O Namorado da Mamãe - Part.2

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-- Vou ser breve -- disse ficando de pé em frente a ele. -- Minha mãe te contou tudo que aconteceu, não foi?

Nesse instante o olhar de insegurança mudou para algo que se assemelhava a compreensão.

-- Sim -- me encarava com intensidade agora.

-- Presumo que você saiba que isso deva ficar entre nós. É um Segredo de Estado para qualquer pessoa que eu não conheça ou que mamãe não confia. Se ela te contou é porque confia em você.

-- Estou ciente disso -- ele não me olhou com pena e isso deu mais alguns pontinhos a ele.

-- O que aconteceu a traumatizou muito e durante todos esses anos de lá pra cá ela não assumiu qualquer relacionamento. Você foi rápido e inesperado na vida dela. Se sinta especial por isso.

Dessa vez quem me analisava era ele.

-- Eu estou apaixonado por Cassandra, Millena. Sinto orgulho por ela ter me escolhido.

-- É assim que se fala -- sorri. -- Contanto que você não se prove um psicopata maldito no futuro e acabe a machucando de algum modo, estamos bem. Se machucá-la eu te caço até no inferno. Seja bem-vindo a família.

Abri os braços e como a pessoa educada que era, Lúcio levantou e recebeu meu abraço.

-- O que eu não entendo -- ele disse quando nos afastamos. -- é como você pode tocar nesse assunto como se não fosse a vítima e sua mãe fosse a única atingida.

Olhei para os meus pés.

-- Eu não consigo viver no passado, Lúcio.

E esse foi o momento que mamãe escolheu para descer. É claro que ela estava ouvindo tudo e escolheu o melhor momento para interferir, eu sabia.

-- Vamos? -- ela perguntou erguendo a minha bolsa.

E cortando qualquer resquício de estranheza naquela sala.

♡♡♡

A ida até a casa de Lúcio não demorou muito, constatei, quando ele parou o carro de frente a ela. Tinha sido uma viagem agradável, conversamos sobre nossos interesses e ele fez questão de me perguntar o que eu estava planejando para a faculdade. O namorado de mamãe era do tipo de pessoa firme que não precisa se muito para fazer os outros se sentirem confortáveis na sua presença e quase me senti culpada por tê-lo deixado desconfortável de propósito. Quase. Não tocamos de novo naquele assunto e se dependesse de nós, não tocaríamos mais.

A casa dele era bem bonita; divergindo completamente do estilo da nossa que era mais simples de propósito, a dele trazia um visual moderno, com janelas do chão ao teto e portas de vidro na fachada. A cor branca dava um ar de ainda mais leveza e o pequeno jardim da frente era lindo por si só.

-- Deixei o meu filho mais velho preparando o almoço. Ele já estava terminando quando saí. -- comentou abrindo a porta de sua casa e nos convidando a entrar. A decoração de sua casa também era perfeita, num visual contemporânea, mas confortável e acolhedor. Ele segurava a mão de mamãe sempre que padia e isso era simplesmente... fofo. -- E se recusou a aceitar minha ajuda. Disse que se eu cozinhasse ia acabar afujentando vocês. -- completou com uma risada leve.

Lancei um olhar para mamãe e ela riu, provavelmente lembrando da conversa que tivemos antes.

-- Filhos! -- Lúcio chamou nos levando para um cômodo que imaginei ser a cozinha.

-- Descendo! -- outra voz gritou fazendo Lúcio parar e nos levar de volta a sala.

Bem no exato momento em que seus filhos estavam descendo do primeiro andar. O mais velho, que obviamente tinha sido o que havia gritado e um garotinho de uns oito anos. Mamãe estava toda sorrisos, feliz por conhecê-los, mas eu só conseguia pensar na impossibilidade de tudo aquilo.

Porque o filho mais velho era Guilherme. Droga.

Ele parou aos pés da escada quando me notou e seus olhos ficaram presos em mim. Vi pela visão periférica o sorriso de mamãe desaparecer, ela devia ter visto a minha expressão de choque. Ótimo, o garoto que por acaso eu estava gostando era filho do namorado dela. Isso só pode ser uma alucinação de muito mau gosto. E como que para confirmar que não, ele tinha que quebrar o silêncio. Ele tinha que dizer:

-- Milly?

E eu só podia pensar uma vez e outra: "Que azar".

Amizade (Im)perfeitaOnde histórias criam vida. Descubra agora