– Por favor, não juntem o machado, ou a maldição cairá sobre vocês! Fui enviado em uma missão e faz parte dela destruir o machado. Devo levá-lo aos Druidas Supremos das Terras de Aká, para que seja destruído ou guardado sob algum encanto pois, durante milênios, ele tem sido a personificação do mal. Com vida própria, o artefato se apodera de seu usuário. Se vocês usarem o machado, se transformarão na criatura horrenda que acabamos de destruir – revelou seu segredo o druida.
– Vocês pensaram que eu não iria lembrar e que todos morreriam aqui sem misericórdia não é? – disse o ranger, fazendo referência ao espelho e às palavras no diário de Gordin. – Suas palavras fazem sentido druida. Para segurança de todos, acho melhor nos curarmos dos ferimentos e nos separarmos em dois grupos para levarmos o machado. Assim ninguém cai na tentação de juntar as duas partes do machado.
– Só depois de uma boa noite de sono, com todos os ferimentos curados e minhas magias memorizadas – respondeu Luke à Sombrak, enquanto se levantava com dificuldades.
– Pelo amor de Sombrahà, alguém sabe uma magia pra gente se curarmos mais rápido? – continuou Sombrak.
Alain, ao ver o estado lastimável de todos, fez mais uma proposta:
– Eu posso curar dois de vocês. Seus tolos, esqueceram que eu sou druida?
Os ferimentos de todos começavam a arder cada vez mais com o suor que escorria por eles. O grupo percebeu que estava esgotado, mas ali não era um bom lugar para ficarem. Não sabiam se, a qualquer momento, outro morto se levantaria de sua cova e outra batalha começaria. Quando alcançaram o lado de fora, eis que surgiu, no horizonte, o curandeiro da floresta em cima do cavalo branco que outrora havia sido do druida.
– Vocês tiveram uma batalha e tanto meus amigos. Agora posso contar a verdade sobre tudo que precisam saber – dizia Tarûk enquanto conjurava uma magia de cura, silenciosa, como paliativo para os ferimentos dos heróis.
Enquanto iam, calmamente, na direção do curandeiro da Floresta das Trevas, ele teve bastante tempo para esclarecer o grupo:
– O monstro que vocês acabaram de derrotar é o Lorde Siht, um dos cavaleiros malignos de Dort Veidegan, o necromante. Veidegan mandou um dos seus melhores homens para roubar o Machado de OX. E, é claro, teria conseguido, se não fosse o poder maligno do artefato, que corrompeu o seu pupilo, Siht, fazendo com que ele quisesse todo o poder para si. Após atravessar a floresta, Lorde Siht foi em busca do tesouro do dragão para saquear o covil e, com as riquezas, contratar mercenários para se virar contra seu mestre. Mas, após uma longa e dolorosa batalha contra Szar, ele foi derrotado e o machado se quebrou. Fugiu, então, com a lâmina e deixou o dragão com o cabo. Siht encontrou um refúgio, mas os ferimentos causados pelo dragão causaram sua morte. Entretanto, graças ao poder do machado, voltou como aquele morto-vivo que vocês enfrentaram.
Após uma breve pausa para respirar e coçar o queixo, Tarûk continuou com as revelações:
– Por isso, devemos descobrir o que fazer com este machado. Um item tão poderoso em mãos malignas seria catastrófico. Vocês devem levar o machado para Wasabi Von Konami na cidade de Palletti. Este sábio poderá nos dizer se devemos destruir o machado ou escondê-lo onde ninguém irá encontrá-lo novamente. Mas preciso saber se vocês aceitam esta missão, ou eu mesmo precisarei fazê-lo.
