Quase uma semana tinha se passado e estávamos nos adaptando muito bem a nossa nova casa. A cidade, aliás, estava se provando cada vez mais certa e até o momento nenhuma de nós tinha apresentado alguma prova do contrário.Mamãe e eu nos tornamos muito abertas uma com a outra a medida que fui crescendo, afinal, como ela mesma dizia, ela era minha melhor amiga. Era ela que estava sempre presente, que me entendia e que estava sempre pronta para me dar conselhos e ter uma "conversa de meninas". Eu amava nosso relacionamento e pretendia que nada, como segredos, o atrapalhasse, por isso, dividíamos até as coisas mais bobas.
E ainda que quiséssemos esconder algo -- o que não fazíamos a não ser que houvesse um grande motivo. --, conhecíamos bem demais uma a outra.
-- Como vai a escola, filha? -- perguntou ao passar-me um prato.
Sequei-o com cuidado e o empilhei sobre outros três.
-- Bem. -- falei de bom humor. -- Ótima, na verdade. Estou adorando. Ah, antes que eu me esqueça, a Aline perguntou se eu podia passar a noite na casa dela depois de amanhã. Temos um trabalho de artes que gostaríamos de adiantar.
Aline era uma garota baixinha de cabelos e olhos castanhos que eu tinha conhecido logo depois de fazer a caminhada da vergonha na sala de aula, por ter chegado atrasada, chamando a atenção de todos. Sentei-me ao lado dela, que se provou uma garota super simpática. Nossa amizade foi a mais rápida e fácil que fiz na vida.
Mamãe fingiu pensar, apoiando uma mão na pia e pondo um dedo no queixo, sujando o rosto com espuma no processo. Abri um pequeno sorriso.
-- Eu não seu. Ela tem irmãos?
-- Dois pestinhas mais novos. -- eu disse. -- Palavras dela, não minhas. Por quê?
-- Ah, não sei. -- franziu a testa. -- Mas acho que não gosto muito da ideia de minha filha adolescente cheia de hormônios numa casa com adolescentes do gênero masculino mais cheios de hormônios ainda. A noite. -- frisou. -- Nada contra você namorar, querida, mas não quero ser avó tão cedo. Bom, não sem antes conhecer o pai da possível criança.
-- Mãe! -- exclamei com o rosto corado. -- Não fala besteira!
-- O quê? É verdade. Mas já que não tem perigo, é claro que você pode. -- voltou a mergulhar as mãos na água da pia e começou a lavar os talheres. -- Me fala, tem garotos bonitos no seu colégio, não tem? -- perguntou sorrindo.
Mordi o lábio.
-- É, tem sim. -- peguei os pratos secos e fui em direção ao armário, guardá-los.
-- Algum em especial? -- seu tom era enganosamente inocente.
-- Eu não sei. -- admiti. -- Mas tem um cara que... meio que me chamou atenção.
Mais do que pelo fato de eu literalmente ter quase me jogado em cima dele. Não foi proposital, tá certo, mas a partir daí passei a prestar mais atenção por onde ando.
-- Como ele é?
-- Bem inteligente. E gentil. E bonito. E popular. E...
-- Entendi, o carinha é tudo de bom e você está caidinha por ele. -- meu rosto carou ainda mais.
Voltei para perto dela, jogando sobre o ombro o pano de prato que segurava.
-- É, ele meio que é. Mas nós não conversamos muito ainda para eu ter uma ideia concreta sobre ele. Vamos ver se isso vai dar em alguma coisa.
Claro que eu tinha falado com Guilherme novamente desde a primeira vez que nos vimos, mas não foi nada além de conversas triviais e sem muito importância, além de curtas. Descobri que ele é o presidente do grêmeo do colégio -- por isso estava bem acupado já que as aulas tinham acabado de começar. -- e que ele tem uma boa relação com o pessoal da diretoria. Como mencionei antes, ele é bem gentil e como todo garoto bonito e popular que se prese, é desejado por muitas. Segundo Aline, as poucas garotas que já tiveram o previlégio de sair com ele, sempre disseram que ele era um cavalheiro.
