O Segredo

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Na manhã do dia seguinte Beto estava extremamente cansado e havia ferimentos espalhados pelo seu corpo. Apesar de ser o interrogador, Gusmão também estava cansado, passara a noite acordado tentando fazer Beto falar. Wellington se recusou a ver
o resto do interrogatório a partir do momento em que Gusmão colocou os eletrodos na água e submergiu a cabeça de Beto.
O interrogatório só terminou, ou melhor, teve uma pausa, ao amanhecer, quando Breno temeu que Beto não resistisse a mais uma sessão de choques.
Algoritmo já havia voltado a vigiar o DP e a tentar desmascarar o chefe supremo, e, portanto, Wellington ficou encarregado de preparar o café. Isso foi doloroso para Wellington, uma vez que ele, sempre que podia, fazia o café da manhã com sua esposa Eliza.
Após servir o café, Wellington saiu do casebre e ficou admirando a estradinha de acesso ao “casebre”, lá no alto ele viu um carro que se aproximava e achou melhor avisar Breno. Ao ouvir, Breno sacou a arma, saiu do “casebre” e observou o carro.
— Não se preocupem. — Disse Breno guardando a arma. — É o Bolívar e a Lorrane trazendo a Júlia.
— Mas aquele carro não é o dele. — Disse Wellington observando um utilitário preto estacionar próximo à motocicleta de Lorrane.
— Não é mesmo. — Disse Breno em tom calmo. — Deve ser o carro da Júlia.
A porta do carro se abriu e Bolívar desceu rapidamente para abrir a porta do passageiro para tirar Júlia do carro. Lorrane desceu logo em seguida.
— Que saudade de você, Penélope... — Disse Lorrane acariciado sua motocicleta. — Aqui está. — Disse Bolívar segurando o braço de Júlia. — Muito bem Bolívar! — Disse Breno animado.
Júlia estava vendada e amordaçada de modo que não podia ver nem falar, no entanto, não estava amarrada ou algemada. Era uma mulher jovem, vinte e oito anos no máximo, loura, apesar da situação, tinha uma expressão calma e o rosto bem definido.
— Tire a venda e a mordaça, Bolívar. — Disse Breno.
No momento em que a venda foi tirada, ela olhou para Breno e sibilou de forma nervosa.
— Você... Você... — Ela fez uma pausa observou em volta e levou sua mão à boca.
— Bom dia, Júlia. — Disse Breno sorrindo ao ver a admiração de Júlia. — Achou que meus amigos estivessem mortos?
Júlia olhava fixamente para Gusmão e Wellington, seus olhos azuis brilhavam de um para o outro. Eles não se lembravam de onde conheciam aquela mulher, mas, sabiam que já tinham vistro ela.
— Não é possível... — Disse ela lentamente.
— Bom, acho que não vai se importar pelo fato de ter sido sequestrada... — Disse Breno esperançoso.
— Seu louco! Por que simplesmente não me disse...
— E você viria? — Interrompeu-a Breno.
— Claro! — Júlia exclamou.
— E traria o exército, a marinha e não duvido que chamasse os caças da FAB.
Lorrane deixou sua motocicleta e foi até onde o grupo conversava.
— Julhinha... Quanto tempo... — Disse Lorrane em tom provocador.
— Você de novo... — Respondeu ela insatisfeita ao ver Lorrane.
— Entre Júlia. — Disse Breno lhe indicando a porta do “casebre” enquanto lançava um olhar ameaçador em Lorrane.
Ao entrar Júlia se sentou no puff que acabara de retirar de uma prateleira no canto da sala. Isso provocou indignação em Wellington.
— Você já esteve aqui antes? — Perguntou Wellington ligeiramente boquiaberto.
— Ah... Sim. — Respondeu ela com igual indignação. — Eu não acredito que vocês estejam vivos...
— Acho que vou ter que contar a história novamente... — Disse Breno, mas, antes que pudesse começar, foi interrompido por Algoritmo.
— Júlia! — Exclamou ele com uma expressão extremamente feliz e disposta.
— Se não é o Haker que quase me fez ir para a cadeia. — Ela respondeu um pouco ríspida.
— Não são memórias boas, temos outras melhores... — Disse ele lançando a Júlia um olhar de admiração.
O diálogo entre os dois não foi nada produtivo e Breno teve que interferir antes que Júlia resolvesse partir para cima de Algoritmo.
— Chega! — Bradou ele. — Vou lhe contar tudo que aconteceu nesses últimos dias, Júlia.
— Quero muito ouvir, mas, não pense que eu perdoei esse sequestro maluco. — Resmungou ela.
Breno contou toda a história a Júlia, desde os atentados até o sequestro de Beto, o que fez Júlia balançar a cabeça negativamente. Ele também explicou a Gusmão e Wellington que Júlia era da corregedoria.
— Você pensa em tudo, Breno... — Disse Wellington animado.
— Uma boa jogada. — Concordou Gusmão sóbrio. — Mas vamos voltar ao interrogatório...
— Interrogatório? — Perguntou Júlia com assustada. — Você não está dizendo que vão fazer um interrogatório, está?
— Claro que não vamos... — Entreviu Breno. — Já estamos fazendo.
— Eu não vou compactuar com isso! — Ela disse bruscamente.
— E se eu lhe disser que o interrogado é nada menos que Alberto Gomes? — Disse Breno com ar de satisfação.
— Aquele patife do Treta, o mais procurado do Rio de Janeiro? — Perguntou Júlia com todo o repúdio possível.
— Exatamente... — Respondeu Breno.
— Não acredito.
— Pois venha ver... — Breno se levantou e pediu para que ela o seguisse.
Ao chegarem ao porão, Júlia deixou escapar um grito de terror e incredulidade ao ver Beto amarrado a uma cadeira.
— Como vocês o pegaram? — Perguntou Júlia. — Vocês estão torturando ele?
— O Red Eye está atrás dele. — Disse Breno impaciente. — Ele não quer nos falar o motivo.
— Mas precisa disso? — Disse Júlia apontando para as queimaduras causadas pelos choques.
— Você sabe quantas pessoas ele matou? — Gusmão entrou na conversa.
Júlia fez uma pausa e meneou a cabeça lentamente.
— Ah... Muitas, ele era o cobrador do Treta, o capacho do chefe Méier. — Disse ela em tom frio. — Mas...
— Mas, nada. — Disse Breno com o tom ligeiramente grosso. — Por causa dessa bandidagem é que meus amigos tiveram que se fingir de mortos, largarem a família e os amigos. Não vou deixar que continuem a fazer isso. E se isso significa que eu terei que sujar as minhas mãos, eu terei o maior prazer.
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Um mês depois.
A vida de Eliza não poderia estar pior. Ela não suportava nem superava a falta que sentia de Wellington. A cada vez que olhava o distintivo do marido colocado na estante ao lado de uma foto dele, ela sentia que seu coração parecia estar se partindo, uma dor terrível lhe atingia e a saudade fazia com que ela desabasse em lágrimas.
Priscila lembrava as características de Wellington, o que fazia com que Eliza chorasse mais ainda, mas, isso também trazia felicidade ao Eliza lembrar que Wellington sempre estaria por perto.
A família de Wellington já havia retornado a Salvador, e Eliza ficou sozinha, relembrando toda aquela tragédia. Tinha apoio constante do Delegado Moreira, grande amigo de Gusmão e Wellington. Também não deixou de ter apoio do Delegado Henrique, pai de Gusmão.
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Já havia se passado um mês, e o interrogatório não obteve resultado, Júlia queria que Breno deixasse que ela falasse com Beto, mas Breno negou o pedido. Breno não queria que Júlia piorasse a situação.
Nesse período, tanto Júlia quanto Lorrane pediram férias, para que assim pudessem acompanhar o desenrolar daquela história que mais parecia uma novela.
As duas mulheres do grupo tinham algum problema sério entre elas, como observou Wellington. Elas mal trocavam olhares, palavras então... Quando isso acontecia era um presságio para o começo de uma briga, que tinha que só era interferida por Breno. Gusmão e Wellington não ousavam falar qualquer coisa, Bolívar nem ao menos levantava o olhar para a briga e Algoritmo se retirava logo que a mesma começava.
Algoritmo não conseguiu encontrar nada que pudesse ajudar no caso. No entanto, ele estava atento a qualquer coisa que acontecia naquele DP e no DH.
— Me deixe falar com ele. — Pediu Júlia a Breno. — Ele vai falar.
— Não. — Respondeu Breno com impaciência. — Se ele não falou sob tortura por que ele iria lhe falar?
— Me deixe tentar pelo menos. — Respondeu ela com uma expressão de ansiedade.
— Ela tem razão. — Disse Wellington. — Não custaria tentar.
— Também acho. — Disse Bolívar que foi metralhado pelo olhar de Lorrane.
— Ok, então. — Disse Breno. — Você tem meia hora.
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O Chefe Supremo quase surtou com o sumiço de Beto, ou melhor, do segredo que Beto guardava. Não acreditava que Beto estivesse morto.
— Alguma novidade Wilson? — Perguntou o Chefe Supremo.
— Nada... — Respondeu Wilson.
— Vocês são uns incompetentes.
— O Alexandre piorou senhor. — Disse Wilson com a expressão carregada.
— Não me importa! — Berrou o Chefe Supremo. — Cansei desse cara!
— Não diga isso, senhor. — Disse Wilson.
— Vamos até lá. — Disse o Chefe Supremo de repente. — Vamos acabar com isso.
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Vinte minutos depois, a Júlia chegou correndo à sala onde todos estavam reunidos esperando-a.
— Venham comigo! — Disse ela ofegante.
— Para onde? — Perguntou Breno surpreso.
— Temos que voltar ao Rio o mais rápido possível. — Disse ela se recuperando. — Venham!
— Vou pegar as armas. — Disse Bolívar.
— Vou pegar o furgão. — Breno correu porta a fora.
Todos estavam correndo de um lado para o outro, mas Lorrane nem ao menos se mexeu.
— Você vai ficar aí? — Perguntou Bolívar.
— Por quê? — Perguntou Lorrane indiferente.
— Olha, você tem que deixar esses seus ciúmes de lado, nós precisamos ajudar. Olhe, em primeiro lugar, eu nunca tive nada com a Júlia, além de amizade. Em segundo lugar,
o Gusmão e o Wellington não têm nada a ver com isso. E por último, eu nunca traí você, nem com a Júlia, nem com qualquer outra.
Lorrane não respondeu, mas Bolívar percebeu que ela havia gostado que ele houvesse lhe dito aquilo.
Não demorou muito e todos eles estavam dentro do furgão em direção ao Rio.
— Nós precisamos chegar ao DP, rápido. — Disse Júlia preocupada.
— Diz logo o que está acontecendo! — Pediu Breno nervoso.
— Vocês vão saber na hora certa.
Eles chegaram ao DP e Júlia pediu para que eles ficassem no carro. Ela foi até o DP e sem demorar voltou correndo.
— Vamos! — Ela sibilou logo que entrou no furgão. — Temos que chegar nesse endereço em Bangu. — Disse ela entregando um papel a Breno.
— Nem adianta pedir para explicar, não é? — Disse Breno sem obter resposta.
— Acho melhor preparar as armas. — Disse Júlia empunhando uma pistola .40.
— Você dizendo isso? — Perguntou Lorrane parecendo querer provocar uma briga.
O pensamento de Júlia estava muito longe para que ela se importasse com o que Lorrane dizia.
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O Chefe Supremo chegou àquela casinha em Bangu e sacou um revólver dourado e se dirigiu em direção à porta em meio as suplicas de Wilson.
— Não precisa matá-lo...
— Ele vai acabar nos comprometendo. Se a polícia o pegar, nós vamos cair juntos. — Disse o Chefe Supremo nervoso e decidido.
— A gente o manda para fora do país...
— Esquece Wilson, agora é o fim dele.
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— Ali! — Gritou Júlia ao avistar o endereço em Bangu.
Eles não estavam acreditando no que viam. A pessoa em quem Wellington e Gusmão tinham plena confiança estava parado ali, ao lado de um criminoso procurado.
— Não acredito... — Disse Wellington trêmulo. — Você tem certeza Júlia?
— Vocês não estão vendo? — Disse Júlia impaciente. — O cara ao lado dele é o tal de Wilson, o cara fugiu da prisão há quatro anos. Ele foi preso por ligação com o Red Eye.
Enquanto eles estavam conversando, Gusmão não com seguiu suportar o ódio e já estava indo em direção à casa.
— Que droga! — Exclamou Breno. — O Gusmão está indo para lá.
— Vamos! — Gritou Wellington tomado pelo ódio.
Eles só conseguiram alcançar Gusmão quando ele já estava muito próximo a casa.
— Seu desgraçado! — Gritou Gusmão quando estava se aproximando.
A discussão entre o Chefe Supremo e Wilson estava tão intensa que ele só percebeu que Gusmão estava se aproximando quando ouviu ele gritando.
— Gusmão?! — O Chefe Supremo ficou pálido de uma forma que Wilson nunca vira. — Você está vivo?
Nesse momento, Breno percebeu que haviam se esquecido de pegar as toucas ninjas, mas logo percebeu que não faria diferença.
— Não graças a você seu miserável. — Disse enquanto se aproximava mais ainda.
