Um caso além da vida

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- O Alexandre não teve culpa na morte dos seus irmãos... - Dizia Alexandre puxando seus próprios cabelos. - Ele não teve culpa. NÃO. - Gritava.
- Senhor Alexandre? - Disse Wilson indo em direção à casa.
- Saia! Deixe-me... - Alexandre disse em tom severo ao ver a aproximação de Wilson.
- O senhor está bem? - Wilson perguntou e foi surpreendido por uma garrafa que foi lançada pela janela.
Wilson voltou para o seu carro e ficou tentando entender o que estava ocorrendo dentro daquela casa. Por mais que Alexandre fosse brusco com ele, não havia como não se preocupar. Alexandre foi a primeira pessoa a confiar nele.
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- Onde você pensa que vai? - Laura perguntou ao ver Beto indo em direção ao portão.
- Não aguento mais ficar preso. - Beto respondeu. - Vamo lá pra casa. - Laura disse. - Ainda tô preso. - Beto disse.
- Vem... - Laura o puxou e o levou até a casa.
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Wellington já tinha controlado o seu emocional e já conversava tranquilamente com Gusmão. Eles já estavam avistando o "casebre" de Breno e a estradinha de chão tinha deixado ambos cansados.
- Enfim chegamos! - Wellington disse ao descer do carro. - Ai, minhas costas. - Gusmão disse levando a mão às costas. - Espera... - Wellington sibilou. - O que foi? - Gusmão perguntou.
- Esses carros não estavam aqui quando saímos. - Wellington apontou para uma Pickup branca e um carro de passeio cinza estacionados próximo a eles.
Verdade. - Disse Gusmão empunhando um revólver.
- O Breno não pegou suas armas? - Wellington perguntou quase se esquecendo que corriam perigo.
- Só as oficiais. - Gusmão respondeu. - Agora venha. - Completou Gusmão já ao lado da porta da casa.
- Está aberta. - Disse Wellington quando girou a maçaneta de madeira. - Abra no três. - Gusmão ordenou. - Um, dois, três.
Gusmão adentrou e se surpreendeu.
- Calma Gusmão! - Breno gritou ao ver o revólver. - Abaixa a arma. - E esse pessoal? - Wellington também adentrou a casa.
- São amigos que eu quero que vocês conheçam. - Breno respondeu.
Gusmão guardou o revólver e Wellington se desculpou.
- Não tem problema. - Breno disse. - Eu me esqueci de avisar a vocês. Eles viram um homem robusto e outro, inversamente proporcional a ele.
- Esse é o Bolívar. - Breno apontou para o homem robusto de feições gélidas e sólidas. - O melhor lutador de artes marciais que conheço.
- Um prazer conhecê-lo. - Wellington disse, estendo-lhe a mão.
Foi retribuído, entretanto, a expressão de Bolívar demonstrava que o cumprimento havia acontecido a contragosto. Gusmão somente o observou.
- E esse... - Breno fez uma pausa e apontou com a cabeça. - É o Algoritmo, o melhor Hacker que conheço. Foi quem me ajudou a invadir o banco de dados do IML.
Wellington com seu jeito amigável cumprimentou-o e foi cumprimentado de volta por um sorriso raquítico, mas extremamente enérgico e solidário.
- Ainda está faltando a Lorrane. - Breno olhou para o seu relógio. - Não deve demorar.
Breno mal acabara de pronunciar tais palavras e eles ouviram um zunido vindo do lado de fora, mais precisamente na estradinha de acesso, era Lorrane. Mas, para a surpresa de Gusmão e Wellington, ela não era como o seu nome sugeria. O primeiro ponto foi o seu meio de transporte, uma R1 personalizada, responsável pelo barulho que eles ouviram. O segundo ponto era o modo de se vestir, estilo roqueiro, jaqueta de couro preta, luvas e botas cano longo.
Os cabelos dourados cintilavam, como eles observaram logo que ela retirou o capacete.
- Breno! - Ela exclamou com um grande sorriso. - Achei que não fosse mais me convidar para as suas festas.
- Lorrane... - Breno aproximou-se dela. - Quanto tempo!
- E como... - Ela parou de falar ao ver Bolívar. - Esse cara de novo? Suas festas não são mais as mesmas Breno...
- Ah, vamos, pare com isso Lorrane. - Breno dizia puxando Lorrane para perto do grupo.
Bolívar parecia incomodar Lorrane, no entanto, ele não demonstrava qualquer tipo de sentimento em relação a ela.
- Tenho que explicar algumas coisas antes começarmos a festa. - Disse Breno à Lorrane e também a Bolívar e Algorítimo.
"Festa?" Pensou Wellington, "Quem daria uma festa nesse momento?", ele não conseguia compreender o que levava Breno a ter levado aquelas pessoas até o seu esconderijo.
Breno narrou todos os acontecimentos que envolviam Gusmão e Wellington, desde o atentado até as mortes forjadas.
- Mortos vivos, gosto disso meninos... - Disse Lorrane.
- Não entendo o motivo de contar a eles. - Disse Wellington.
- Vocês estão mortos, não podem entrar aqui e alí sem que alguém os perceba. - Breno disse pacientemente. - Eu não conseguirei fazer tudo sozinho. Precisamos de uma equipe.
- É uma boa ideia. - Argumentou Gusmão, olhando fixamente para os amigos de Breno.
- Não vai demorar a anoitecer. - Bolívar se levantou. - Vou buscar os equipamentos no carro.
- Aproveitarei a deixa e pegarei os meus também... - Disse Algoritmo. -Então vocês vão à festa? - Perguntou Breno irônico.
- Nós não vamos te deixar na mão. - Bolívar disse já saindo pela porta.
- Eu não disse nada. - Lorrane ergueu aquele olhar de menina mimada, que era realmente o seu eu interior. - Não consigo ficar no mesmo lugar em que o Bolívar está.
- Depois de tudo que já enfrentamos Lorrane? - Breno perguntou tentando convencê- la.
- Eu fico. - Ela olhou para Gusmão e Wellington. - Porque você e seus amigos precisam da minha ajuda.
Os novos integrantes do grupo se instalaram rapidamente, todos queriam saber mais detalhes sobre toda aquela história que parecia ter saído de uma novela policial.
- Bem, Gusmão, tive um motivo especial para chamar a Lorrane. - Disse Breno.
- Diga-o. - Gusmão disse em tom sereno.
- Ela é legista do DH. - Breno observou o ligeiro sorriso de Gusmão.
- Você suspeita que o doutor Henrique... - Wellington foi interrompido por Breno.
- Não é isso Wellington... - Breno olhou para Gusmão. - Eu estou a par da morte daqueles presos e do advogado deles que morreu logo em seguida.
- Portanto? - Wellington perguntou ainda confuso.
- Vocês não acreditam mesmo que o advogado cometeu suicídio, não é? - Breno olhou de um para o outro.
- Nós vimos. - Começou Wellington. - A arma estava ao lado do corpo, o tiro foi disparado de baixo para cima de forma comum em suicídios.
- Vocês viram o que eles queriam que o primeiro a encontrar o corpo visse. - Breno disse um pouco ríspido.
- A senhorita deve estar aqui para nos tirar essa dúvida. - Disse Gusmão dirigindo a palavra a Lorrane.
- Sim... - Ela respondeu de forma delicada. - Eu fui chamada para aquela ocorrência.
- Notou algo de anormal? - Wellington perguntou ansioso.
- Na casa não... - Ela fez uma pausa. - Mas eu encontrei cianeto espalhado por todo corpo. Provavelmente ingeriu-o.
- Mas o que causou a morte? O disparo ou o veneno? - Gusmão apressou-se.
- O veneno. - Ela respondeu com o olhar pairando sobre Gusmão, parecia que era como se ela se lembrasse de como preenchera o laudo.
- Ele já estava morto quando eles simularam a cena de suicídio. - Gusmão falou pensativo. - Aposto que o seu laudo tenha sido modificado antes de ser publicado.
- Sim. - Ela o observou. - O que publicado e entregue a público consta que o óbito teria sido resultado da lesão perfurocontundente do disparo que ele mesmo empreendeu. Suicídio.
- E quem o adulterou? - Wellington perguntou com os olhos fixos em Lorrane.
- Não há como eu saber. - Ela disse. - Só fiquei sabendo que ele estava adulterado quando o Breno me pediu para averiguar melhor a morte daquele advogado.
- Temos um caso a resolver. - Disse Wellington de forma fria. - Temos que descobrir quem anda manejando cianeto de potássio por aí.
- Um caso além da vida. - Disse Gusmão com o olhar gélido como de costume.
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- O que houve Wilson. - O Chefe Supremo perguntou com o tom ligeiramente irritado. - Eu estava ocupado quando você pediu para que eu viesse até aqui.
- Desculpe-me senhor. - Wilson replicou. - Mas Alexandre parece não estar nada bem.
- Não me interrompeu só por isso, foi? - Perguntou indignado.
- Entre senhor e veja com seus próprios olhos. - Disse Wilson apavorado.
- Alexandre está aí dentro? - O Chefe Supremo gritava diante da porta trancada. - Abra essa porta.
- Você veio me matar! - Alexandre gritou de volta, sua voz era alta e vociferante. - Os Estados unidos não vão vencer a guerra, o Japão é poderoso.
- Mas de que diabos está falando. - O Chefe Supremo disse impaciente. - Arrombe essa porta Wilson.
A porta se abriu com um baque surdo. Outro baque surdo ocorreu quando Alexandre saltou sobre Wilson, como um tigre ataca sua presa. Alexandre estava imundo, com a camiseta em volta do rosto formando uma máscara. O Chefe Supremo empurrou Alexandre e ajudou Wilson a se levantar.
- Mas o que você está fazendo. - O Chefe Supremo teve que empurrar Alexandre novamente quando ele o atacou.
Alexandre caiu e se recostou na parede, os olhos vivos e seu ódio desapareceram, agora seus olhos apresentavam um aspecto neutro, quase morto.
- O que vocês estão fazendo aqui? Parem de gritar comigo! Parem.
- Está vendo? - Wilson falou ainda em choque. - Nem estamos gritando.
- Acho que não é com você que ele está falando. - Respondeu o chefe supremo. - Vamos embora.
- Mas e ele?
- Voltaremos amanhã. - Respondeu. - Veremos se ele terá melhoras.
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00h20min, casa de Laura, comunidade.
- A noite tá tão linda. - Disse Laura aos seus pais que faziam as contas de quanto faturaram na feira.
- Vai lá olhar pra ela e aproveite para parar de tagarelar. Já me perdi da conta... - Disse seu pai com impaciência.
Era o que Laura mais queria, conseguir ir para perto de Beto sem que ninguém desconfiasse.
- Beto? - Ela ouviu um barulho que vinha do portão. - É você?
Não houve resposta, mas agora o barulho era de passos eu pareciam se apressar em sua direção.
- Piadinha sem graça, Beto. - Laura disse ainda sentindo arrepios.
Os arrepios se intensificaram quando ela viu um vulto de um homem robusto correndo em sua direção e percebeu claramente que não era Beto. O vulto chagava mais perto e Laura estava tão perplexa que não conseguia mexer um único músculo, nem ao menos gritou.
As mãos do misterioso homem pareciam estar a ponto de chegar a Laura, quando, em meio às sombras da noite, Beto acertou a nuca do homem com um pedaço de madeira.
- Você tá bem morena? - Beto perguntou ofegante. - Sim... - Respondeu com a voz trêmula.
Beto se ajoelhou ao lado do homem e observou seu rosto. - Acha que ele tava atrás de você? - Laura perguntou.
- Não... - Beto respondeu pensativo. - Conheço ele aqui no morro. É um ladrãozinho qualquer.
- O que a gente faz? - Ela perguntou com as mãos à boca.
- Fale pra seus pais que você acertou ele. - Beto disse. - Depois ligue pra polícia. - E você? - Perguntou Laura.
- Vou ficar escondido no quartinho.
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A manhã daquele dia estava cálida, mas acolhedora. Wellington acordou as seis e deu de cara com Bolívar já acordado.
- Acorda cedo, não? - Perguntou Wellington.
- Eu não dormi. - Ele respondeu com seu jeito de poucos amigos.
