Mortes no Departamento

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A madrugada estava prestes a ser invadida pelos primeiros raios de sol quando Wellington chegou a sua casa. Sua esposa Eliza o esperava com a preocupação de sempre, ela fica prostrada no balcão da cozinha olhando através da janela o movimento na rua, até que avista o gesto característico de seu marido ao abrir o portão. Ele procura em vários lugares antes de pegar realmente a chave, usa isso como uma medida de segurança. "Ninguém está lhe observando", é o que Eliza fala quando ele cita suas medidas de segurança.
Ao abrir a porta Wellington foi ao encontro da esposa.
- Tudo bem? - Perguntou Eliza, saudando seu marido com um beijo caloroso.
- Sim, e com você e a Priscila? - Disse depois de se desvencilhar apaixonadamente do beijo. - Aconteceu algo?
- Não. - Disse ela acariciando os cabelos do marido. - A Priscila está dormindo.
- Dormir é o que eu estou precisando. - Disse Wellington guardando a arma, o distintivo e as algemas em uma gaveta.
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Do outro lado da cidade, em uma boate, estava Gusmão com um copo de Wisky na mão e com duas garotas vinte anos mais novas que ele.
O Leblon é um ótimo lugar para se morar, quando você não tem uma quedinha por bebidas e noitadas, como é o caso de Gusmão. Ele não consegue ficar em casa numa noite normal.
- Ei Gusmão! - Era o seu amigo Breno lhe chamando.
- Breno! Vamos beber? Sente-se aqui. - Disse Gusmão feliz em ver o amigo que há certo tempo não via. - Vão meninas, me deixem conversar com Breno.
Breno se sentou ao lado de Gusmão com as costas voltadas para o balcão.
- Muito novas para você. Não acha? - Disse Breno com um sorriso desdenhoso.
- O que eu posso fazer se elas vivem por mim? - Disse ele com o copo ao alto, exaltando o wisky como se ele fosse uma divindade.
- Ah, - Disse Breno entre gargalhadas. - claro, como não pensei nisso antes? Será que sua grana não vale nada para elas?
Gusmão deu ombros já percebendo a emboscada que armou para si mesmo. A mudança de assunto era inevitável.
- Mas me fale, por onde andou nesses dias? - Perguntou Gusmão virando-se para seu amigo.
- Resolvendo o de sempre. - Ele disse.
A conversa durou toda a madrugada e só terminou quando Breno resolveu ir para casa.
Breno é um ex-militar, foi fuzileiro naval por alguns anos, mas resolveu mudar para o ramo da segurança privada. Gusmão é seu amigo de infância, e toda vez que aconteciam travessuras na rua onde moravam quando crianças, eles estavam envolvidos. A lealdade entre eles é tão grande quanto à lealdade entre Wellington e Gusmão.
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07h00min, Barraco do. Treta, no ponto mais alto do morro.

Lá estava Beto, circulando de um lado para o outro, verificando a qualidade da droga que seria embalada e logo levada para a boca de fumo na comunidade.
- Cuidado pra esses pacotes não vazar! - Gritava Beto com uma garota que não tinha mais que doze anos.
- Parece que deu problema lá na boca, tu tem que ir lá. - Disse um garoto, ainda sem fôlego, que acabara de chegar correndo. - Ordem do Méier.
- Assume aqui. Vou descer pra ver o que aconteceu. - Disse Beto pegando uma AK que estava encostada na parede.
Beto descia rápido, mas não satisfeito com sua velocidade, pegou um moto-táxi e em menos de cinco minutos estava no corredor, formado por casas, que levava a boca.
- Qual foi Juninho? Cê ta sangrando mermão. - Disse Beto correndo em direção ao homem baleado.
O homem estava com uma perfuração no abdômen, provavelmente um tiro de fuzil à queima roupa.
- Vem Juninho. - Disse Beto puxando o homem para fora da casa onde funcionava a boca. - Ei, Méier. - Gritava ao rádio que portava em seu bolso. - Juninho tá ferido, manda pessoal pra cá.
A situação de Juninho era crítica e Beto presumia o pior.
- Fala pra mim quem foi? - Perguntava Beto. - Foi os PM?
- Não...Foram... - Juninho tentou dizer lutando contra o sangue que invadia sua boca. - Red, Red... - Não conseguiu terminar a frase. Mas não precisava, Beto já escutara tudo que queria.
Méier enviou os homens que Beto solicitou, e ele, logo que o corpo de Juninho foi levado para o morro, começou a passar rádio para os pardais, como eram chamados seus informantes.
Beto recebeu informações de que um sedan preto de vidros escuros acabara de passar em direção a saída da comunidade. Beto montou uma das motocicletas que Méier havia enviado e deu ordens para que os homens o seguissem. A cobrança teria que ser efetuada, pois Beto não conhece o perdão.
As motocicletas pareciam um enxame zunindo nas ladeiras e curvas sinuosas da comunidade. Em direção ao centro, já se afastando da comunidade, eles avistaram o sedan com a placa descrita pelos pardais.
As motocicletas, em alta velocidade, cercaram o carro. Beto batia com um revólver nos vidros do carro, ordenando a parada. Entretanto, ele foi respondido a tiros que atravessaram os vidros e por pouco não o vitimaram. Nesse momento, um dos homens que acompanhavam Beto, aproveitando-se de ser o passageiro e, portanto, ter as mãos livres para empunhar a arma, disparou dezenas de vezes contra os pneus do carro que atravessou a pista e capotou no canteiro central.
Beto parou diante do carro, observando com certo cuidado para não ser surpreendido por uma rajada de tiros. Quando percebeu que ainda havia dois ocupantes vivos, ele não hesitou em disparar contra eles. Os tiros continham mais que pólvora, eles eram fruto do ódio, e não cessariam se ele não tivesse ouvido o som de sirenes.
Após verificar que não havia ninguém vivo, ele pegou todo o dinheiro que conseguiu encontrar e acelerou sua motocicleta rumo à comunidade, já avistando às suas costas as luzes do giro flex.
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Um caso além da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora