Capítulo 3

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A casa ainda é a mesma onde estive durante onze anos da minha vida. Ainda é a mesma que aparece sempre em meus sonhos, não mudou absolutamente nada. A decoração de madeira, os dois sofás branco e verde no canto na sala, entre eles um tapete e uma mesinha com o mesmo vaso orquídea vermelha, o abajur ao lado do sofá, a lareira de canto que eu adorava ficar sentada em frente vendo o fogo queimar a madeira, o quadro na parede que meu pai pintou para minha mãe, a grande TV que assistíamos a programação juntos e no canto vazio no chão, um notebook antigo e alguns livros que eu deixei quando estava estudando no dia do meu aniversário de 11 anos. É como se o tempo não tivesse passado.

A saudade me corrói. Eu sinto falta daqui, sinto falta dos meus pais, sinto falta de uma vida normal e feliz. Só queria que por um descuido da vida, tudo pelo que eu passei fosse somente um pesadelo e logo eu acordasse com minha mãe me chamando para ir a escola e dizendo que o meu pai já estava pronto para ir ao trabalho mas estava esperando um abraço meu.

-Eu admiro sua força. -Coe diz ao surgir na sala. Ela caminha até o sofá e senta, depois começa a mexer na orquídea vermelha.

-Depois de tudo, você ainda se mantém em pé, intacta, fingindo que nada a abala.

Eu a encaro séria.

-Eu sei sobre os seus pensamentos, e as vezes me pergunto "Como essa garota não fica louca?" A sua mente é cheia de pergunta sem respostas, é milagroso você passar por tudo isso, qualquer humano comum teria perdido a sanidade.

-Eu não quero falar sobre mim. Me conheço muito bem.

-Eu sei que sim. -Coe sorri- Então me conte suas teorias.

-Teorias?

-Sim, teorias. -Ela inclina o corpo para frente e sorri com os lábios unidos- O que você acha que seus pais eram?

-Humanos?

-Alicia, não queira mentir para mim. -Coe encosta o corpo no sofá e desfaz o sorriso- Eu sei que você sabe.

-Certo. -Caminho até o outro sofá e me sento- Sônia chamou o meu pai de humano e deu a entender que minha mãe era algo além disso.

-Ah, você reencontrou Sônia. -Coe fala fingindo estar surpresa. Eu a encaro com os olhos semicerrados.

-Falaremos sobre ela depois. -Meu tom de voz se torna autoritário- Voltemos aos meus pais.

-Claro. -Ela diz com um leve sorriso de canto de boca- Suas teorias estão certas.

-Então se minha mãe não era humana, o que ela era?

Coe ficou me olhando em silêncio, depois olhou para a orquídea e novamente para mim.

-Carolyn, Cassandra, Sônia e Alexandra as gêmeas que você conhece como assassinas dos seus pais e claramente eu, somos de uma espécie diferente das que você conhece. Porém nós temos nossas diferenças.

-Me dê a definição. -Peço com uma voz calma.

-Alicia, você é crédula?

-Se eu tenho facilidade em acreditar em algo? -Arqueio as sobrancelhas- Talvez.

-Acredita em coisas surreais? -Pausa- Como essas coisas fictícias que acontecem em filmes e em livros?

-Coe, você me deu provas de ser surreal, eu sou obrigada a acreditar.

Ela sorri.

-Talvez o que eu tenha a dizer, te deixe um pouco confusa.

-A minha vida é confusa há algum tempo. Só me diga de qual espécie você está falando.

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