10 de Dezembro de 2010
Sexta-feira
11:50AM
10 minutos.
Tão pouco tempo para ficar liberta. Tão pouco tempo para, finalmente, nunca mais ver a cara desses imbecis que acham que vão ser alguém em algum futuro distante. E principalmente, nunca mais ver a cara de Madame Rose.
Vaca. Prostituta. Gorda. Estúpida. Invejosa.
Como odeio essa mulher. Sempre com sua voz simpática, mas com uma personalidade assustadora. Seus cabelos loiros precisam urgentemente de um cabelereiro, seu vestido cinza é tão antiquado quanto às roupas de minha bisavó e seus sapatos parecem que vão virar pó a qualquer momento. Ela é sempre bondosa com todos os alunos, exceto a mim. Sempre que seus olhos azuis me encaram, me causa arrepios. Ela odeia quando eu piso no seu calo e sabe que a vi transando com o diretor McSlish na sala da diretoria. Já tentou pedir a ele que me expulsasse da escola, mas sabia que eu mostraria a todos o vídeo dela com o diretor. Então, ela tenta apenas me ignorar. Mas ela faz de tudo para que eu vá mal à matéria dela. Álgebra. Tenho certeza que seria melhor se fosse com outro professor, exceto ela.
5 minutos.
Já estou com todos os materiais guardados exceto o papel da atividade, olhando para o relógio em cima do quadro, contando o tempo em que eu possa pegar tudo e ir embora. Mas então, ouço meu nome.
- Lara – Madame Rose me chama. Ela está com o livro aberto me olhando. Toda a sala se vira para olhar para mim. Ela sabe que eu sou tímida – Quer fazer o favor de nos contar o que escreveu na sua folha?
Assinto levemente com minha cabeça, me levanto devagar, pego minha folha e vou em direção ao quadro. Na frente de todos os alunos. Sozinha. Sem nenhum apoio. "É só você enrolar" penso "aí o sinal bate e você não precisará dizer nada". Quando viro em direção a todos os colegas de classe minha garganta aperta. Odeio apresentações. Odeio chamar atenção. Eu só queria desaparecer e pronto. Mas a puta da Madame Rose faz questão de me ver passar vergonha. Meu corpo começa a tremer. O chão aos meus pés parece que está girando e então ouço o que mais temo. Risadas. Milhares delas. As pessoas estão cochichando entre si e olhando para mim. E mais risadas.
Madame Rose volta a olhar para mim, com o seu sorriso mais estrondoso.
- Vamos querida. Não tenha vergonha. – diz ela com sua voz angelical. Naquele momento eu gostaria de pular na cara dela e arrancar aquele cabelo e descobrir que ela usa peruca. Ou apunhala-la e fazê-la quebrar alguma costela. Quem sabe ela morra e eu consiga escapar para a Groelândia antes de me pegarem? Meus pais nem ligariam mesmo.
Então, sinto meu rosto ficar úmido e uma lágrima escorrer. Começo a soluçar e, involuntariamente, largo o papel no chão. As risadas estão em alto e bom som a ponto de que toda a escola poder ouvir. Eu não aguento. Não posso suportar.
O sinal bate.
Vou correndo pegar minhas coisas e já saio da sala. Não posso mais. Não aguento ficar nem mais um segundo naquela escola fedida e imunda, ao lado de pessoas ridículas e professores babacas. Pego minha bicicleta e pedalo até chegar em casa. No percurso remoo tudo que eu vivi naquele ano, naquela escola, naquela vida. Ela estava ridícula até aquele ponto. Eu precisava reverter isso.
Chego em casa e vou direto para o meu quarto. Meus pais nem se movem quando a porta bate com força. Eles não tiram os olhos dos seus jornais ou celulares. Meus irmãos estão fora, então eles vão agir comigo como se eu fosse uma cliente. Que para eles, é o que eu sou. Jogo meu material em cima da cama e paro diante do espelho. Minhas maria-chiquinhas estão presas fortemente, meu cabelo ruivo ainda está alisado, meus grandes óculos estão tortos, meu aparelho limpo como sempre e o uniforme escolar impecável. Sempre odiei minha aparência, pois era sempre homogênea e repetitiva. Nunca soube como mudar. Não tenho senso de moda.
Desço as escadas para encontrar meus pais na mesma posição de antes. Fuzilo-os com o olhar, mas eles nem notam. Então vou para o único lugar em que me sinto realmente confortável na casa: a cozinha. Não por causa da comida, mas porque Mama Thorea sempre fica lá. Ela foi a que me cuidou desde os cinco anos de idade, quando meus pais disseram que eu não era filha deles. Ela me alimentou me ouviu e sempre me ajudou. Foi a mãe e o pai que eu nunca tive. Quando chego, ela está lavando o resto das louças que ainda estão na pia.
- Mama! – exclamo para ela, que se vira repentinamente desligando a água e largando o pano. Corro e me jogo em seus braços. Ela me prende e começa a me acariciar. – Eu não quero mais Mama, eu não aguento mais.
- Ah Lara! – ela suspira com um tom de dó. Ela sabe que eu não estava mais aguentando a escola desde o segundo semestre. – O que devemos fazer?
Eu sabia. A decisão que eu já vinha tomado há muito tempo. Que tirava meu sono a noite. Que poderia me ajudar na minha vida. A decisão que poderia mudar tudo. Eu sabia, não tinha medo de contar. Então, lutei contra a timidez e disse:
- Quero fazer um curso de sexologia, Mama!
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Lara Apaixonada...
Romance"Todas as histórias tem um final feliz" Uma menina tímida, considerada feia por muitos, franca e honesta e com uma estranha perspectiva do mundo. Lara Menezes decide que está na hora de correr atrás de seus sonhos e de uma história ent...