Wellington saiu para contemplar a manhã e tentar se livrar da saudade que sentia de sua família. O "casebre" ficava em uma clareira, o lugar era calmo e transmitia uma sensação que Wellington identificou como paz. Porém, seu coração possuía muita dor e culpa para ele conseguir aproveitar aquela sensação.
- Não se culpe Wellington. - Gusmão disse observando-o.
- Não consigo. - Wellington respondeu virando-se para Gusmão.
- Nós vamos pegar eles. - Gusmão colocou a mão no ombro do amigo. - E quando isso acontecer, nós voltaremos para nossas famílias.
Breno chegou correndo até onde Gusmão e Wellington estavam. - Algoritmo descobriu algo. - Disse ele.
- Então vamos até lá ver o que é. - Wellington disse com a sua energia habitual.
Não demorou muito para que chegassem, encontraram Lorrane ao lado de Algoritmo que teclava freneticamente em frente ao seu computador.
- O que você descobriu Algoritmo? - Perguntou Breno.
- Explique para eles... - Ele pediu a Algoritmo que parecia não poder falar no momento.
- Ele conseguiu acessar as câmeras do DP. - Disse Lorrane. - E os microfones delas também.
- Muito bom! - Disse Wellington com um largo sorriso.
- E ainda tem mais. Ele descobriu que a polícia vai fazer uma operação em uma casa que nos chamou a atenção. - Continuou Lorrane.
- Por que chamou a atenção? - Perguntou Gusmão.
- É na comunidade ao pé do morro. E pelo que o Bolívar descobriu por suas fontes é a casa da namorada de...
- Alberto Gomes. - Interrompeu Gusmão. - O Araújo já havia nos falado dessa casa.
- O traficante que parece estar sendo perseguido pelo Red Eye.
- Nós temos que achá-lo primeiro. - Disse Wellington. - Ele deve saber de alguma coisa.
- Vocês terão que ser rápidos. - Disse Algoritmo. - Eles vão fazer a operação hoje. - Quem pediu a operação? - Perguntou Gusmão.
- Só um instante. Vou consultar os registros do DP. - Respondeu Algoritmo. - Parece que eles receberam uma denúncia anônima de que o Alberto estaria escondido lá.
- Claro... Aposto que o Araújo não sabe dessa operação. - Disse Gusmão.
- A operação está em segredo. - Respondeu Algoritmo. - Eles pediram agentes especiais que eu não consigo encontrar nenhum detalhe de suas vidas.
- Red Eye. - Disse Wellington com ódio na fala.
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Não era novidade o fato de o Chefe Supremo querer a cabeça de Beto, ele, além de estar constantemente estragando os planos do Red Eye, guarda um grande segredo. Tal segredo o fez chegar tão alto no Treta.
Há algum tempo atrás, ainda nos seus 18 anos, Beto conheceu Alexandre. Os dois estavam em uma boate em Ipanema. Uma briga começou e a polícia invadiu a festa, Alexandre estava armado e Beto o ajudava a se defender da briga quando a polícia chegou. Alexandre foi preso em flagrante por homicídio, ele atirara em um indivíduo que tentava ferir Beto com uma faca. Beto foi acusado de ser cúmplice no homicídio.
Os dois estavam esperando para serem interrogados. Uma coisa aconteceu e fez as coisas mudarem de panorama, Beto descobriu o segredo, não podia mais voltar para casa. A pedido de Alexandre, ele ainda teve duas escolhas, morrer ou entrar para o Red Eye. Não há dúvidas de que ele se tornou membro, não um membro qualquer, mas o algoz, o executor. Qualquer passo errado, ou a mínima menção do segredo o causariam morte na certa.
Mas Beto desconfiava que o Red Eye não fosse deixá-lo vivo por muito tempo, e Alexandre havia sido transferido para a fronteira, Beto ficou sem seu protetor. Em uma noite em que Beto recebeu ordens para matar o chefe do Treta, Méier, ele percebeu que tinha uma grande oportunidade nas mãos. Ele foi atrás de Méier, mas não para matá-lo, e sim para mostrar a importância que era tê-lo do mesmo lado. Foi assim que Beto chegou ao Treta, virou o pupilo de Méier, o protegido. No entanto, ele não se esqueceu do segredo e atualmente ele ainda tem seu trunfo contra o Red Eye.

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