Capítulo 13

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Enquanto caminhava em direção ao casarão principal onde repousava Al'kibah observei o local uma última vez, enxerguei espíritos sofredores, espíritos que não tinham mais esperança alguma, alguns olhavam para mim estranhando as vestes, a espada diferente que carregava na cintura, o velho quepe negro. Optei por não mais me esconder, queria acabar logo com aquela sensação de tristeza em meu peito, talvez eu estivesse me precipitando, mas já fazia tanto tempo que estava aguentando aquilo, não havia encontrado meus pais, porém, havia encontrado um povo sofrendo, sendo extorquido e escravizado dia e noite, sem condições alguma de se libertar, de serem eles mesmos, até mesmo aqueles que serviam de guarda, notei, pareciam abatidos e cansados, exerciam aquela função porque não tinham opção, ou cumpriam as ordens de Al'kibah ou viveriam como os outros, que pouco tinham para sobreviver.

A terra continuava seca e formando crostas de poeira que agitavam-se com meus passos firmes, minha capa negra pouco balançava, uma vez que o vento parecia não conseguir chegar até aquele local e o ar quente sufocava. Parei alguns segundos em frente a casa de dormir dos trabalhadores, vi mãe Joana, a velha negra de olhos doces e sorriso sincero, fazer um cumprimento com a cabeça a mim de forma discreta, sorri de volta a ela e retribui o cumprimento, continuei caminhando como se tudo estivesse normal até chegar em frente a base de Al'kibah.

--Boa tarde, Guardião. – Levei o antebraço ao peito com o punho fechado enquanto a outra mão era mantida atrás das costas, em sinal de respeito.

--Boa tarde, Emanuel. Está a procura do mestre? – ele repetiu o ato de respeito e cumprimento entre os guardiões, levou também o antebraço ao peito.

--Sim, é muito importante o que tenho para falar com ele. – voltei os braços para o lado do corpo, acreditando que não seria necessário intervenção física para chegar até o mago negro.

--Hum. – Ele arqueou a sobrancelha. – Talvez eu devesse anuncia-lo, sabe como é, o mestre não gosta de ser incomodado a esta hora.

--Não acho necessário, sabe que sou muito próximo a ele. É capaz de ele ficar mais irritado de você sair do seu posto do que me receber.

--É, mas é meu trabalho. Por falar em trabalho, guardião, não deveria estar no campo hoje? Se não me engano, de acordo com a escala, hoje era seu dia de cuidar dos vermes na colheita. – ele relaxou os ombros.

--Tem razão, mas hoje tive um compromisso de urgência e tive que me ausentar da cidadela. Farei questão de comunicar isso a ele, também. É algo grave o que testemunhei, tenho certeza que ele ficará grato por eu ter me ausentado depois do que eu lhe disser. – sorri para o guardião, tentando convencer-lhe de algo.

--Então é melhor se apressar. – ele apenas meneou a cabeça e voltou a sua pose seca e dura, como um soldadinho de chumbo em frente a porta.

--Obrigado guardião, tenha uma boa tarde. – passei por ele e caminhei em direção a escada que levava ao andar superior.

Ao chegar em frente a porta da sala de Al'kibah bati algumas vezes esperando por sua resposta, nada ouvi. Abri vagarosamente a maçaneta e observei o interior, não havia ninguém, apenas o sol entrando através da grande janela atrás de sua mesa. Dei alguns passos para dentro da sala, era uma pena ele não estar ali, aquilo atrasaria meus planos, portanto, decidi espera-lo. A estante cheia de livros ao lado direito me chamava muita a atenção desde o primeiro dia que pisara naquela sala, eram livros, manuais, grimórios de feitiçaria raros, retirei um deles, de capa dura dourada, era muito bonito, mas eu sabia que em seu interior haviam feitiços negros, abri-o em uma página aleatória e espremi os lábios ao ver alguns símbolos, que prefiro não comentar, com descrições de sacrifícios hediondos com a função de transformar espíritos em monstruosidades, era a cara de Al'kibah aquilo ali. Devolvi o livro a estante o fui até sua mesa, era extremamente organizada e limpa, uma pena em tinteiro, não, não era tinta que havia no tinteiro, era sangue, um diário triste de folhas amareladas sem nada escrito, uma "obra de arte" em forma de serpente com os olhos...aqueles olhos furta-cor que metiam medo só de fita-los.

Exu Maré - O Guardião dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora