Capítulo 3 - A Floresta das Trevas

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Após saírem da cabana da velha bruxa, o grupo se dirigiu para a entrada da floresta. Abruptamente, perceberam a transição de ambiente: o que era mata aberta ia se fechando, até que não era mais possível enxergar nada acima das árvores. Até mesmo uma gigantesca montanha no meio da floresta havia desaparecido. Aos poucos, o dia se transformava em noite e o nome da floresta começava a fazer sentido. Afinal, naquela escuridão, nem parecia que ainda era manhã. O barulho tenebroso das árvores que pareciam vivas e de estranhos animais os assombrava, como espectros, à medida que adentravam, cada vez mais, por entre as árvores, numa pequena trilha. Finalmente, chegaram a uma bifurcação. O grupo de busca parou por uns instantes e ficou indeciso. De repente, Alain tomou uma iniciativa e pegou o caminho para a direita, sem sequer esperar os outros membros da comitiva, acompanhado, apenas, por seu fiel animal.

Luke, Sombrak, Bernàbares e Gordin se entreolharam e ficaram com uma expressão de dúvida. Não sabiam se deveriam seguir o druida ou não. Então, para acabar com o impasse, o mago retirou uma das poucas moedas que possuía de um bolso e disse:

- Vamos deixar que o acaso decida.

Bernàbares e Sombrak concordaram, porém Gordin tinha outro plano:

- Já que ele foi para direita, vocês vão para esquerda. Eu vou acompanhá-lo, para ter certeza de que ele não nos trairá depois. Além disso, poderemos explorar a floresta mais rapidamente ao nos dividirmos.

O grupo achou a ideia do anão mais interessante. Então, Luke guardou sua moeda e, junto com o ranger e o bárbaro, viu o pequeno Gordin pegar o caminho da direita, correndo em direção ao druida para alcancá-lo. Dentro de poucos segundos, a escuridão da floresta engoliu os dois, restando, aos três, pegarem o outro caminho.

Apesar de muito escura, a Floresta das Trevas permite uma fraca entrada de luz nela, mostrando-se nítido de que qualquer pessoa pudesse entrar lá durante o dia. Mas esta mesma luz deixa enxergar com muito pouco alcance. Seres que possuem visão noturna poderiam se adaptar bem melhor aí. Até aquele momento, esta floresta era como qualquer outra e o druida desconfiava que os boatos teriam sido espalhados por orcs e outros seres malignos que lá habitavam. Depois que a floresta passou a ser mais patrulhada, eles espalharam mentiras de histórias fantasiosas sobre espíritos maus da Floresta das Trevas que roubavam almas, e para isso eles tiveram a ajuda de alguns seres que não gostavam muito das companhias de homens abrindo estradas e passando com suas carroças sempre cheias de gente por ali. Mas, talvez, tudo isso seja apenas obra da imaginação deste jovem druida. Com o tempo, tudo se explicaria.

O anão Gordin já estava ficando de saco cheio do druida andar naquele ritmo acelerado e não esperá-lo. Afinal de contas, um anão não é muito bom nessas coisas de busca e caminhada pela mata. Em contrapartida, o tigre e o druida percorriam a floresta como se já a conhecessem há muito tempo. Andavam em silêncio pelo estreito caminho comunicando apenas o essencial através de gestos. Continuaram assim, um tanto quanto monotonamente, até que eles foram surpreendidos por um barulho de um cavalo relinchando e também de risadas maléficas. Entre as risadas, uma voz melodiosa, mas esbravejante, ecoou por entre a mata chegando até seus ouvidos, ao mesmo tempo em que os encantavam:

- Seus orcs imundos, não deixarei que levem Egona! Saiam desta floresta agora ou os espíritos da natureza transformarão vocês em escravos amaldiçoados!

- Não vai ser só esse cavalo idiota que iremos levar, ha-ha-ha-ha-ha! E não adianta: essas velhas histórias de fantasmas não nos assustam, ha-ha-ha-ha-ha! - respondeu e riu uma voz rouca.

Assim que o druida e o anão escutaram, apressaram o passo, tentando ser o mais discretos possível. Atravessaram uma pequena moita de faias verdejantes na direção das vozes e das risadas, até chegarem numa clareira da floresta. Lá, escondidos entre as árvores, eles puderam observar que uma linda ninfa, de pele branca como a neve e cabelos curtos e dourados, montava uma bela égua branca. Ela tinha orelhas levemente pontiagudas, sendo semelhante a uma elfa, porém sua beleza conseguia ser ainda mais intensa, quase que enfeitiçadora. Ainda, suas vestes eram bem naturais e não conseguiam impedir que suas curvas e dotes as delineassem. Viram que a ninfa tentava controlar seu animal, ao mesmo tempo em que desviava de várias lanças de seres humanóides grandes e de pele entre um tom esverdeado e magenta. As criaturas pareciam uma mistura de bárbaros com javalis: eram orcs, criaturas maléficas e sem escrúpulos, que vivem do prazer de maltratar suas vítimas. Havia oito deles cercando a pobre donzela da floresta com sua égua.

CONTOS MAL-ACABADOS DE GASNAR: LIVRO 1 - A FLORESTA CLICHÊ DAS TREVASOnde histórias criam vida. Descubra agora