Capítulo 14 - Contando Verdades

29 6 0
                                    

22 de Março de 2015

Domingo

12:34AM


O sol queima minha pele apesar de todas as proteções que eu uso. Um xale preto, por mais antiquado que seja, por cima de uma blusa de manga comprida preta, uma saia preta que bate na altura dos tornozelos, botinas e um óculos escuro. Sim, eu estava me forçando a sair desta maneira de casa. Meus irmãos e meu pai estavam usando seus ternos lindos e caros e minha mãe estava usando um vestido preto comprido. Todos param para me observar quando eu chego no carro. Thomas e Rony começam a rir da minha aparência e meu pai faz uma cara de dúvida. Minha mãe me olha com o olhar torto.

- Posso saber por que você está indo assim, querida? – ela me questiona se aproximando de mim.

- Não quero chamar muita atenção – digo e é a verdade. Talvez se eu ficar feia as pessoas não me notem. Eu não quero viver nesse mundo, apenas no meu. Então não vou chamar muita atenção para mim mesma. Clara me encara por um longo tempo antes de dar seu veredito e voltar para uma conversa longa com Max. Rapidamente, eu entro no carro e sento no banco atrás do motorista. Rony chega e sento no meio enquanto conversa com Thomas que está na outra porta. Eu ponho meus fones de ouvido e começo a ouvir minhas músicas, me ilhando do resto da família. Eu tenho consciência de que meus pais conversam com Thomas e Rony, às vezes devem até perguntar para mim, mas percebem que estou com os fones e que não quero conversa. Eu observo a paisagem se alterar enquanto nos distanciamos de casa.

Estávamos indo para o enterro de um dos amigos do meu pai que sofreu um acidente ontem à tarde. O que eu tinha a ver com isso? Nada, mas meu pai insistia que toda a nossa família fosse ao enterro prestar nossos sentimentos. E é claro que ele e minha mãe vão soltar uma verba para a família. Só para mostrar que eles se importam e que sentem muito e blá blá blá. Muita falsidade para o meu gosto. Mas o problema é que faz uma semana que meus pais me assumiram como filha deles. Diversos repórteres me seguem fazendo diversas perguntas desnecessárias. Então, se eu desaparecer eles talvez parem de me preocupar.

Chegamos no velório e logo quando estacionamos muitos repórteres vêm em nossa direção. Meu pai tem que ligar o celular novamente e estacionar bem longe, quando ficamos fora de vista dos paparazzis. Quando ele para, todos respiramos fundo. Logo Clara está tirando seu cinto e saindo do carro. Rony e Thomas fazem o mesmo e, quando vou olhar para fora eles já estão em uma distância razoável. Mas Max ainda não saiu do carro.

- Não vai descer Lara? – ele olha para mim através do retrovisor. Seus olhos procuram algum vestígio no meu rosto de que eu esteja tramando algo. Sorrio para ele.

- É claro. Pode abrir o porta-malas, por favor? Deixei uma coisa lá dentro.

- Está certo. – ele se rede a abre o porta-malas com um botão no painel. Eu desço do carro e vou para o porta-malas, tirando uma bengala de lá. Quando eu fecho à traseira, Max desce e tranca o carro. Ele olha intrigado para a bengala na minha mão, mas não pergunta nada. – Você vem?

- Sim, eu vou. Só deixa eu me arrumar. Encontro vocês lá – digo e sorrio para ele. Ele retribui o sorriso e vai andando em direção ao velório. Eu começo a me arrumar e olho para o lado. Max já sumiu de vista. Começo a tirar minha roupa, atrás do carro é claro. Coloco um vestido preto que bate acima dos joelhos. Tiro o xale, a blusa e a saia e coloco dentro de uma sacola. Vou escondê-la debaixo do carro e depois eu tiro. Pego um véu preto e coloco sob meu rosto. Meu cabelo está preso em um coque e escondido abaixo do véu. Olho-me no retrovisor do carro. Eles não vão me reconhecer digo para mim mesma. Ajeito-me e sigo em direção ao velório, pela parte que ninguém vai. O beco. É um lugar bem escuro e parece que é noite, mesmo que seja dia, quando você anda nele. É um ótimo lugar para uma dama de preto, com um véu preto e sua cara invisível, passar num dia ensolarado como este. Meus braços estão expostos, e as cicatrizes dos meus cortes já desapareceram. Caminho pelo beco ouvindo alguns barulhos estranhos, mas sem interromper a minha caminhada. Eles não vão me machucar.

Lara Apaixonada...Onde histórias criam vida. Descubra agora