Capítulo 18

104 13 1
                                    

Quando acordo, o mundo volta aos poucos, me lembro lentamente da discussão com Cassandra e de como ela me arremessou na parede sem ter controle do seu poder. Com os olhos semicerrados, fito a escuridão do quarto e meus olhos encontraram os dela, verdes esmeraldas marcantes. Cassandra está encostada na parede perto da janela aberta que trás a brisa fria da noite, ela está fitando a mim com uma expressão de tortura que eu jamais tinha visto em seu rosto, ela está sofrendo. Tudo que eu quis foi atravessar o quarto e ir até ela, abraça - lá e dizer que tudo irá ficar bem, mas, quando tento fazer isso meu corpo lateja, os ossos da minha clavícula e perna esquerda parecem querer atravessar a minha pele, a dor é torturante, uma pontada na nuca vem logo depois, minha cabeça parece vidro estilhaçado perfurando o meu crânio, meu peito começa a latejar como se eu estivesse sendo esmagada por uma tonelada de ferro e meu corpo que só tinha se distanciado alguns centímetros da cama, cai sem forças novamente.

-Mas que diabos foi isso? -Cassandra atravessou o quarto correndo. -Você está bem?

-Não. -Eu consegui balbuciar. -Brayan... Chame - o.

-Mas ele já veio aqui, disse que tinha curado você! -As mãos nervosas dela percorrem o meu corpo, como se quisesse afastar a dor de mim.

-Eu não me sinto nem um pouco curada. -Eu gemi, a dor lacivante em todo o meu corpo se acalmou, um pouco.

-Me desculpa, eu não quis fazer isso com você, eu juro. -Ela choramingou.

-Eu sei. -Murmurei. Outra pontada na cabeça, eu gemi.

-Vou chamar o Brayan. -Ela correu para fora do quarto me deixando sozinha com minha dor. Fecho meus olhos e tento fugir dela.

-Alicia.

Ouço uma palavra sendo sussurada de um jeito confuso e vago, como um grito embaixo d'água. Demoro um instante para perceber que alguém disse meu nome, e mais alguns instantes para distinguir a dona da voz. Mas isso não é possível, eu estou alucinando. É a voz da minha mãe.

-Você tem que lutar, Alicia. Eu estou aqui, você não está sozinha.

Abro meus olhos com dificuldade, um gemido involuntário escapa da minha garganta.

-Eu estou lutando. -Digo, reunindo todas as minhas forças que sobraram.

-Você está chorando. -Diz ela. Não consigo vê-la.

Em outro lugar, em outro tempo, ela viria até mim, me abraçaria e enxugaria as lágrimas do meu rosto.

-Eu não tinha percebido. -Sussurro e viro o meu rosto, o escondendo.

-Você ainda é aquela criança. -A voz sorri. -Lembra que quando se machucava e voltava chorando para casa, sempre escondia o rosto para que eu não visse as lágrimas?

-Lembro. -Choraminguei.

-Eu sempre soube que você achava que lágrimas são sinônimo de fraqueza, mas não são. Significa que está doendo, qualquer um se machuca. É normal se machucar, faz parte da vida. -A voz sorri.

-Eu sinto tanto a sua falta. -Eu murmuro. Meu peito se aperta e eu não consigo respirar, mas isso é apenas a dor que sinto por não ter mais ela aqui.

-Eu sei, filha. -A voz dela se torna ainda mais gentil.

-Porque você está aqui? -Minha voz é baixa e sonolenta.

-Porque eu sempre estou com você, querida.

-Eu vou morrer? -Murmurei. -É isso?

-Não, claro que não. -A voz responde no escuro. -Você quebrou a perna e a Clavícula também, há algo de errado com a sua cabeça por causa da batida, mas você não irá morrer. É necessário muito mais que isso para matar você, querida. Você é mais forte do que imagina.

Além da compreensãoOnde histórias criam vida. Descubra agora