Guilherme estava cada vez mais parecendo uma espécie de sonho, ou ao menos todos faziam questão de passar essa imagem sobre ele. No entanto, o modo como ele aje não nega.
-- Agora é sua vez. -- falei apoiando a cintura contra a pia. -- Notei que anda mais contente que o normal esse dias. -- apontei para ela. -- Me conte o que aconteceu, dona Cassandra. Eu exijo.
Seu sorriso maroto refletia o meu.
-- Eu já ia te contar mesmo. Faça um pouco de pipoca para nós. Vamos assistir a um filme e ter uma noite de garotas.
♡♡♡
Sentei-me confortavelmente sobre o sofá, com as pernas cobertas por uma colcha quentinha e uma tigela de pipoca amanteigada sobre o colo, enquanto mamãe colocava o filme "Lizzie Mcguire - Um Sonho Popstar" para assistirmos pela vigésima nona vez.
Após fazer a escolha no menu para dar início ao filme, ela apagou as luzes e entrou debaixo da colcha também, aconchegando-se pertinho de mim e da tigela de pipoca.
Lizzie escolhia sua roupa para a formatura dançando e cantando loucamente pelo quarto, mal sabendo que era filmada pelo pestinha do irmão, quando mamãe disse:
-- Tem um cara que... meio que me chamou atenção.
Arregalei os olhos.
-- O quê?!
-- Ele é bem inteligente. -- continuou. -- E gentil. E bonito...
Percebi o que ela estava fazendo e bati repetidamente num de seus braços, com uma almofada enquanto ela ria.
-- Tá bom, agora é sério! -- ela disse tentando agarrar a almofada. Parei apenas porque percebi que estava deixando nossa pipoca cair no sofá. -- Eu não queria te contar antes pra não te dar esperanças nem nada, mas é verdade, eu conheci mesmo alguém.
Lizzie caiu na banheira no exato instante em que eu gritei e abracei mamãe.
-- Mãe, isso é ótimo!
-- Millena, você derrubou toda a pipoca no chão. Eu não vou limpar isso. -- ela disse retribuindo meu abraço.
-- Como? Quando você o conheceu? -- perguntei me afastando. -- Não, me diga primeiro como foi que esse cara conseguiu realizar o milagre de te fazer entrar em um relacionamento. Meu Deus, ele deve ser um santo!
-- Ele quer te conhecer. -- sorriu tímida. -- Foi tão rápido, mas eu realmente gosto dele e... acho que é sério.
Eu sorria feito uma criança. Isso era um passo muito importante para mim e para mamãe, significava que ela estava deixando o passado para trás.
-- Eu já amo esse cara. -- falei.
-- Espere para amá-lo ainda mais. Ele nos convidou para almoçar amanhã.
-- Amanhã?! -- exclamei. -- Ai, meu Deus!
Levantei rápido do sofá, desliguei o aparelho de DVD, a televisão e corri para acender as luzes.
-- Levante-se daí agora, dona Cassandra! -- ordenei cruzando os braços. Ela me olhava com curiosidade -- Vamos escolher uma roupa perfeita pra você usar amanhã. Tem que estar ainda mais linda para deixá-lo apaixonado de tal modo que nunca te deixe ir embora.
-- Você é uma exagerada. -- ela disse, mas parecia estar animada.
Peguei-a pela mão e a puxei em direção as escadas. Eu realmente amo essa cidade.
☆☆☆
Hey! No próximo capítulo a Milly vai descobrir que o namorado da mãe dela é o pai do Guilherme.
Como vocês acham que Millena irá reagir?
Deixe aí seu comentário e estrelinha.
Beijos.
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Amizade (Im)perfeita
Teen FictionCapa Feita Por: @reirvival - Revival Covers Um trauma marcou a infância de Millena e consequentemente deixou sua mãe com receio de assumir um novo relacionamento. Assim que elas se mudam para uma nova cidade, Milly conhece Guilherme, por quem rapida...