Capitulo 8

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A luz do dia lembrava uma manhã ensolarada na base Sete Ondas, para onde havíamos retornado depois do resgate do meu irmão. Embora eu tivesse muitas coisas a falar com meu irmão, muitos abraços a dar e muitas alegrias a compartilhar, Samuel  não pode ficar muito tempo comigo, logo que chegamos ele foi levado ao Hospital mais próximo. Lá no hospital, os doutores poderiam cura-lo, liberta-lo das amarras energéticas que ainda estavam grudadas em seu corpo e também ensina-lo sobre sua vida, sobre a liberdade que tinha agora, era fato que depois de tanto tempo escravizado sua mente estivesse um pouco desalinhada com a realidade. Mas o importante era que agora ele estava sendo devidamente tratado e em breve eu poderia partilhar com ele a alegria de te-lo novamente em minha vida.


Meu mestre Veludo havia chegado e ido diretamente para uma capela que a base possuía, disse que precisava orar, que a oração era uma atividade que ele desempenhava constantemente e a viagem havia sido cansativa demais, por isso, agora ele tinha tempo e tranquilidade para realiza-la, não me importei, inclusive, guardei na memória a lição para começar a desempenha-la também, mais tarde.


Entrei em casa e vi que a Guardiã Sete Ondas encontrava-se na cozinha, que era conjunta com a sala e totalmente visível a quem entrasse, aquele era um modelo padrão de casas na base. Olhei para a guardiã  e sorri, encostei de ombro no lado direito no arco da porta e cruzei os braços e pernas, me permiti admira-la por algum tempo, ela cantava lindamente, sua voz era firme, porém, doce. Enquanto ela cortava alimentos parecidos com os que usávamos em vida, como vegetais e legumes, me veio a memória uma cena nossa em vida, a primeira vez que nos vimos. Ana e eu nos conhecemos em um porto, ela trabalhava como faxineira  de navios, eu havia acabado de atracar o navio no cais, ela veio até mim e ofereceu os serviços para deixar o navio mais limpo e lavar minhas roupas. Eu aceitei. Era impossível não aceitar, mesmo trabalhando em lugar como aquele, cheio de homens brutos, cheiro ruim, o exaustivo trabalho de faxinar aqueles barcos, e lá estava ela, sorrindo lindamente, seus cabelos negros e lisos amarrados a um rabo-de-cavalo, usava um vestido marrom, bastante simples. Naquele dia, antes de ela ir embora, eu a convidei para ficar no navio. Não fizemos nada além de conversar, tomar vinho e dar muitas risadas. Ana era um sol em meio aquela escuridão, eu me apaixonei por ela naquele mesmo dia.


Quando percebi que a guardiã olhou para trás, com aquele mesmo sorriso de tanto anos atrás, ainda em vida, minhas lembranças se apagaram e retirei meu quepe, curvei-me em respeito e sorri para ela também, levei o quepe ao peito e entrei na casa, caminhei diretamente para ela, como se tivéssemos combinado, ou como se devêssemos fazer aquilo, Sete Ondas abriu os braços e eu a abracei, abaixei a cabeça em seu ombro e respirei fundo, Sete Ondas correu as mãos carinhosamente em minhas costas, de um lado para o outro. Não precisávamos conversar, ficar ali, daquela forma, nos abraçando e nos amando de forma silenciosa, já bastava para eu ser feliz.


Quando finalmente conseguimos nos soltar, Sete Ondas volta a cozinhar e eu fico parado, agora com as mãos para trás do corpo.


—E então, como foi de viagem, Guardião Sete Ondas? – Ana falou, preocupada em demorar no corte dos alimentos.  


—Foi incrível. O mestre Veludo é um exemplo para mim, eu o adoro. Nós encontramos  a fazendo de Pai João da Mata, Mãe Maria Redonda e Maria do Laço, eles são espíritos de muita luz. Depois, encontramos a base do feiticeiro que aprisionou meu irmão...eu não sabia que estávamos indo até ele, mas Deus me levou até o lugar e eu pude reparar um erro, me libertar de um a parte do passado que me assombrava. Nós conseguimos traze-lo para cá, já foi encaminhado para o hospital. Eu queria tanto ficar ao0 lado dele neste momento.

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