O anão-monge que protegia a entrada da caverna, realmente, havia desaparecido sem deixar vestígios. Ao olhar em frente, todos viam o caminho por onde vieram e, vagamente, a clareira que se dividia em quatro estradas. Como os heróis estavam perto da montanha e existiam poucas árvores naquele ponto, ainda era possível enxergar bem adiante naquela noite fria e clara. Mas, adentrando a floresta, o grupo percebeu que por sua escuridão natural durante o dia, era certo que eles cairiam no mesmo caso da caverna. Só que, agora, eles não tinham uma magia de infravisão para ajudá-los.
Aquela noite clara e estrelada indicava que Sombràh, deus das trevas e da noite, estava favorecendo e ajudando os heróis naquela busca. Talvez fosse devido ao elfo-negro que acompanhava o grupo e que fora batizado em sua homenagem. Muitos diziam que o deus da noite simpatizava com a raça dos cruéis elfos-negros, apesar de ser um deus de tendência neutra.
- Eu sugiro procurar um abrigo, ha! Um lugar seguro onde fiquemos todos juntos e possamos esperar passar a noite para prosseguirmos no caminho ao amanhecer - disse o bárbaro em seu momento de inteligência.
- Ninguém tem uma tocha? Que grupo relapso... - resmungou Luke, enquanto balançava a cabeça em sinal de reprovação.
Como o ranger precisava de descanso para recuperar as forças e todo o grupo estava um pouco cansado daquele duro, acharam melhor acatar a idéia do bárbaro e, assim, prepararam um rápido acampamento, acendendo uma pequena fogueira improvisada para esquentar naquela fria penumbra da floresta. Fizeram uma rápida refeição, comendo um resto da pouca comida que tinham e, finalmente, deitaram para dormir, ou pelo menos descansar ou olhos, pois era incrivelmente difícil dormir ali, tendo em mente os perigos que rondavam à noite na floresta. Mesmo sabendo que várias das histórias que eles escutavam não passavam de boatos para espantar as pessoas da floresta, eles já havia experimentado o quão perigosa aquela mata poderia ser.
Apesar de tudo, pouco a pouco todos foram caindo no sono, afinal, o cansaço era tanto que até mesmo o medo foi deixado de lado juntamente com a razão que faria com que os heróis se revezassem na guarda durante a noite.
Já havia se passado mais da metade da noite quando, de repente, o bárbaro escutou um barulho de galhos quebrando e acordou bruscamente. Ele olhou na direção de onde vieram os ruídos e viu vários pequenos humanóides verdes vindo em sua direção, nada amigáveis. Estavam camuflados, seguravam pequenas lanças e alguns ainda possuíam zarabatanas. Sem dúvida, eram os famigerados pigmeus da floresta das trevas, e Bernàbares já ouvira terríveis histórias sobre estas pequenas criaturas. Então, o bárbaro se levantou num só pulo e acordou o restante do pessoal que estava em condições de lutar, inclusive o mago, que imaginou que poderia se comunicar com os atacantes, ou pelo menos tentar se comunicar, afinal era o mais inteligente do grupo. Sacou seu machado de guerra e esperou com que os pequenos monstros tomassem a iniciativa, mesmo sabendo que poderia levar a pior.
A agitação acordou o ranger também. Ele estava se sentindo um pouco melhor, mas ainda estava bem fraco devido ao pouco descanso. Enquanto isso, o bárbaro era atacado por quatro dos pequenos monstros e, com uma balançada de seu machado, conseguiu subjugar dois deles, ferir outro, e espantar o último. Logo depois disso, sentiu uma leve picada na sua coxa esquerda e, quando averiguou o que lhe incomodou a perna, percebeu que era um dardo. Ainda havia mais ou menos dez pigmeus e eles estavam vindo com tudo que tinham na direção do grupo. Bernàbares deu um estridente grito bárbaro, brandindo seu machado e causando certo pavor nas pequenas criaturas. Entretanto, antes que pudesse fazer alguma coisa, uma forte luz brilhou no céu e um relâmpago caiu bem no centro de onde os pigmeus se encontravam, atingindo-os em cheio e acabando com quase todos. Ao olhar ao redor, Bernàbares viu o mago em pé em posição de ataque e com um sorriso no rosto. Aparentemente, ele havia conjurado aquela magia e, neste momento, já estava se preparando para lançar outra. Os poucos atacantes que restaram saíram correndo assim que viram o machado do bárbaro cortar um deles ao meio. Os pigmeus saíram de alcance e o mago teve que interromper sua magia.
