Capítulo 24

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Meu Deus o que eu estava fazendo da minha vida? Se isso o que eu estava fazendo era mesmo viver? O Homem que eu mais amava na vida, que passou sua vida toda se dedicando a mim e a minha família, aquele que me deu seu sobrenome e que me aceitou como filho mesmo não sendo de sangue, Dr. Olavo Vieira Souto estava internado em um hospital e a culpa era toda minha. Eu não tinha coragem de olhar nos olhos tristes da minha mãe, estávamos há mais ou menos duas horas na recepção daquele hospital aguardando noticias sobre o estado de saúde do meu pai. Abaixei minha cabeça e toda a cena de mais cedo voltava como flash em minha cabeça. Eu lembro de ter entrado no quarto do Diego e toda aquela revolta estava de volta. Meus irmãos estavam mortos e a culpa era deles! Fui até a sala, eu sabia que estavam lá, eu precisava gritar, eu precisava puni-los! Minhas pernas quase não me obedeciam, eu estava bêbado, muito bêbado! Foda-se! Foi aí que vi minha imagem refletida na TV, aquele cara não era eu! Eu não era gordinho daquela forma! Meu cabelo estava enorme e aquela barba? Não pensei duas vezes, joguei a tv no chão fazendo quebrar bem no meio da tela. Aquilo me trouxe uma satisfação enorme, então sai quebrando tudo o que via pela frente. Espelho, porta-retratos, quadros, a mesa de centro... eu estava descontrolado. Até que ouço uma voz gritar comigo "Bernardo que porra é essa?" eu parei e vi aqueles dois parados me olhando completamente aterrorizados, então sorri cinicamente para eles "Olha aí a mamãe e o papai do ano! Grandes exemplos de pais!". Minha mãe vem até a mim e pela primeira na vez na vida senti meu rosto queimar com um tapa. "Respeita seu pai e sua mãe Bernardo! Olha só o que você está fazendo da vida", aquilo me irritou de tal forma que segurei minha mãe pelo braço e comecei a berrar "Vida? Eu não tenho vida desde que meus irmãos morreram e a culpa é de vocês, principalmente desse cara aí que nem filho deveria ter! A mãe do Diego tem razão, a culpa é toda de vocês!". Nisso meu pai me empurra me fazendo cair no sofá, ele estava vermelho e seu semblante era de raiva "Cala a boca seu mimado de merda! Você não sabe na..." eu estava pronto para partir pra cima dele, mas ele para colocando as mãos no coração, como se não conseguisse respirar. Meu Deus Pai!!! "Familiares de Olavo Vieira Souto" aquela voz me tira daqueles pensamentos, eu e minha mãe levantamos prontamente. "Sim sou a esposa dele! Ele está bem doutor??? Meu marido está bem???" o médico assente com a cabeça "O paciente passa bem e está fora de perigo, foi um começo de infarto, mas conseguimos controlar, precisamos fazer mais alguns exames com o paciente, mas a pior parte já passou". Uma onda de alívio me pega naquele momento, minha mãe me abraça forte sorrindo. "Doutor ele já pode receber visitas?" ela indaga com os olhos vermelhos de tanto chorar. "Vamos transferir ele de quarto e logo poderá receber visitas! Só que o paciente não para de chamar por Bernardo. É com ele que ele quer falar primeiro..." Um frio na barriga, uma sensação horrível de vergonha, misturada com arrependimento me pegou naquele momento, minha vontade era de correr dali... mudar de nome, tirar aquela barba horrível... simplesmente sumir... Mas eu precisava consertar aquilo, aquele era meu pai e eu precisava naquele instante deixar de ser um garoto mimado e começar a ser um homem de verdade.

Se isso é um pesadelo, me acorda pelo amor de Deus!

Quase desmaiei quando meu pai falou aquilo! A cor fugiu do meu rosto... Minhas pernas amoleceram, comecei a tremer feito vara verde! Aquilo não poderia estar acontecendo não daquela forma! Ai meu Deus vou desmaiar!

- Cla-cla-claro que não pai! – meu coração batia tão rápido, as palavras teimavam em querer sair – Que ideia absurda! Vamos lá para a sala, tem uns presentes...

- Bernardo! Ideia absurda? – meu pai me olhava fixamente com aqueles olhos verdes, Dr. Olavo começou a andar de um lado para o outro, como se estivesse num tribunal, aquela batalha já estava perdida! – Absurdo é depois de vinte anos você tentar mentir pra mim!

- Pai... Não é isso que o senhor está pensando! – Tentei ir em direção a ele mas ele se sentou a mesa e fez um movimento com a cabeça para que eu me sentasse também – Pai... O Rafael é apenas meu amigo! Pelo amor de Deus!

Dois Príncipes e uma História.Onde histórias criam vida. Descubra agora