Falta de Confiança

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-- Ah -- disse mamãe com um sorriso que poderia se encaixar entre confusão e surpresa. -- Quer dizer que vocês já se conhecem?

Guilherme ainda estava parado no lugar e para falar a verdade, eu também, mas não permaneci assim por muito tempo.

Esse era o momento em que eu tinha que contrariar várias coisas que eu disse sobre mim e mamãe. Nós conhecemos sim uma a outra muito bem. Sabemos dizer quando a outra esconde ou mente sobre algo. Exceto em momentos como esse. O momento em que eu lhe mostro um sorriso que ensaiei por anos, o sorriso que diz que mesmo que eu esteja rasgada por dentro, ou apenas chateada como é o caso agora, nada disso transparece por fora. É o sorriso que eu odeio. É uma mentira.

Mas, ainda assim, eu sorri. Porque foi o sorriso que criei para protegê-la.

-- O Guilherme é o presidente do grêmio lá do colégio, mãe -- falei com animação forçada, mas é claro que ela parecia assim apenas para mim. -- Isso foi realmente uma grande surpresa.

Ela riu.

-- Isso é ótimo, Guilherme -- disse a ele. -- Que coincidência, não?

-- Realmente -- ele respondeu, gentilmente. -- Uma grande coincidência.

♡♡♡

Juliano, o filho mais novo de Lúcio me encarava do outro lado da mesa, sapeca. Eu tinha notado que ele estava me olhando enquanto comia a macarronada que Guilherme tinha feito -- alegando que seu pai era um desastre na cozinha. -- e tinha começado uma competição de olhares. Estávamos assim a um bom tempo já, sem conseguir conter o sorriso nos lábios, mas com lágrimas se formando nos olhos. Todo mundo tinha se calado na mesa e eu sentia seus olhos em nós, mesmo que estivesse completamente focada no pequenino a minha frente.

-- Meu Deus, são duas crianças -- disse Guilherme como se fosse rir.

Os olhos de Juliano se estreitaram um pouquinho.

-- Millena é muito competitiva -- falou mamãe muito calmamente. -- Ela não se importa se fizer papel de criança enquanto estiver tentando ganhar algo.

-- Eu aposto no meu filho -- Lúcio não hesitou em dizer.

-- Eu não acho que... -- mamãe foi interrompida quando Juliano e eu piscamos e erguemos a mãos ao mesmo tempo, esfregando os olhos que estavam ardendo. -- Empate -- ela concluiu.

-- Fala sério -- eu disse fechando os olhos com força e voltando a abri-los. --, vocês que estão apostando e nós é que somos as crianças?

Lúcio sorriu e deu de ombros. Seus olhos brilhavam de um jeito travesso, o mesmo olhar que seu filho mais novo tinha herdado.

O som de música chegou baixinho até o cômodo e rapidamente a reconheci.

-- É o meu celular. Vocês se encomodariam se eu fosse atender? -- perguntei em tom de desculpas e olhei para mamãe. -- É o toque do Roberto.

Ela franziu a testa delicadamente e olhou para Lúcio.

-- Claro que não -- ele disse. -- Pode ir.

Limpei a minha boca em um guardanapo e levantei.

Sentei no sofá e peguei minha bolsa, vasculhando-a rapidamente. Peguei meu celular e atendi.

-- Tio?

-- Millena -- ele disse com seu jeito sério. -- Está tudo bem?

-- Claro, eu é que pergunto. É um pouco incomum o senhor ligar nesse horário.

-- Não se preocupe, está tudo bem. Eu só perguntei antes porque sua mãe me pediu uma coisa essa semana e eu achei um pouco estranho.

-- O que ela pediu? -- perguntei curiosa.

-- Pra investigar a vida de um tal de Lúcio Albuquerke. Você conhece?

-- Ah, não -- falei batendo a mão na testa. -- Me diz que está brincando.

-- Não, não estou -- falou sinceramente. -- Por quê? Quem é o cara?

-- É o namorado dela -- respondi.

-- O quê? Namorado? -- ele parecia animado agora. -- É sério?

-- É sim. Também fiquei muito animada, mas não achei que ela fosse chegar ao ponto de te mandar investigá-lo, mas já que chegou... E aí, devo me preocupar?

-- Nem um pouco. Já enviei os relatórios pro e-mail dela. Lúcio é apenas um bom professor de universidade que não tem nada a esconder.

-- Isso é ótimo -- falei. -- Agora, se não se importa, eu preciso desligar. Estamos no meio de um almoço na casa dele.

-- Já estão nessa fase? -- se impressionou. -- Tudo bem, desligue, mas nós vamos conversar depois, mocinha.

-- Um beijo, tio -- me despedi e desliguei.

Voltei para a cozinha a passos lentos e ao me sentar de volta a mesa, apoiei meu rosto em uma mão, peguei meu copo de suco com a outra e o balancei de leve em movimentos circulares, vendo o líquido girando dentro. Pensamentos estavam em conflito na minha mente me fazendo entrar em desânimo.

-- Milly? -- a voz de Guilherme me tirou de meus pensamentos e notei de repente que era alvo do olhar de todos na mesa, o que não deveria ser surpresa para mim já que era a única a agir de forma estranha.

-- O que o Roberto queria, filha? -- mamãe perguntou preocupada.

Lancei-lhe um olhar triste, por agora ela saber que ela tinha ainda menos confiança no próprio julgamento do que eu imaginava e respondi:

-- Tenho certeza de que a senhora já sabe.

Ela desviou os olhos dos meus e fitou Lúcio por um momento.

-- Millena, não precisa se preocupar -- ele disse. -- Cassandra já me contou.

Olhei para ele surpresa. Menos mal. Mas isso não queria dizer que o que ela tinha feito era totalmente certo.

-- Que bom -- falei tentando abrir um sorriso. -- Mas me desculpem por ter que me retirar da mesa novamente. Eu perdi a fome.

O olhar de compreensão de Lúcio foi meu único consolo antes de sair novamente. Eu não quis encontrar o de mais ninguém, muito menos o de mamãe, porque tinha certeza de que se olhasse para ela, veria culpa.

☆☆☆

Acreditam que eu acabei dormindo de novo enquanto estava escrevendo o capítulo no celular? É por isso que estou aqui hoje, eu nem queria entrar no Wattpad, mas estavam devendo a vocês, então, esse foi o capítulo. Pode ter sido meio confuso, mas vocês vão entender depois.

Gostou? Que tal um votinho? E se quiser expressar sua opinião ou teorias, é sempre bem-vinda(o).

Um beijo, amores
Até o próximo!

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