Capítulo 14

2.2K 86 55
                                    

Partimos para Reino Sete Ondas em uma longa viagem. Não pudemos abrir portais, pois, haviam muitos espíritos que estavam debilitados e seria custoso faze-los gastar mais energia desta forma. Mãe Joana nos acompanhava com mais destreza do que a maioria dos resgatados, apesar de ter sido tão escravizada quanto todos os outros, a velha parecia ter uma força muito grande. Meu pai caminhava mais afastado, auxiliado por dois guardiões. Mestre Veludo me acompanhava sem falar nada, esperando que expressasse tudo que havia sentido e pensado nos últimos tempos, e foi o que resolvi fazer.

--Você demorou. Eu achei que havia me enviado para uma emboscada...foi isto que eu achei.

--Acha que eu o enviaria para uma emboscada para ter o trabalho de ir resgata-lo? Não é o que fazemos meu amigo. Você foi enviado para aprender, para se redimir e principalmente para encontra-los. – Veludo falou com sua voz suave, porém, séria.

--Eles não estavam lá. Eu quase me perdi novamente, quase perdi minhas esperanças...

--Não. Você aprendeu a baixar sua frequência quando necessário. Você não os encontrou, é verdade. Mas, como me contou, você encontrou uma mãe representante de Oxum que necessitava do seu auxílio, não foi?

--Isso é verdade, mas eu não estava em busca dela. Estava em busca dois meus pais e eles não estavam lá.

--Não seja egoísta guardião Sete Ondas, você os encontrou, afinal. – Veludo baixou as sobrancelhas para mim, como se quisesse finalizar aquele ponto da conversa ali.

--Está certo, me perdoe mestre. – abaixei a cabeça, envergonhado, mas, ainda me sentia fraco, inútil.

--Guardião Sete Ondas, me escute. As vezes a Lei Divina atua da forma que precisamos e não a forma que achamos justa. Você resgatou muitos espíritos sofredores, você resgatou uma representante de mãe Oxum, você resgatou Mãe Joana, sua mãe, que estava presa a muito tempo e, caso não saiba, é uma antiga trabalhadora da ceara espiritual. Seu pai também está conosco agora. Aquele mago negro foi derrotado graças a sua intervenção, aqueles soldados que os serviam agora irão participar de nossa falange, serão soldados a favor do bem. Qual parte você não entendeu quando eu disse cumpriu sua missão com êxito? – ele apenas sorriu e vomitou todas aquelas afirmações para cima de mim, a mais pura verdade e eu precisava ouvi-las.

Continuamos nossa viagem em paz até o Reino Sete Ondas, chegando lá, todos os espíritos resgatados foram divididos em agrupamentos e levados para locais diferentes, meus pais foram levados para uma colônia espiritual chamada Vila da Caridade, habitada por pais velhos trabalhadores da emanação de Omulu, o senhor da terra sagrada. Nos despedimos demoradamente, também o mestre Veludo e a irmã Maria Molambo. Depois, voltei para casa, ainda pensativo nas palavras do mestre.

Quantas vezes nos pegamos pensando sobre o que poderíamos ter feito diferente? Ter agido de forma mais coerente? Simplesmente por querer saber como nossa vida estaria se tivesse tomado o outro curso, outro caminho, aquela outra ramificação do destino escrito pela Lei Divina ou aquela outra carta do tarot? Eu olhava pela vidro já janela, chovia, é estranho pensar no mundo espiritual sujeito a mudanças climáticas. Chovia. Sete Ondas havia me dito que as vezes aquilo tornava-se necessário em função da limpeza energética que a água é capaz de fazer, os guardiões que ali moravam e trabalhavam todos os dias lidavam com energias nocivas, caóticas, trevosas e etc.

Chovia para limpar o Reino das Sete Ondas, fiquei um tempo observando aquela chuva, mas na verdade, eu estava lembrando do meu passado, vi meus pais se acabando, definhando em tristeza, meu irmão morrendo por minha causa, vi Ana grávida chorando minha ausência e criando um belo menino dentro de suas possibilidades quase nulas na época. Meus lábios expressaram um sorriso de canto ao ver a imagem do menino brincando com uma pequena espada de madeira, ele saberia lidar com a vida, ele saberia cuidar da mãe, e daria tudo de si para ser um grande homem, os erros que ele cometera em vida não estavam sendo julgados por mim, eu não poderia fazer isso. Não. Naquele momento eu tinha que refletir sobre os meus erros. Lembrei de um homem vagando sozinho no mar, somente ele e seu navio. Envolvimento com gente suspeita? Sim. Roubo? Sim. Amores levianos, cabarés e pose de Bon Vivant? Com certeza.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Feb 27, 2016 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Exu Maré - O Guardião dos MaresOnde histórias criam vida. Descubra agora