— Do que está falando? — Perguntou tentando fingir que não sabia de nada.
— Nós já sabemos de tudo Moreira! — Gritou Wellington que vinha logo atrás de Gusmão.
Moreira percebeu que a casa havia caído, e ao olhar para as armas que o grupo empunhava correu em direção à casa, sendo seguido por Wilson que sacava sua arma.
— Atira Wilson! — Berrou o Chefe Supremo!
O Chefe Supremo se atirou na porta e a abriu imediatamente. Wilson também entrou ainda atirando contra o grupo que se escondia atrás do carro do Chefe Supremo e da árvore que ali havia.
— Não podemos deixá-los fugir! — Gritou Gusmão que estava ao lado de Lorrane atrás da árvore.
— Eu vou pelos fundos! — Bolívar saiu correndo com o fuzil em mãos.
— Eu vou ajudá-lo! — Lorrane correu também para o outro lado da casa.
— Algoritmo sai desse furgão e vem me dar cobertura! — Gritou Breno ao rádio. Rápido!
Algoritmo, nem um pouco acostumado com atividades de campo chegou um pouco atrapalhado até eles.
Moreira e Wilson estavam tão desesperados para se esconder que se esqueceram que Alexandre estava dentro da casa.
— Me solte! Seu louco! Atira nele Wilson, atira! — Gritou Moreira.
Wilson estava em desespero, Gusmão e Wellington não poupavam tiros, e ali dentro Alexandre atacava Moreira. A arma de Moreira havia caído quando Alexandre o acertou com um soco.
— Estou sem munição! — Disse Wilson muito trêmulo.
— Pega minha arma! — Gritava Moreira sangrando com os ataques ferozes de Alexandre.
Wilson correu até a arma, mas não conseguia apertar o gatilho, ele estava prestes a atirar no seu único e verdadeiro amigo. Wilson foi perdendo as forças, não conseguia, a arma caiu de sua mão e nesse exato momento Gusmão acertou-o pela janela. O tiro atingiu as costas de Wilson na direção do coração. Ele caiu para frente em cima da arma que Moreira tentava alcançar, Alexandre foi mais rápido e pegou a arma ensanguentada.
Ele atirou. Moreira estava morto. Bolívar arrombou a porta dos fundos e ele e Lorrane entraram e se depararam com um homem extremamente magro e que discutia consigo mesmo.
— Eu não devia ter atirado! — Gritava. — Ele matou seus irmãos! — Falava com uma voz mais grossa.
— Solta a arma! — Gritou Gusmão às suas costas apontando uma pistola na direção de Alexandre.
— Não atira Gusmão! — Sibilou Wellington se aproximando de Alexandre. — Ele parece ser esquizofrênico.
— Cuidado Wellington... — Disse Gusmão ainda empunhando a arma.
— Me dê aqui... — Disse Wellington pegando a arma na mão de Alexandre.
Eles ouviram as sirenes, a polícia estava chegando, Alexandre estava sentado na calçada, ainda conversando consigo mesmo, sendo vigiado de perto por Lorrane.
A primeira viatura chegou e os policiais que desceram quase caíram de susto. Eles ficaram impressionados ao ver Gusmão e Wellington, os investigadores do Departamento de Narcóticos que foram mortos em uma explosão causada pelo Red Eye.
Ao chegar dos policiais, Wellington narrou toda a história, mas muitos não acreditavam nenhum pouco naquela aventura cinematográfica. Por isso a intervenção de Júlia e Lorrane, integrantes ativas da polícia, foi crucial.
Alexandre foi levado diretamente a um centro de tratamento para que se controlasse e pudesse se alimentar. Os médicos que o atenderam afirmaram que era um milagre ele não ter morrido por inanição, ele acreditava que a comida estivesse envenenada.
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Sentada na poltrona estava Eliza, observando Priscila brincar. A campainha tocou. Ela se levantou e foi atender.
— Boa tarde. — Disse Breno amistosamente.
— Boa tarde, o que deseja? — Perguntou Eliza que não conhecia aquele homem.
— Eu tenho uma surpresa para você e para sua filha.
— Do que está falando. Eu nem te conhe... — Eliza ia dizendo quando Breno apontou para o carro e a porta se abriu.
Eliza quase desmaiou, não podia acreditar, Wellington estava vivo e vinha correndo em sua direção com os olhos cheios de lágrimas.
Demorou um pouco para que Wellington contasse a história devido ao choro dele e de Eliza. Breno voltou ao carro e se encaminhou para o DH.
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— Milena, onde estão aqueles arquivos do caso da semana passada? — Perguntou Henrique.
