A casa ainda é a mesma onde estive durante onze anos da minha vida. Ainda é a mesma que aparece sempre em meus sonhos, não mudou absolutamente nada. A decoração de madeira, os dois sofás branco e verde no canto na sala, entre eles um tapete e uma mesinha com o mesmo vaso orquídea vermelha, o abajur ao lado do sofá, a lareira de canto que eu adorava ficar sentada em frente vendo o fogo queimar a madeira, o quadro na parede que meu pai pintou para minha mãe, a grande TV que assistíamos a programação juntos e no canto vazio no chão, um notebook antigo e alguns livros que eu deixei quando estava estudando no dia do meu aniversário de 11 anos. É como se o tempo não tivesse passado.
A saudade me corrói. Eu sinto falta daqui, sinto falta dos meus pais, sinto falta de uma vida normal e feliz. Só queria que por um descuido da vida, tudo pelo que eu passei fosse somente um pesadelo e logo eu acordasse com minha mãe me chamando para ir a escola e dizendo que o meu pai já estava pronto para ir ao trabalho mas estava esperando um abraço meu.
-Eu admiro sua força. -Coe diz ao surgir na sala. Ela caminha até o sofá e senta, depois começa a mexer na orquídea vermelha.
-Depois de tudo, você ainda se mantém em pé, intacta, fingindo que nada a abala.
Eu a encaro séria.
-Eu sei sobre os seus pensamentos, e as vezes me pergunto "Como essa garota não fica louca?" A sua mente é cheia de pergunta sem respostas, é milagroso você passar por tudo isso, qualquer humano comum teria perdido a sanidade.
-Eu não quero falar sobre mim. Me conheço muito bem.
-Eu sei que sim. -Coe sorri- Então me conte suas teorias.
-Teorias?
-Sim, teorias. -Ela inclina o corpo para frente e sorri com os lábios unidos- O que você acha que seus pais eram?
-Humanos?
-Alicia, não queira mentir para mim. -Coe encosta o corpo no sofá e desfaz o sorriso- Eu sei que você sabe.
-Certo. -Caminho até o outro sofá e me sento- Sônia chamou o meu pai de humano e deu a entender que minha mãe era algo além disso.
-Ah, você reencontrou Sônia. -Coe fala fingindo estar surpresa. Eu a encaro com os olhos semicerrados.
-Falaremos sobre ela depois. -Meu tom de voz se torna autoritário- Voltemos aos meus pais.
-Claro. -Ela diz com um leve sorriso de canto de boca- Suas teorias estão certas.
-Então se minha mãe não era humana, o que ela era?
Coe ficou me olhando em silêncio, depois olhou para a orquídea e novamente para mim.
-Carolyn, Cassandra, Sônia e Alexandra as gêmeas que você conhece como assassinas dos seus pais e claramente eu, somos de uma espécie diferente das que você conhece. Porém nós temos nossas diferenças.
-Me dê a definição. -Peço com uma voz calma.
-Alicia, você é crédula?
-Se eu tenho facilidade em acreditar em algo? -Arqueio as sobrancelhas- Talvez.
-Acredita em coisas surreais? -Pausa- Como essas coisas fictícias que acontecem em filmes e em livros?
-Coe, você me deu provas de ser surreal, eu sou obrigada a acreditar.
Ela sorri.
-Talvez o que eu tenha a dizer, te deixe um pouco confusa.
-A minha vida é confusa há algum tempo. Só me diga de qual espécie você está falando.
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Além da compreensão
خيال (فانتازيا)Após passar a vida inteira sendo atormentada por um acontecimento da sua infância, Alicia Young decide aceitar um acordo com Cassandra Welin, uma mulher com poderes sobrenaturais que promete a garota respostas a todas as seus enigmas em troca dos se...