Após o incidente com os atacantes noturnos, o druida apareceu bocejando sem saber o que havia acontecido. Olhou para todos e disse:
- Parem de ficar brincando aí e voltem a dormir!
Antes que o bárbaro pudesse falar alguma coisa, caiu desmaiado no chão. O ranger, ao examiná-lo, percebeu que aquele dardo preso na perna dele tinha um sonífero. No outro dia, ele estaria novo em folha, acalmando assim o resto do grupo:
- Não se preocupem, é apenas um potente sonífero. Irá ajudá-lo a dormir. - O ranger virou-se para o druida e continuou - Alain, onde está aquele seu tigre inseparável?
- Quando eu estava com a bela ninfa Marin Moonlight na clareira da floresta em meio à chuva, ela me contou sobre o dragão que estávamos prestes a enfrentar e, então, pedi que ela tomasse conta de meu tigre. De início, meu fiel animal resistiu, mas depois ele entendeu que não poderia pôr sua vida em risco. Além disso, alguém precisaria informar os outros caso eu falhasse. Então, ele seguiu com a ninfa - respondeu o druida.
- Acho que precisamos de alguém para vigiar nosso acampamento enquanto estivermos dormindo. Se essas criaturinhas voltarem, não serão tão descuidadas novamente.
De repente, Sombrak deu um alto assovio que assustou os outros. Será que o ranger estaria ficando louco? Pouco depois, a resposta veio: um grande lobo de cor escura surgiu da mata e se aproximou do grupo. O animal foi correndo em direção ao ranger e se postou ali, diante dele. Sombrak o acariciou, como se já fossem velhos conhecidos, e sussurrou para ele:
- Labba! Por favor, fique de vigia somente até que o sol nasça - enquanto acariciava a cabeça da companhia animal.
A loba saiu correndo dali e ficou à meia distância daquele local, montando guarda.
- Que animal é esse que só agora apareceu? - perguntou o mago com um ar de surpresa.
- Assim como o druida tem um tigre, eu tenho uma loba. Ela sempre anda por perto, mas não junto comigo, afinal de contas, ensinei as artes das sombras para ela e somente em momentos de verdadeira necessidade ou, então, ao meu chamado, ela aparece para me auxiliar - disse o ranger.
- Vocês são cheios de surpresas! E eu pensei que este seria apenas mais um grupo de busca como qualquer outro - acrescentou o mago meio-elfo.
- E aquele seu relâmpago maneirasso? Aquilo que é uma surpresa! - terminou Sombrak.
Assim eles começaram a dar risadas enquanto pegavam um manto para se cobrirem e continuar com o merecido descanso.
O resto da noite foi tranquila. Entretanto, por causa da adrenalina e da interrupção, o grupo acordou, na outra manhã, apenas parcialmente restaurado. Mesmo assim, decidiram por continuar com a árdua caminhada pela floresta. Afinal, não era de se esperar que uma noite na Floresta das Trevas tivesse sido diferente.
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CONTOS MAL-ACABADOS DE GASNAR: LIVRO 1 - A FLORESTA CLICHÊ DAS TREVAS
FantasiGasnar é um mundo de fantasia medieval como qualquer outro. Possui fadas, dragões, elfos e anões. Porém, apenas analisando as sagradas escrituras dos velhos sábios profetas antigos que já foram embora há muito tempo, mas em quem, até hoje, todos acr...