Capítulo 04

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- Saskia

A viagem de volta a casa foi mais uma vez feita em silêncio e eu juro que se não fosse o facto de passar música na rádio eu adormecia.

- Vives numa zona um pouco isolada e problemática. Não tens receio que um dia aconteça alguma coisa? - Perguntou provavelmente a tentar fazer conversa.

- Penso nisso diariamente, mas não é uma coisa que me assuste muito. - Respondi. Na verdade quando aluguei o apartamento estava um pouco desesperada para sair de casa da minha mãe, já não suportava mais o meu padrasto.

- Corajosa portanto. - Brincou, eu juro que não estou a reconhecer este homem!

- Talvez. 

- Bem estas entregue. - Afirmou parando o carro á entrada do meu prédio. 

- Muito obrigada e até segunda. - Disse saindo do carro e corri até à entrada do prédio. 

{...}

Depois de uma maratona e séries e um pote de gelado de framboesa, decidi pôr fim ao meu sábado e ir para a minha tão amada caminha. 

{...}

O som estridente da campainha não parava de tocar e eu relutante acabei por me levantar e ir ver quem era o Ser humano que não respeita o facto de eu ter ficado até ás quatro da manhã a ver séries e vem tocar à minha campainha às nove da manhã!

- Já vai!! - Gritei.

Abri a porta não muito preocupada pelo facto do meu pijama ser uns calções minúsculos e uma t-shirt de publicidade, mas logo a preocupação veio quando vi que era Ryan. 

- Bom dia, Saskia. - Disse olhando-me de cima a baixo deixando-me ainda mais desconfortável.

-  Bom dia, Ryan. Passasse alguma coisa? - Perguntei e eu juro que se houvesse um buraco para um enfiar por mais pequeno que ele fosse eu já não estava aqui. 

- Ontem deixou a mala no meu carro, e como podia fazer-te falta eu decidi vir. - Estendeu a mala que eu agarrei e "discretamente" coloquei á frente das minhas coxas. 

- Muito obrigada. Aceita um café? - Perguntei por mera simpatia na esperança de ele nega, mas como tenho um azar acima da média ele aceitou.

- Entre. - Desviei-me um pouco dando-lhe passagem para  ele entrar. Ryan analisou cada canto da minha sala barra cozinha com o olhar. - É pequena, mas acolhedora. 

Ele olhou para mim e sorriu ao de leve. 

- Fique á vontade, eu vou só trocar de roupa. - Ele olhou para mim de cima a baixo normal e caminhou até perto mim, engoli em seco.

- Estas bem assim. - Disse passando por mim e sentando-se num dos bancos altos da ilha na cozinha. 

Caminhei até junto do fogão um pouco insegura do que estava a fazer, mas deixei-me ir, comecei a preparar o café e coloquei algumas bolachas em cima da ilha para acompanhar o café. 

- Precisas de ajuda? - Perguntou.

- Não obrigada. - Coloquei o liquido em duas chávenas e depressa lhe entreguei uma delas.

-  Então o que é que costumas fazer aos fins de semana? - Perguntou acabado o silêncio irritante. 

- Nada de especial costumo ficar por aqui. - Respondi encolhendo os ombros. - E o senhor?

- Senhor é o meu pai, eu é só Ryan. - Ele riu-se ligeiramente. - Costumo adiantar algum trabalho, estar um pouco com os meus amigo, coisas assim do género.

- Okay. 

- Vives sozinha desde que idade?- Perguntou pegando numa bolacha.

- Mais ou menos desde dos dezoito anos.  - Sim, eu estava mesmo desesperada para sair de casa. 

Ele olhou para mim com alguma admiração.

- Desde dos dezoito? Vives sozinha à seis anos? Eu acho que a minha irmã não sobreviveria nem duas horas sem alguém para lhe fazer as coisas. - Surpreendeu-me o facto de ele ter falado daquela maneira da irmã, ele raramente fala da família. Começo a achar que o café estava fora de validade. 

- Do que estas a falar não tem nada a ver. Eu e tua irmã somos completamente diferentes, crescemos em lados opostos  da sociedade. - Respondi e arrependi-me logo do que me saiu pela boca assim que vi olhar que ele me lançou. 

- O queres dizer com isso? Não deves ser  nenhuma coitadinha. - Perguntou. Se já inventaram o batom feito de cola super três eu gostava de experimentar para ver se mantinha a boca calada!

- Eu não cresci no mesmo ambiente que tu e os teus irmãos, eu cresci em bairros problemáticos como este aqui, cresci entre discussões que se calhar nem tu nem os teus filhos vão ouvir,  o dinheiro que entrava em casa não chegava para tudo. - Fiz uma pausa e ele abriu a boca para falar mas eu interrompi-o. - Quando eu tinha onze anos os meus pais separam-se e eu fiquei com a minha mãe, ambos os meus pais casaram novamente e quando eu pensava que tudo ia melhorar, o homem com quem a minha mãe casou e ainda hoje é casada tratava-me a baixo de cão. Por isso eu não te admito nem a ti nem a ninguém que me compares com quem nunca teve de lutar pelas suas ambições.

Respirei fundo e tentei não encara-lo pois se bem sei uma das possíveis opções do que se segue é ser despedida.

- Peço-te que saias e obrigada por trazeres a mala. 

- Desculpa, não era minha intenção ofender-te. - Dirigiu se à porta e quando ouvi a porta bater sentei-me no chão e encostei a cabeça ao moveis  atrás de mim.

Ryan acabara de desenterrar a fase mais negra da minha vida.

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Dear BossOnde histórias criam vida. Descubra agora