabe que não é. Você não pode lutar com o amor! - Essa conversa está ficando muito profunda, os olhos dele me perfuram, ele está procurando uma ponta de verdade nas minhas palavras, ele está tentando descobrir se eu tenho convicção no que eu digo.
- E porque não? - Agora estou realmente interessada no que ele vai dizer.
- Por que você perde. O amor é a única coisa mais forte que a morte.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Da dor ao amor
RandomEvelyn Bittencourt, uma ex-modelo cheia de fantasmas do passado que, foi traída por seu noivo nas vésperas de seu casamento, e escreve um livro aconselhando as mulheres sobre como não devem confiar nos homens. Ela se julga feliz e completa, e diz a...