Bernàbares acordava no momento em que o curandeiro terminava. Ele se encontrava em cima do cavalo branco, sendo carregado e demonstrando que estava totalmente fora do ar. Sombrak abriu um sorriso e disse ao curandeiro:
– Demorou! Eu vou poder conhecer dois heróis de uma só vez. Bom, primeiro eu vou fazer o seguinte: vou pedir para o Wasabi Von Konami me ensinar algumas magias; talvez, eu ganhe uma espada de estungstenium enriquecido de plumbium que lança raios; depois, eu vou tentar conquistar a Misti, a filha dele, e não vá me dizer que ela não vai estar lá, porque eu sei que ela vai estar, e é por isso que eu vou nesta missão! Tô dentro, mas vai ter que rolar dim dim. Nós não estamos muito bem preparados para uma empreitada dessas. Você tem alguma arma mágica aí ou algumas poções para nos ajudar?
Luke e Alain assentiram com a cabeça e Bernàbares falou:
– Eu topo também! Porém, eu ainda não sei o quê. Acabei de acordar e o Sombrak veio com essa história mirabolante. Parece uma aventura! Ha-ha-ha!
Uma nova esperança estava surgindo para o povo da Floresta das Trevas. Finalmente, haviam encontrado um grupo de heróis corajosos e ignorantes o suficiente para andarem com um machado que carregava uma terrível maldição para longe dali e, assim, salvar a todos. Após um merecido descanso, na cabana do curandeiro, renovados, prepararam-se para partir. O velho curandeiro não tinha muito dinheiro e uma possível recompensa seria um tanto quanto difícil naquela altura, porém Tarûk os ajudou com o restante de seus ferimentos e fornecendo água e comida suficientes para a viagem. Quando suas mochilas já estavam arrumadas, o velho se aproximou dos heróis para dizer algumas últimas palavras:
– Tomem cuidado com a tentação do machado. Aconselho que nunca o usem e que continuem com ele dividido, deixando cada uma das partes com pessoas diferentes. Ainda, cuidado com Dort Veidegan, pois ele fará de tudo para pôr as mãos neste artefato. Só entreguem-no para Wasabi Von!
O curandeiro ainda entregou uma antiga espada, que possuía de suas épocas de aventureiro, como forma de agradecimento para o ranger e um bastão mais resistente para o mago. O bárbaro ganhou um equipamento de sobrevivência um pouco melhor que aquele que possuía: continha tochas, cordas, ganchos e tantas outras coisas que fizeram falta nessa aventura.
Com exceção do druida, todos já estavam prontos para a partida. A apatia de Alain instigou Bernàbares a ir na sua direção para lhe dar um sopapo e fazê-lo se apressar. Entretanto, seu amigo o surpreendeu com uma inusitada declaração:
– Decidi ficar aqui por enquanto para aprender melhores magias e técnicas de cura com Tarûk. Assim, poderei servir melhor a vocês no futuro, meus amigos! Além do mais, poderei alcançá-los rapidamente com a bela e rápida égua Egona.
E Tarûk completou:
– Sim. Descobri que o jovem druida tem grande potencial. Seu verdadeiro nome é Aslain, o rei de Gárnia. Como ele não falava muito, confundiram seu nome com Alain. Além disso, Gárnia é o nome élfico dado para as terras de Aká. Agora, está completamente curado de seus distrúrbios devido aos traumas que passou. Nunca mais escutará seu nome soar errado pelos ventos.
Bernàbares murchou e tentou fingir que havia um cisco em seu olho para esconder uma lágrima que escorreu por se separar de Aslain. Então, o bárbaro deu um forte abraço no druida. O mago e o ranger o cumprimentaram com um aperto de mãos e o último disse:
– Nos esbarramos por aí, druida!
Assim, os nobres e destemidos Luke, Bernàrbares e Sombrak pegaram o caminho para o norte e desapareceram no horizonte, acompanhados, de longe, pelos olhares de Aslain e Tarûk.
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CONTOS MAL-ACABADOS DE GASNAR: LIVRO 1 - A FLORESTA CLICHÊ DAS TREVAS
FantasyGasnar é um mundo de fantasia medieval como qualquer outro. Possui fadas, dragões, elfos e anões. Porém, apenas analisando as sagradas escrituras dos velhos sábios profetas antigos que já foram embora há muito tempo, mas em quem, até hoje, todos acr...