— Estão aqui, Doutor... — Respondeu Milena entregando os documentos a Henrique.
— Obrigado Mile... — Henrique parou subtamente de falar e deixou a pasta com os documentos cair.
Na porta da sala estava Gusmão. Milena deixou escapar um grito...
— Pai! — Disse Gusmão meio rouco.
— Gusmão! Meu filho! — Disse Henrique que se apressou para abraçar seu filho.
A história foi novamente contada, às vezes pausada por Breno que pedia desculpas incessantes ao doutor Moreira, que não via motivos para lhe culpar, havia ajudado seu filho a fugir da morte e isso já bastava.
Bolívar, Júlia, Algoritmo e Lorrane também ficaram ali ouvindo novamente a história.
— Mas ainda falta uma coisa, Júlia. — Disse Breno pensativo. — Você ainda não explicou como soube que o Moreira era o chefe do Red Eye.
— Muito simples. — Disse ela com satisfação. — O Beto me contou.
— Beto? — Perguntou Breno assustado. — Você está se referindo a Alberto Gomes, aquele criminoso nojento?
— Precisamente... Ou Beto, como a namorada dele o chama. — Respondeu ela com ar de superioridade.
— Explica logo, Júlia. — Ordenou Breno impaciente.
— Uma garota, chamada Laura, me procurou há algum tempo para denunciar o comportamento de policiais que invadiram sua casa. Eu encontrei o registro da operação naquela casa, mas não encontrei o nome dos policiais envolvidos, o que levantou minhas suspeitas. — Ela fez uma pausa para se lembrar do ocorrido. — Fui até a casa, que com certeza havia sido invadida de forma ilegal. Só que outra coisa me chamou atenção, havia um quarto nos fundos que parecia ter abrigado alguém.
— Compreendo o raciocínio, continue, por favor. — Disse Henrique muito atento à história.
— Até aí nada fazia sentido nenhum. Tudo mudou quando vocês me “levarem” ao “casebre”. — Ela olhou de esguelha para Breno. — Eu já tinha conversado com o Delegado Araújo sobre o tal de Alberto Gomes, ele é um membro do Treta, ou era. Quando eu escutei a história de vocês eu não percebi, mas depois de alguns dias, as coisas foram se esclarecendo e eu descobri que o Alberto Gomes era Beto, o namorado de Laura que desapareceu no dia da operação. Por isso eu queria falar com ele. Sabia que se eu prometesse ajudá-lo a rever Laura, ele diria toda a verdade. E disse. Contou que um dia ele foi preso com um membro do Red Eye, o Alexandre, aquele homem que estava na casa em Bangu. Mas uma coisa mudou a vida do Alberto para sempre, ele descobriu que o chefe do Red Eye era o Delegado Moreira, descobriu porque foi ele quem soltou Alexandre e Alberto da cadeia.
— Incrível... — Disse Breno pensativo. — Mas ainda falta uma coisa, como você sabia que o Moreira estaria naquele endereço em Bangu.
— O Alberto me disse. Era o local onde ele e Alexandre se encontravam com Moreira para as reuniões do Red Eye. Eu procurei no DP e ninguém sabia dizer para onde Moreira tinha ido, então eu apostei todas as fichas que ele estava em Bangu, eu não tinha certeza disso. — Disse Júlia pensativa, mas, satisfeita.
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Uma semana depois.
— Eu te amo, sabia? — Disse Milena apaixonadamente.
— Sim... — Disse Gusmão com ar de superioridade. — Desde aquele interrogatório para saber se nós tínhamos matado os criminosos sob custódia.
— Eu nunca duvidei que você era inocente.
— Sei... — Disse Gusmão acolhendo Milena em seu abraço.
Mais um pouco a frente deles estavam Wellington, Eliza e Priscila.
— Eu nunca mais vou deixar vocês! — Disse Wellington acariciando o rosto de Priscila.
— Não vai mesmo! — Disse Eliza se encostando ao ombro do marido.
Gusmão apaixonado por Milena cantava alegremente e a plenos pulmões:
— Moça do corpo do corpo dourado do sol de Ipanema, o seu balançado é mais que um poema, é a delegada mais linda que eu já vi passar... Ah, se ela soubesse que quando ela passa, o mundo inteirinho se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor...
E no total êxtase, no ápice do amor, eles terminaram a tarde daquele domingo. Observando ao longe o sol se esconder atrás do Cristo Redentor, um sol que parecia mergulhar nas calmas águas do oceano atlântico.

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