Noite de sexta

118 5 0
                                    

Aquela rua ao pé do morro nunca foi tranquila, mas naquela noite a coisa tinha ficado muito pior. O som de tiros era contínuo e demonstrava o uso de diversos tipos de armas. Os moradores já haviam criado o seu próprio toque de recolher há décadas. Ninguém de pleno juízo arriscava-se em noite de guerra carioca.
Existem dois grupos criminosos no morro, ambos rivais e que, utilizando logísticas diferentes, procuram obter o poder na comunidade. Red Eye e Treta são os nomes desses grupos, o primeiro possui um sistema e uma forma de agir sofisticada, produzem e vendem drogas sintéticas, LSD, Êxtase, e se por ventura um de seus clientes deixa de pagar, eles não o matam, eles sequestram, extorquem e recebem de qualquer forma. Seus clientes não são viciados declarados ou os próprios moradores do morro, como é o caso dos clientes do Treta, eles vendem para gente grande, empresários, universitários, enfim, pessoas com dinheiro e reputação.
O Treta é aquele tipo de grupo criado por um traficante que foi crescendo no crime, conquistou a confiança do fornecedor e abriu uma filial que consegue receber mais cocaína e cannabis do que o depósito da narcóticos consegue receber em cinco anos. Eles não se preocupam se são discretos, como são os membros do Red Eye, andam com armas na mão em meio as ruas estreitas e as vielas da comunidade. Também não aceitam calote, mas seu jogo é outro, ou paga ou morre, suas cobranças são praticadas a qualquer momento e em qualquer lugar.
O crime parece ser o único ponto de semelhança entre esses dois grupos, entretanto, há outro, ambos possuem o mesmo inimigo: a polícia.
--------------------------------------------------------------------------------------

Departamento de Narcóticos, Rio de Janeiro, 23h00min de uma noite de sexta.
Ali o som de tiros também era contínuo, porém, eram de um mesmo tipo de arma, pistolas .40 que estavam sendo usadas em treino de aptidão pelos detetives que prestavam plantão naquela noite.
- Senhores! Gusmão, Wellington! - Um agente chamava os ivestigadores.
Eles, é claro, não ouviram. Estavam usando protetores auriculares. Logo que cessaram os tiros, o agente os chamou novamente:
- Inspetor Gusmão, detetive Wellington, estão solicitando a presença dos senhores naquela região investigada.
Gusmão é o Inspetor chefe da divisão, vindo de uma linhagem de policiais, seu avô, em pleno tempo de ditadura, e seu pai ainda em atividade no Departamento de Homicídios. Gusmão é experiente e fugaz. Carioca da gema, mora no Leblon e gosta de noitadas, entretanto, nunca deixa que elas interfiram no seu trabalho. Com 15 anos na narcóticos, ele conseguiu um reconhecimento enorme no mundo policial.
Wellington, detetive novato, dois anos de polícia. Inspirado pelo desejo de justiça, ele trabalha com dedicação e perspicácia. Wellington se dedica inteiramente ao que faz, o seu melhor passatempo, como ele mesmo afirma, é colocar criminosos na cadeia. Deixou salvador ainda jovem para se aventurar no Rio. Atualmente mora na Tijuca, casado e com uma filha de um ano de idade. Formal, é o que Wellington deseja ser nas reuniões, e principalmente nas conversas com o Delegado Moreira.
- Qual é a novidade? - Perguntou Gusmão.
- Parece que, em meio a uma operação da PM, membros do Treta fugiram em direção a um galpão interditado e se depararam com membros do Red Eye. A troca de tiros começou, mas os policiais conseguiram apreender dois indivíduos.
- Pessoal de que grupo? - Perguntou Wellington.
- Ainda não temos essa informação detetive.
Não demorou muito até que os investigadores estivessem a caminho da comunidade.
--------------------------------------------------------------------------------------

Beto, traficante barra pesada, conhecido como cobrador, chefiava, naquela sexta- feira, uma equipe de criminosos com o intuito de subir o morro para cobrar algumas dívidas.
- Vamo pô, rápido, vem mermão. - Gritava Beto aos seus companheiros.
- Calma chefe, os cara já deixou a gente.
- Bora, bora... - Repetia apreensivo.
Beto acabava de ser surpreendido pela PM, e pior ainda, se deparou com os seus rivais. Em meio ao tiroteio, três dos criminosos que acompanhavam Beto morreram. Ele é uma das cabeças do Treta, não seria se não merecesse, é inteligente, sabe que não dá para encarar o Red Eye sem uma estratégia montada, muito menos de surpresa.
--------------------------------------------------------------------------------------

Um caso além da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora