04 - Renascimento

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Voltamos para o reino de Ana. O lugar era enorme, sua entrada era formada por um portal de água corrente dentro do mar, seu caminho era de areia e dividia o oceano ao meio. Na parte de cima do portal havia uma placa de metal prateado com a escrita "Reino das Sete Ondas". Conforme entrávamos na cidadela marinha, podíamos ver várias casas azuis lado a lado, de cada lado da ruela de areia, mais a frente havia uma construção redonda de cor negra com linhas feitas de pedras azuis como se fossem ondas rodeando toda a construção.

--Guardiã Sete Ondas, como é possível uma cidade como esta dentro do mar? - eu perguntei a Ana, boquiaberto com a visão ao meu redor.

--Este é um dos reinos Sete Ondas. Aqui trabalham guardiões e guardiãs de nossa falange, todos aqui são chamados de Sete Ondas.

--Mas, então, como é possível vocês se reconhecerem se todos utilizam o mesmo nome? -parei de caminhar e cruzei os braços, não porque não concordava com aquilo, mas porque não conseguia achar lógica em não ser diferenciado de outro qualquer que ali residia.

--Guardião Sete Ondas, somos como uma grande família unida pelo mesmo objetivo. Quando fazemos parte de uma falange de guardiões não importa quem fomos ou o que fizemos em vida, somos todos iguais em espírito e estamos trabalhando desta forma para que nossas ações sejam reconhecidas e não nossas almas. A alma é como um espelho de cada vida que tivemos e nosso espírito é uma vida, emanação única de Deus, nossa evolução não se da pelo que fomos e sim pelo que fazemos. Todos nós conseguimos nos reconhecer por nossas auras, roupagem espiritual e cargos aqui dentro.

--Então, se existem cargos também existem diferenciações.

--Entenda que o cargo existe apenas para uma organização e não para demonstração de poder e superioridade. Isso você entenderá conforme sua vivência no astral, meu irmão. Agora vamos até a central, vou lhe mostrar uma coisa.

Caminhamos até a estrutura redonda no centro da cidade. Adentramos por uma grande porta dupla, o local era ainda mais belo do que eu imaginava. No chão havia um círculo desenhado que brilhava suavemente, dentro do circulo, um desenho formava um tridente curvo que se dividia em mais dois tridentes e na sua base três linhas curvas.

--O que significa este desenho ali no centro? - senti vontade de me aproximar, mas, me mantive ao lado de Ana. Não sabia o que poderia ou não fazer ali dentro ainda.

--Este o ponto de energia Sete Ondas. Cada um de nós possui uma assinatura, que é nosso ponto energético. Conforme suas ações, você recebe formas que utiliza no seu ponto e dele emana uma energia própria sua. É como uma assinatura, pode ser um ponto básico como este que protege o local ou pode ser um ponto mais complexo, se você conquistar mais experiência e aprendizado. Nós trabalhamos sobre a regência de Iemanjá, por isso, nossa assinatura possui este desenho como base.

--Entendo, isso é muito interessante. Nunca imaginei que o astral pudesse ser tão completo desta forma.

--Estamos constantemente aprendendo, irmão Sete Ondas. Bom, eu preciso avisar que irei lhe acompanhar em viagem. Aguarde aqui enquanto falo com a Guardiã chefe, logo estarei de volta. - Ana sorriu e seguiu em direção a um círculo azul que brilhava intensamente, em poucos segundos ela foi transportada dali para algum outro lugar.

Quando saímos da base central, Ana me levou até sua casa. Era uma das casas azuis em uma das muitas travessas ao redor da base. A casa era simples, possuía uma sala, cozinha, quarto, lembrava muito uma casa material bem decorada. Passamos o restante do dia conversando sobre o funcionamento do plano astral. Ana me indicou um quarto para descansar e então me vi sozinho desde que havia acordado como espírito. Em uma das paredes havia um grande espelho que ia do teto ao chão, fui até ele e me visualizei, eu estava mal cuidado, o cabelo desgrenhado, uma barba comprida, pela minha imagem certamente me dariam muito mais idade do que eu sentia ter ou que eu tinha antes de desencarnar. Fechei os olhos e lembrei da minha forma jovem, como eu era quando tinha muitas possibilidades na vida, quando eu ainda não tinha acabado com a vida de tantas pessoas. Senti minha energia me envolvendo como uma luz forte, mas, que não era visível. Abri os olhos novamente e minha forma era exatamente como havia lembrado, não devia ter mais do que trinta anos, minha pele estava bonita novamente, a barba perfeitamente aparada e respeitosa, meu olhos continuavam azuis, mas, brilhavam como os olhos de alguém feliz e esperançoso, agora vestia uma camisa preta combinando com a calça e trajava um quepe, também preto, com uma âncora pequena de metal adornando-o. Estava renovado, me sentia pronto para iniciar minha jornada naquele plano.

Exu Maré - O Guardião dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora